* José Lacerda da Cunha
Nascido no Morro do Livramento, na cidade do Rio de Janeiro, menino pobre, órfão de pais muito cedo, conviveu, praticamente a vida inteira com a gaguez e a epilepsia.
Autodidata, Machado de Assis acumulou uma vasta e invejável cultura, como podemos observar nas inúmeras citações que perpassam sua vasta e variada obra literária.
Machado de Assis foi um gênio, e os gênios não se explicam nascem.
Machado cultivou o romance, o conto, a crônica, o teatro, a crítica literária e a poesia. Mas o romance e o conto, é que se destacaram em sua variada obra.
Machado, como ele próprio afirma, escreveu sua obra com a pena da galhofa e a tinta da melancolia e seu estilo é dos bêbados, ou seja, dá guinadas para a esquerda e para a direita.
Tratando como um certo desdém, humor e ironia sua miopia, afirma que os míopes têm a vantagem de enxergar onde as grandes vistas não alcançam.
A pena da galhofa aponta para o riso, o humor e a ironia, enquanto a tinta da melancolia nos remete à dor e ao sofrimento. Mas o riso que esconde a lágrima, como se pode observar no capítulo final do romance. Quincas Borba no livro há dois Quincas Borba; o homem e o cão. Os dois agora estão mortos e seria o caso de indagar qual deles deu nome ao livro, o homem ou o cão? Machado observa nos que é uma questão complicada, o melhor é chorar os dois ou então rir que é mesma coisa: “ O Cruzeiro do Sul, que a bela Sofia não quis fitar está assaz alto para discernir os risos e as lágrimas dos homens”
Para entender esta passagem, seria bom que o leitor voltasse ao capítulo XLI.
Machado vê com pessimismo e amargura os homens de seu tempo que prezam o ter mais que o ser, como se pode constatar pela leitura da obra magistral, Memórias Póstumas de Brás Cubas em que o defunto narrador, apesar de ter nascido em berço de ouro, retirou-se da vida como quem sai tarde de um espetáculo tarde e cansado.
Em síntese, uma vida feita só de negativas. E Machado finaliza o livro afirmando, pela fala do defunto narrador, ao chegar do outro lado do mistério (a morte) encontrou um pequeno saldo positivo; “Não me casei, não tive filhos, não transmiti a ninguém o legado de nossa miséria.”
Querem alguns críticos ver, nas personagens machadianas, uma projeção de sua vida. Discordamos de tal afirmação, pois Machado foi muito feliz em seu casamento, conforme atesta o soneto, verdadeira obra prima, escrito por Machado e dedicado a Carolina, sua esposa, falecida antes dele.
A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago –te flores, _ restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
José Lacerda da Cunha, professor do Centro Universitário de Caratinga, Coordenador da Área de Linguagem e suas Tecnologias da Escola Professor Jairo Grossi, Membro da Fundação Educação Educacional de Caratinga e da Academia Caratinguense de Letras.