Isabella Gomes, psicóloga clínica e organizacional, fala a respeito desse conceito e explica como desenvolvê-lo
CARATINGA – A inteligência emocional é um conceito da psicologia usado para designar a capacidade do ser humano de lidar com as emoções. Para administrar as emoções e conquistar a inteligência emocional é preciso haver equilíbrio entre as áreas presentes nos dois hemisférios do cérebro.
Para saber mais a respeito desse conceito, o DIÁRIO entrevistou a Isabella Gomes, psicóloga clínica e organizacional, que nos ensina: “A principal ferramenta para desenvolver a inteligência emocional é praticar o autoconhecimento. Assim você saberá quais são as seus principais pontos fortes e também suas fraquezas e limitações”.
O que é Inteligência Emocional?
O conceito de inteligência emocional é muito amplo. Basicamente caracteriza o indivíduo que é capaz de identificar suas emoções com mais facilidade e, com isso, sabe lidar melhor com elas, administrando e controlando melhor os sentimentos.
Foram os estudos de Daniel Goleman que popularizaram o tema. Ele define a Inteligência Emocional como a “capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos”. Inteligência Emocional é um conjunto de competências para reconhecer e regular emoções em si e nos outro.
As emoções têm um enorme papel no drama da vida. Elas trazem energia, cor e variedade, mas também nos fazem perder muito tempo confundidos por elas. Se não compreendermos como nossas emoções funcionam, ficamos à sua mercê. Podemos ser felizes uma hora e nos sentirmos tristes e sozinhos em seguida.
Ao desenvolvermos a inteligência emocional, é possível administrar as próprias emoções e usá-las a nosso favor. Também é possível compreender as emoções das outras pessoas, construindo relações saudáveis, fazendo escolhas conscientes e adquirindo uma melhor qualidade de vida.
O que significa ter domínio de sua inteligência emocional?
Dominar a inteligência emocional significa ser capaz de perceber as emoções, saber nomeá-las, entendendo os gatilhos, para, então, desenvolver formas de lidar com elas.
É importante perceber a essência de cada emoção, o padrão por trás de cada uma, a sua dinâmica de atuação. O que eu penso, o que eu sinto, como me comporto, como as pessoas me percebem, como me coloco na relação com o outro quando sinto isso ou aquilo…
Por exemplo: a raiva pode nos querer fazer revidar. Que pensamentos alimento nesse sentido? Como me mostro para o outro quando estou com raiva e tenho essa intenção?
Estamos frequentemente sendo “surrados” pelos nossos sentimentos e é só quando reconhecemos isso que podemos desenvolver a determinação necessária para aprender como sair dessa posição de vítimas e mudar o jogo.
Ter consciência das emoções existentes que se pode experimentar nos permite entender também quais são os gatilhos de cada uma. E, a partir disso, será possível desenvolver formas de lidar com elas.
Quais são os cinco pilares da inteligência emocional?
Os trabalhos desenvolvidos por Daniel Goleman são pautados por cinco pilares. O domínio desses, são responsáveis por guiar pensamentos e ações mais assertivas.
*- Autoconhecimento emocional:* Diz respeito à autoconsciência, à capacidade de reconhecer as próprias emoções e sentimentos. É preciso conhecer com mais profundidade, compreender como elas surgem, de onde vêm e de que maneira se manifestam. Dessa forma desenvolvemos uma maior clareza sobre quem somos, como funcionamos, o que importa para nós, quais são nossos valores e propósitos, elementos fundamentais para o autoconhecimento.
*- Controle emocional:* Trata-se da habilidade de lidar com os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida. Tendo consciência das emoções negativas que nos bloqueiam, ou seja, depois de conseguir reconhecer o que sentimos, fica mais fácil controlar essas diferentes sensações.
*- Automotivação:* Trata-se da capacidade de dirigir as emoções a serviço de um objetivo, de uma realização pessoal ou profissional, por exemplo. Ao longo da vida somos surpreendidos por inúmeras situações que podem nos fazer perder a vontade de continuar lutando e indo atrás do que queremos. Se nos deixarmos levar pela ansiedade e pelos aborrecimentos, vai ser difícil nos concentrar na tarefa que estamos realizando. Por outro lado, se estivermos motivados, encontraremos prazer no trabalho e não perderemos a calma durante os momentos difíceis.
