Tudo que não queríamos aconteceu e está em curso. A tragédia que destruiu grande parte de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, que culminou na perda de casas deixando uma lista extensa de vítimas e desaparecidos e que, por fim, está dizimando grande parte da vida do Rio Doce, já pode ser considerado um dos maiores, se não o maior, desastre ambiental no nosso país.
A tristeza de todos com o ocorrido é notória. Não poderia ser diferente, juntamente com a perda de vidas e lar de diversas famílias, a preservação ambiental e de seus recursos é essencial para a nossa vida.
Junto a tudo que vem se desenvolvendo, vou convidá-los a fazer uma breve autocrítica.
Se houve um erro da empresa é necessário que ela pague por seus erros e a justiça comum seja feita. No entanto, o que foi feito está feito e agora temos de tratar de buscar soluções, primeiro para garantir o acesso da população que retirava do rio a sua sobrevivência e, posteriormente, desenvolver medidas de revitalização para o mesmo, se for possível.
Desta forma, cabe a cada um de nós entender que antes de expor toda e correta insatisfação com ocorrido e sobre as diversas atividades de mineração no nosso estado, temos de pensar que nós somos os financiadores de tais empreendimentos. Estes que tanto causam impactos negativos para o ambiente ao nosso entorno.
Sendo assim, cabe a nós buscar a desenvolver tal simples reflexão: O que eu quero para o futuro?
Cabe a cada um de nós a responder o que de fato poderemos esperar de um futuro incerto.
Há necessidades de comprar todo ano um carro novo, trocar de computador e ter aquele celular de um novo modelo? Tais exemplos são apenas alguns que demonstram a nossa dependência sobre a mineração e a forma que tratamos nosso ambiente de fato.
O preço que pagamos por tais produtos não está incluso os 63 milhões de m³ de lama tóxica que insistem em interromper vidas humanas e de animais e ao valor dos recursos perdidos por tornar o Rio Doce impróprio para coleta dos mesmos.
Tal valor supera o lucro de mais de R$ 7 bilhões de uma das envolvidas, que apenas a fração de 0.007 é destinada a população em forma de recursos para a administração municipal. Poucos dizem sobre a dívida fiscal dessa envolvida, aproximadamente R$ 42 bilhões. A maior dívida do nosso país.
Precisamos mudar a forma de agir e pensar. A forma que tratamos nossos recursos não tem se mostrado eficiente e correta.
A busca de crescer e “vencer na vida” como se viver fosse competir com outras pessoas irá ainda nos levar a um futuro de grandes incertezas.
Teremos de pensar no verdadeiro valor dos produtos que adquirimos diariamente, seus verdadeiros impactos e qual a melhor forma de consumi-los.
Quando conseguirmos pensar que bens imateriais valem muito mais que bens materiais, ou mais que a própria acumulação de riquezas, unida que a qualidade de vida é sinônimo somente de riqueza espiritual e não a financeira, acredito que tal cenário poderá mudar.
Temos de investir mais em momentos e menos em coisas. Na próxima vez que for comprar algo que seja oriundo de mineração pergunte-se sobre a sua real necessidade e como você tem colaborado para o desenvolvimento de um futuro melhor para você e todos nós.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA