A vida, por definição, é como a correnteza de um Rio, invariavelmente se movimenta sempre para a frente, insiste e persiste nesse movimento contínuo, que assim como o Tempo, sob a regência de Chronos, nunca retrocede, nunca retorna ao mesmo lugar…
Nós percebemos esse movimento vital, ao nosso redor e em nós mesmos, pois o Tempo e a Vida deixam marcas perceptíveis em nosso próprio corpo e invisíveis em nossas mentes e corações.
No entanto, muitas vezes, a despeito desse movimento que nos impulsiona sempre para frente, somos tomados por sentimentos nostálgicos, lembranças de um Tempo que não volta mais, de uma época onde as coisas eram mais fáceis, a vida corria mais lenta, tínhamos mais tempo para o lazer, para a família, para os amigos, para as brincadeiras na rua, para a Missa aos Domingos. Um tempo onde os encontros e as conversas eram reais e não virtuais, onde os pais eram respeitados, onde a Escola ensinava, onde nos surpreendíamos quando ouvíamos falar de um ladrão de galinhas. Um Tempo onde a pobreza não era desculpa para a violência. Um tempo onde a cura para a insônia era encontrada num simples chá de camomila e não em algum psicotrópico, um tempo em que as crianças, quando ouviam um “não”, às vezes choravam e isso não era motivo para consultas com psicólogos.
Um tempo onde encontrávamos na Política, líderes que nos apresentavam um caminho, pessoas que podíamos admirar e que, mesmo discordando de algumas de suas propostas, sabíamos que eram idealistas, que acreditavam no que diziam, que perseguiam seu ideal de Mundo, que estavam na vida pública por altruísmo verdadeiro, e não apenas por interesses pessoais.
Um tempo onde o futuro, a Terra desconhecida, pensávamos, seriam fartos, pacíficos, onde viveríamos bem, em harmonia, com trabalho, com respeito e com honestidade.
Nessa época em que vivemos, onde quase tudo registrado acima não aconteceu, é quase inevitável não sermos tomados por um Saudosismo, por certa melancolia, uma quase tristeza. O que terá dado errado? Onde será que nos desviamos do caminho? Por que nosso País passa por momentos tão difíceis, por que a vida moderna, tão cheia de avanços e facilidades tecnológicas, não nos trouxe a Felicidade? Nunca consumimos tantos remédios para depressão. Nunca consumimos tantas drogas. Nunca se cometeram tantos suicídios, nunca tivemos tanta violência, tanta agressão, tanta discórdia.
É muito difícil explicar tudo que nos acontece. As causas são infindáveis.
Vivemos uma profunda crise Ética. Os Valores se confundem, virtudes e pecados trocam de lugar. Ser humilde é feio. Ser arrogante é sinal de superioridade, de galhardia. Ser sonhador é patético, ser pragmático é altivo!
Além disso, também vivemos uma profunda crise Estética. Aliás, não foi por acaso que, em Platão e Aristóteles, a Estética era estudada e fundida com a Lógica e a Ética. Afinal, O Belo, o Bom e o Verdadeiro sempre andam juntos…
Minha geração conviveu com Caetano, Gil, Chico Buarque, Fagner, Roberto Carlos, Erasmo. Depois vieram Ivan Lins, Cazuza, Renato Russo. Ouvíamos Elis, Bethânia, Ney Matogrosso… Cada um com seu estilo, com seu timbre, com sua personalidade. Eram de uma riqueza sem par…
As músicas tinham letra, contavam uma história, expressavam sentimentos, expunham ideias, faziam crítica social, enfim, tinham um contexto. Eram poesias, riquíssimas, enobreciam a língua portuguesa. A melodia era rica, sofisticada, inovadora, requintada.
Cavalgada, de Roberto Carlos, é uma obra prima. Ninguém, até hoje, foi capaz de representar uma noite de Amor com tamanha doçura, com tamanha leveza, ternura e sofisticação literária… Ninguém, até hoje, é capaz de fazer crítica social com tamanha intensidade como fez Chico Buarque e, ao mesmo tempo, ser tão poético.
Hoje, no auge dessa crise Ética, estamos também às voltas com essa outra crise, uma crise estética. Com raras, muito raras exceções, a música brasileira também passa por uma profunda crise de identidade. Repleta de clichês, de “mesmismos”, de frases de efeito, de rimas pobres, uma sucessão de vogais. Canta-se um Amor superficial e fútil. Ignora-se a realidade social. As melodias… Bem, chamá-las de melodias é um Eufemismo. Poucas notas, pois seus interpretes possuem baixíssima qualidade vocal. Repletas de ruídos, gritos, falsetes, vibratos excessivos, uivos.
Isso não ocorre apenas na Música. Vemos também na Arquitetura, na Escultura e na Literatura. Um verdadeiro “fast-food” cultural…
Estamos vivendo num grande vácuo. O velho se foi e, o novo, ainda não veio. E, nessa sucessão inevitável da vida, paramos num limbo ético e estético. À pobreza política, soma-se a pobreza cultural. Talvez como percebeu Platão, ambas, Ética e Estética, de fato, sempre andem juntas.
Há alguns dias, perdemos Belchior. Um dos maiores “cantores poetas” que tivemos. Sua música é de um valor inestimável. Triste com a realidade que via ao seu redor, vivia recluso, no Sul, afastado dos palcos, pois não encontrava mais ressonância para sua Arte. A mediocridade cultural fez mais uma vítima.
E é assim, ao som de Belchior, neste final de Domingo, momento em que escrevo este texto, que sou lançado de volta a um passado distante, onde mesmo com um presente adverso, acreditávamos que o futur
Quando havia Galos, Noites e Quintais!
- Eugênio Maria Gomes
A vida, por definição, é como a correnteza de um Rio, invariavelmente se movimenta sempre para a frente, insiste e persiste nesse movimento contínuo, que assim como o Tempo, sob a regência de Chronos, nunca retrocede, nunca retorna ao mesmo lugar…
Nós percebemos esse movimento vital, ao nosso redor e em nós mesmos, pois o Tempo e a Vida deixam marcas perceptíveis em nosso próprio corpo e invisíveis em nossas mentes e corações.
No entanto, muitas vezes, a despeito desse movimento que nos impulsiona sempre para frente, somos tomados por sentimentos nostálgicos, lembranças de um Tempo que não volta mais, de uma época onde as coisas eram mais fáceis, a vida corria mais lenta, tínhamos mais tempo para o lazer, para a família, para os amigos, para as brincadeiras na rua, para a Missa aos Domingos. Um tempo onde os encontros e as conversas eram reais e não virtuais, onde os pais eram respeitados, onde a Escola ensinava, onde nos surpreendíamos quando ouvíamos falar de um ladrão de galinhas. Um Tempo onde a pobreza não era desculpa para a violência. Um tempo onde a cura para a insônia era encontrada num simples chá de camomila e não em algum psicotrópico, um tempo em que as crianças, quando ouviam um “não”, às vezes choravam e isso não era motivo para consultas com psicólogos.
Um tempo onde encontrávamos na Política, líderes que nos apresentavam um caminho, pessoas que podíamos admirar e que, mesmo discordando de algumas de suas propostas, sabíamos que eram idealistas, que acreditavam no que diziam, que perseguiam seu ideal de Mundo, que estavam na vida pública por altruísmo verdadeiro, e não apenas por interesses pessoais.
Um tempo onde o futuro, a Terra desconhecida, pensávamos, seriam fartos, pacíficos, onde viveríamos bem, em harmonia, com trabalho, com respeito e com honestidade.
Nessa época em que vivemos, onde quase tudo registrado acima não aconteceu, é quase inevitável não sermos tomados por um Saudosismo, por certa melancolia, uma quase tristeza. O que terá dado errado? Onde será que nos desviamos do caminho? Por que nosso País passa por momentos tão difíceis, por que a vida moderna, tão cheia de avanços e facilidades tecnológicas, não nos trouxe a Felicidade? Nunca consumimos tantos remédios para depressão. Nunca consumimos tantas drogas. Nunca se cometeram tantos suicídios, nunca tivemos tanta violência, tanta agressão, tanta discórdia.
É muito difícil explicar tudo que nos acontece. As causas são infindáveis.
Vivemos uma profunda crise Ética. Os Valores se confundem, virtudes e pecados trocam de lugar. Ser humilde é feio. Ser arrogante é sinal de superioridade, de galhardia. Ser sonhador é patético, ser pragmático é altivo!
Além disso, também vivemos uma profunda crise Estética. Aliás, não foi por acaso que, em Platão e Aristóteles, a Estética era estudada e fundida com a Lógica e a Ética. Afinal, O Belo, o Bom e o Verdadeiro sempre andam juntos…
Minha geração conviveu com Caetano, Gil, Chico Buarque, Fagner, Roberto Carlos, Erasmo. Depois vieram Ivan Lins, Cazuza, Renato Russo. Ouvíamos Elis, Bethânia, Ney Matogrosso… Cada um com seu estilo, com seu timbre, com sua personalidade. Eram de uma riqueza sem par…
As músicas tinham letra, contavam uma história, expressavam sentimentos, expunham ideias, faziam crítica social, enfim, tinham um contexto. Eram poesias, riquíssimas, enobreciam a língua portuguesa. A melodia era rica, sofisticada, inovadora, requintada.
Cavalgada, de Roberto Carlos, é uma obra prima. Ninguém, até hoje, foi capaz de representar uma noite de Amor com tamanha doçura, com tamanha leveza, ternura e sofisticação literária… Ninguém, até hoje, é capaz de fazer crítica social com tamanha intensidade como fez Chico Buarque e, ao mesmo tempo, ser tão poético.
Hoje, no auge dessa crise Ética, estamos também às voltas com essa outra crise, uma crise estética. Com raras, muito raras exceções, a música brasileira também passa por uma profunda crise de identidade. Repleta de clichês, de “mesmismos”, de frases de efeito, de rimas pobres, uma sucessão de vogais. Canta-se um Amor superficial e fútil. Ignora-se a realidade social. As melodias… Bem, chamá-las de melodias é um Eufemismo. Poucas notas, pois seus interpretes possuem baixíssima qualidade vocal. Repletas de ruídos, gritos, falsetes, vibratos excessivos, uivos.
Isso não ocorre apenas na Música. Vemos também na Arquitetura, na Escultura e na Literatura. Um verdadeiro “fast-food” cultural…
Estamos vivendo num grande vácuo. O velho se foi e, o novo, ainda não veio. E, nessa sucessão inevitável da vida, paramos num limbo ético e estético. À pobreza política, soma-se a pobreza cultural. Talvez como percebeu Platão, ambas, Ética e Estética, de fato, sempre andem juntas.
Há alguns dias, perdemos Belchior. Um dos maiores “cantores poetas” que tivemos. Sua música é de um valor inestimável. Triste com a realidade que via ao seu redor, vivia recluso, no Sul, afastado dos palcos, pois não encontrava mais ressonância para sua Arte. A mediocridade cultural fez mais uma vítima.
E é assim, ao som de Belchior, neste final de Domingo, momento em que escrevo este texto, que sou lançado de volta a um passado distante, onde mesmo com um presente adverso, acreditávamos que o futuro seria brilhante! Hoje, espero o tempo negro passar, e aguardo, ansiosamente, o momento que poderei recuperar a capacidade de sonhar!
“Eu era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais; Como um galo, quando havia…, quando havia galos, noites e quintais. Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo o mal que a força sempre faz. “
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.
o seria brilhante! Hoje, espero o tempo negro passar, e aguardo, ansiosamente, o momento que poderei recuperar a capacidade de sonhar!
“Eu era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais; Como um galo, quando havia…, quando havia galos, noites e quintais. Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo o mal que a força sempre faz. “
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.