*- Reconhecimento das emoções em outras pessoas:* Diz respeito à habilidade de reconhecer emoções no outro e ter empatia de sentimentos. A empatia, vai além do conceito mais conhecido de “se colocar no lugar do outro”. Ela permite reconhecermos as necessidades e desejos nos outros, permitindo a construção de relacionamentos mais eficazes.
*- Relacionamentos interpessoais:* Habilidade de interação com outros indivíduos, utilizando competências sociais, de ouvir e se fazer ouvir e de interagir de maneira harmônica e produtiva. É relevante para ter uma vida mais equilibrada, pois a partir do momento em que você consegue criar relacionamentos saudáveis com as pessoas ao seu redor, sua vida se torna mais leve e cria-se um ambiente positivo.
Quais as principais características de pessoas com inteligência emocional?
Como citado anteriormente, pessoas com inteligência emocional possuem cinco habilidades essenciais: autoconsciência, controle emocional, automotivação, empatia e habilidades sociais. Isso significa que pessoas com inteligência emocional são capazes de conhecer suas próprias emoções e analisa-las, tendo consciência de quais ações tomar assertivamente. Também possuem capacidade de se conscientizar das emoções do outro.
É importante ressaltar que uma das vantagens de ser uma pessoa emocionalmente inteligente, é a capacidade de elevar a sua própria motivação, conseguindo seguir em frente com mais eficiência, mesmo diante de adversidades e frustrações.
Destaco ainda que uma das principais características da inteligência emocional é a capacidade de controle sobre atitudes impulsivas, canalizando os sentimentos para situações adequadas e praticando a gratidão de conseguir motivar outras pessoas, além de diversas qualidades que podem encorajar e ajudar outros indivíduos.
Alguns estudos também apontam que pessoas com “alto índice” de inteligência emocional têm maior satisfação de vida, capacidade de resolução de problemas, habilidade de enfrentamento e menores índices de ansiedade. Ela influencia, de forma positiva, a saúde física e mental, prevenindo transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão.
Por que é importante desenvolver a inteligência emocional?
As emoções desempenham um papel importante em todos as áreas da nossa vida. No trabalho, na escola, na faculdade, em casa ou em qualquer ambiente, é preciso lidar frequentemente com as pessoas, suas formas de pensar, suas atitudes, suas culturas… Também precisamos gerenciar a nós mesmos e às cobranças internas e externas.
Precisamos aprender a usar as nossas emoções de maneira que elas estejam a nosso favor, pois elas direcionam as nossas ações e são um elemento fundamental para a tomada de decisões. Para que isso aconteça, é preciso desenvolver a inteligência emocional.
Fala-se muito hoje a respeito da inteligência emocional no trabalho. Por que uma empresa precisa de colaboradores com essa capacidade?
A inteligência emocional no trabalho é uma competência que faz toda a diferença. Essa competência é exigida diariamente nas mais diversas situações, pois é através dela que conseguimos superar desafios do dia a dia de forma saudável e equilibrada, e também estabelecer relações interpessoais harmoniosas.
Saber lidar com as emoções é tão importante quanto desenvolver habilidades técnicas no trabalho. Os profissionais podem ser inteligentes em várias áreas do conhecimento, mas ter domínio sobre as próprias emoções e sobre as emoções dos outros é um grande diferencial.
Dentro das empresas, essa competência tem impacto no clima organizacional, na cultura, na produtividade das equipes, nas relações interpessoais, na comunicação efetiva e em gerenciar conflitos.
Mais do que habilidades e conhecimentos técnicos, o mercado de trabalho busca nos profissionais inteligência emocional. Por essa razão muitas empresas contam com psicólogos em seu quadro de colaboradores para realizar entrevistas direcionadas e também testes psicológicos para encontrar padrões de personalidade, e assim recrutar e treinar profissionais de acordo com suas características pessoais.
