Referência técnica da Superintendência Regional de Coronel Fabriciano, Evelange Alves fala sobre a necessidade de fortalecer a atenção aos pacientes com sofrimento menta
CARATINGA- Durante os dias 13 a 17 de maio todas as atenções estiveram voltadas para a saúde mental. Foi celebra da Semana da Luta Antimanicomial, que se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. A ideia é demonstrar que assim como todo cidadão estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, viver em sociedade, além de cuidado e tratamento, sem a necessidade abrir mão de seu lugar de cidadãos.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estabelece os pontos de atenção para o atendimento de pessoas com problemas mentais, incluindo os efeitos nocivos do uso de crack, álcool e outras drogas. A Rede integra o Sistema Único de Saúde (SUS) e também é desenvolvida nos municípios. Em Caratinga a intenção é fortalecer essa rede e os primeiros passos já foram dados, conforme Evelange Alves, referência técnica de Saúde Mental, Álcool e Drogas da Superintendência Regional de Coronel Fabriciano. Ela esteve na cidade na última quarta-feira (15) para realizar uma palestra.
Evelange concedeu entrevista ao DIÁRIO, onde falou sobre a importância e desafios do acolhimento às pessoas com transtornos mentais e decorrentes de álcool e outras drogas.
O que é a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)?
A RAPS foi implantada em 2011 pela portaria 3.088. Uma rede de atenção aos pacientes portadores de transtorno mental, álcool e outras drogas, demência, muitos hoje com os problemas de depressão. É um trabalho feito com toda a população e esse trabalho é uma proteção mesmo, uma atenção especial que nós pretendemos ter na região. É composta por vários dispositivos, a porta de entrada é a atenção primária e os profissionais muitas vezes não estão preparados para isso, então estamos começando um trabalho de movimentação para melhorar essa rede. A Atenção Primária, que é a Saúde da Família, as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e isso vai para o Cras (Centro de Referência de Assistência Social), Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), Conselho Tutelar, Polícia Militar, Educação, igrejas; todos são pontos de atendimento e acolhimento dessas pessoas.
Qual a importância do acompanhamento e acolhimento a esses pacientes?
A começar pelo familiar, pois não está preparado para o que vem para ele, então muitas vezes se sente castigado por saber que a doença mental não tem cura, é sofrimento para todo mundo. Então, os benefícios que vêm são através dessa rede de atenção, onde tem os multiprofissionais que vão fazer esse acolhimento, atendimento, olhar mesmo que precisa para essas pessoas e principalmente disso ser feito dentro território. Nós temos uma casa, imóvel, uma infraestrutura, mas o tratamento desse paciente tem que ser feito onde está toda a comunidade. E quem faz esse acolhimento é a atenção primária, quando ele chega para nós é porque a atenção primária já não dá conta mais. A porta de entrada é a atenção primária e já estamos na atenção secundária e terciária, que já é o atendimento de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que é custoso para o Estado e para o Ministério, enquanto na Atenção Primária tem os profissionais e as equipes todas para acompanhar. Sabemos que isso ainda não está sendo feito, então vamos fortalecer essa rede, para trabalhar direitinho esse.
Muito se fala em retaguarda de leitos hospitalares de saúde mental. Há de fato essa necessidade e porque a dificuldade na oferta?
Como trabalhamos com prevenção, o leito de saúde mental em hospital geral é o último caminho que vamos percorrer. Enquanto tiver um Caps, Cras, Creas e Conselho Tutelar esse paciente vai passar por todos, só no último caso vai demandar esse leito. Nossa região infelizmente nós não temos, foram pactuados, mas os gestores hospitalares não têm interesse em ter, pois acreditam que isso será uma ala psiquiátrica. E hoje estamos caminhando para isso, tem a Portaria 3.588 de 2017 que reabre esses hospitais psiquiátricos que é uma pena, o nosso trabalho de prevenção vai todo embora quando eles fortalecem um hospital psiquiátrico. Sabemos a história dos manicômios que nunca fez bem para ninguém. Precisamos trabalhar contra essa reforma que está vindo.
Qual sua avaliação em relação às políticas públicas voltadas para estas pessoas?
Temos muito para caminhar. Estamos sempre engatinhando, quando achamos que caminhamos, ainda tem muita coisa para caminhar. A demanda é alta, precisamos avançar mais e chegar no ponto que essas pessoas realmente vão ter esse acolhimento e olhar, para que esse serviço realmente dê o resultado que nós precisamos.
De que modo o envolvimento da sociedade nesse processo é fundamental?
Principalmente da família. Temos que conscientizar todo mundo que ninguém pediu para ter transtornos mentais e nenhum de nós também está livre. Sempre falo com o Ridley (Ridley Vasconcelos, psicólogo e coordenador de Saúde Mental de Caratinga), que quero esse lugar como um lugar que se eu surtar, é para aqui que quero vir. Então, não olhamos isso aqui para o outro, mas para a gente, porque não estamos livres da doença. É esse o ponto que trabalhamos para essa melhoria diária, deles e nossa também, porque sofremos muito com o sofrimento deles.