Sargento Aline, primeira mulher a servir no Pelotão de Bombeiros Militar de Caratinga, fala sobre os desafios e conquistas da profissão
CARATINGA- O Diário Entrevista recebeu sargento Aline Soares, 38 anos, que desde o final de fevereiro está atuando no 2° Pelotão de Bombeiros Militar de Caratinga. Pela primeira vez o pelotão tem uma mulher servindo na fração. Nesta semana especial do Dia Internacional da Mulher, a repórter Nohemy Peixoto conversou com a bombeira sobre os desafios e conquistas da profissão.
Você é de Juiz de Fora. Como é esse deslocamento até Caratinga?
É minha cidade natal, onde resido e tenho feito os deslocamentos duas vezes na semana para fazer esse trabalho em Caratinga. Eu apresentei no Pelotão de Caratinga no dia 21 de fevereiro. É uma rotina bastante cansativa, desgastante, mas, também muito gratificante. Minha família é toda de Juiz de Fora, sempre morei em Juiz de Fora e tenho muitas demandas familiares de cuidados específicos lá, em virtude disso, eu preciso residir nessa cidade.
Há quanto tempo você atua como bombeira?
Atuo no Corpo de Bombeiros há aproximadamente 19 anos. Entrei na corporação em 2002. Fiz o meu curso de formação em Juiz de Fora e desde então, trabalhava lá. Fiz o concurso, geralmente as pessoas sempre perguntam: ‘Você sempre quis ser bombeira? Como que foi isso?’. Então, eu comento que a minha decisão por ser bombeiro, num primeiro momento passou pela necessidade de se começar a trabalhar. E o concurso público, de alguma forma me traria essa segurança desse caráter de estabilidade. Num segundo momento, no decorrer do curso, com aproximação da parte prática mesmo da atividade profissional e os desdobramentos de se ser bombeiro, fui me encantando e entendendo que verdadeiramente era isso que eu gostaria de exercer. É isso que me move. Temos que trabalhar com aquilo que a gente ama, porque se não fica muito difícil. Temos uma profissão desafiadora, mas, que ao mesmo tempo o retorno que temos é muito grande.
Algum momento ou resgate que te marcou ao longo desse período?
Sempre comentamos que estamos nas duas pontas, então, tenho ocorrências muito marcantes por tragédias e tenho ocorrências, de parto, por exemplo, que tive a possibilidade de trazer pessoas à vida. Então, sempre temos essas duas pontas marcantes, que mexem com as emoções. Costumamos falar que para ser bombeiro é preciso reunir uma série de características. É preciso ter habilidade, equilíbrio emocional, que é muito importante; segurança e força física. Então, um desafio muito grande é conseguir equilibrar todas essas características, tem que ter um perfil.
Em algum momento você já sofreu preconceito por ser uma mulher nos bombeiros?
Sim. Como falei o maior desafio é equilibrar essas características e, sendo mulher, o maior desafio de todos é vencermos os olhares preconceituosos. É comum acontecer da gente atuar em ocorrências e as pessoas olharem com dúvida, espanto, em relação à boa execução dos nossos serviços, coisa que não acontece para o homem. Esse olhar não é direcionado para o homem, mas, para a mulher sim. Sabemos que vivemos numa sociedade que é forjada no patriarcado, então, temos comportamentos machistas que são reproduzidos. Avançamos muito nesse sentido e é uma desconstrução diária. Mas, ainda temos esses olhares e precisamos vencer cada vez mais.
Às vezes tem um lado positivo também de chamar atenção por ser mulher?
Com toda certeza. Isso acontece o tempo todo. Quando iniciei em Juiz de Fora não era comum se ver mulheres trabalhando na corporação. E eu sempre atuei na ala operacional, atividade fim, que é o atendimento direto da ocorrência. Então, quando eu chegava nas ocorrências, as pessoas olhavam com admiração e comentavam: ‘Olha, que bacana, nós temos mulheres no Corpo de Bombeiros’. Então, temos o olhar do preconceito, que quer te limitar, mas, temos também o olhar da admiração.
Como você avalia as conquistas que a mulher vem tendo ao longo do tempo?
Temos caminhado de forma significativa nesse contexto. Então, hoje, o próprio fato de fazermos parte de uma instituição que predominantemente é masculina, já é um grande avanço. Além dessa presença, estamos também na parte operacional, que só era vista por homens e também em cargos de comando, de chefia e de liderança. Graças à muita dedicação, competência e excelência no trabalho.
Qual mensagem você deixa para as mulheres que desejam fazer parte do Corpo de Bombeiros?
É perfil e vocação. Eu encorajo a todas as mulheres que quiserem fazer o concurso e ficaremos imensamente gratas em recebe-las. Ser bombeira é um desafio diário, aprendemos que nossos limites vão muito além do que imaginávamos. Conseguimos romper com crenças, limites e temos sempre a superação.
Para finalizar, qual o seu recado para a população de Caratinga?
Minhas expectativas em Caratinga são de que eu possa fazer com excelência, dedicação e carinho, a cada ocorrência e demanda que eu atender. Que eu possa dar sempre o meu melhor para contribuir com todos os moradores não só de Caratinga, como de toda a região.