Pessoas que conseguem desenvolver inteligência emocional são cada vez mais valorizadas. Pois reconhecer suas próprias limitações e trabalhar para ser compreensivo com as falhas dos outros são atitudes de extrema importância.
Qual é a importância da inteligência emocional na gestão de crises?
A inteligência emocional é uma grande aliada nos momentos de crises. Principalmente porque qualquer cenário de crise pode trazer inseguranças, imprevisibilidade e adversidades. Nesses momentos, as pessoas precisam agir de forma rápida, com flexibilidade e a capacidade trazer soluções mais criativas, inovadoras e eficientes. Ao mesmo tempo, as emoções podem ficar mais afloradas e é necessário trabalhar constantemente para que as decisões não sejam tomadas baseadas apenas no que se está sentindo.
Aqueles que têm uma inteligência emocional mais desenvolvida conseguem encarar melhor os cenários de crise, pois tem maior controle sobre as emoções e lidam melhor com as adversidades, se mantendo automotivados.
Qual a relação entre autoconhecimento e inteligência emocional?
A principal ferramenta para desenvolver a inteligência emocional é praticar o autoconhecimento. Assim você saberá quais são as seus principais pontos fortes e também suas fraquezas e limitações.
Ter um bom nível de autoconhecimento nos ajuda a interpretar as nossas emoções, entender o que elas, de fato, querem dizer, fazer conexões com outros traços da nossa personalidade, e, então, lidar da melhor forma com elas.
Ao voltar o olhar para o nosso interior, ao praticar o autoconhecimento, compreendemos que, da mesma forma como somos responsáveis por nossas ações, também somos por aquilo que sentimos.
Muitas de nossas ações, quando não estamos conscientes das nossas emoções, não trazem tranquilidade e paz. Somente quando chamamos para nós essa responsabilidade sobre tudo o que sentimos, estamos prontos para alcançar a leveza que buscamos e necessitamos. Não tem como dizer algo do tipo “eles fizeram isso comigo” ou “eles me fizeram sentir raiva”, pois independente do ambiente, a raiva ainda nos pertence, ela é nossa. Seja qual for a emoção, é importante termos consciência de que a intensidade e a permanência dela em nossa vida, é uma escolha só nossa.
Quais dicas para desenvolver nossa inteligência emocional?
Muitas vezes, queremos encontrar uma resposta pronta sobre como acessar esse equilíbrio no nosso dia a dia. No entanto, não é bem assim: não existe um cardápio pronto, com soluções que se apliquem diretamente em nossa vida. Trilhar esse caminho é uma construção diária, em que vamos descobrindo o que nos serve e o que não é compatível com a nossa realidade. A partir do momento em que nos tornamos íntimos de nossos sentimentos e emoções, somos capazes de perceber, com mais facilidade, o que se passa ao nosso redor e como reagimos a tudo isso.
E como vimos, a principal ferramenta para o desenvolvimento da inteligência emocional é praticar o autoconhecimento. Nessa prática, é importante lembrar que reprimir o que sentimos nunca vai ser uma solução para não experimentar as emoções negativas. Não precisamos não sentir, ou evitar as emoções, mas aceitar que elas existem e estão junto de nós. Precisamos reconhecer que as emoções negativas são nossas e fazem parte da nossa humanidade. E é apenas conhecendo nossas emoções e tomando consciência sobre como elas atuam sobre nós é que poderemos lidar melhor com elas. A ideia é deixar de ser vítimas das emoções e passar a ser seus colaboradores criativos.
Outros passos, além do autoconhecimento, que podem contribuir para desenvolvimento da inteligência emocional, são:
– Identificação das emoções em outras pessoas;
– Prever as nossas reações;
– Definir um planejamento para as diversas situações;
– Estabelecer relacionamentos saudáveis e produtivos;
– Ter paciência com as nossas fragilidades e a dos outros.
Nessa busca por nos conhecer e entender como funcionamos, o que encontramos é um fluxo rico, belo, criativo e dinâmico de experiências. Um mundo de sentidos, pensamentos, sentimentos e imaginações.