Casas pensadas para o viver bem

Arquiteta Robélia Dias defende projetos que acolhem a rotina real e tornam a casa aliada da saúde emocional

CARATINGA- A forma como moramos, trabalhamos e circulamos pelos espaços interfere diretamente no nosso humor, na saúde emocional e até na qualidade do sono. Luz, ventilação, silêncio, cores e organização não são apenas escolhas estéticas — são fatores que dialogam com o corpo e com a mente todos os dias. Em tempos em que o bem-estar ganhou protagonismo, a arquitetura deixou de ser apenas construção para se tornar ferramenta de cuidado.

Nesta entrevista, a arquiteta e urbanista Robélia Dias explica como projetos pensados para o conforto térmico, acústico e emocional podem transformar a rotina das pessoas. Do ambiente doméstico às cidades, ela mostra como espaços bem planejados reduzem estresse, favorecem a convivência, estimulam produtividade e criam refúgios reais em meio à correria do dia a dia.

 

Arquitetura e bem-estar caminham juntos? Como?

Sim, totalmente. Quando projetamos pensando em conforto térmico, acústico, iluminação, ergonomia e fluidez de circulação, a casa deixa de ser só bonita e passa a sustentar saúde emocional e qualidade de vida no dia a dia.

 

Como os ambientes influenciam humor, produtividade e descanso?

Ambientes influenciam porque o corpo responde ao espaço: luz, ruído, temperatura, cores. Exemplo: Um home office bem iluminado e com layout funcional melhora o foco; um quarto com menos estímulos visuais e boa acústica favorece sono; áreas sociais com conforto estimulam convivência e leveza.

 

Quais elementos tornam uma casa emocionalmente acolhedora?

Materiais naturais, iluminação quente, plantas e identidade do morador como: memórias, objetos, organização.

 

Luz natural e artificial: como elas interferem no bem-estar?

A luz natural regula nosso relógio biológico, melhora humor e disposição. Já a luz artificial é ótima para nos manter mais despertos no trabalho e em outras atividades. À noite, luzes mais quentes e indiretas ajudam o corpo a desacelerar; luz fria e forte no horário errado pode gerar agitação e dificultar o descanso.

 

Que cores ajudam a relaxar? E quais devem ser usadas com cuidado?

Para relaxar, funcionam muito bem tons neutros quentes, verdes suaves, azuis acinzentados. Cuidado com cores muito saturadas (vermelhos intensos, amarelos muito vivos) em grandes áreas — elas podem aumentar estímulo e ansiedade.

 

Plantas e materiais naturais dentro de casa realmente reduzem estresse?

Sim, eles trazem uma sensação de refúgio e conexão com a natureza. Plantas suavizam o ambiente visualmente. Materiais naturais (madeira, pedras, fibras, linho) também passam uma leitura de conforto e autenticidade — e isso tem impacto emocional direto.

 

Como trazer a natureza para pequenos espaços?

Jardins verticais e plantas em vasos, materiais naturais como pedras e madeira, texturas.

 

Projetos de arquitetura podem transformar a vida do cliente?

Com certeza, um projeto bem feito resolve dores invisíveis: bagunça crônica por falta de armazenamento, cansaço por iluminação ruim, estresse por ruído, conflitos por circulação apertada. Quando a casa começa a funcionar para a rotina real, a vida fica mais leve — e o cliente sente isso.

 

Você acredita que as pessoas estão buscando casas mais terapêuticas?

Sim, cada vez mais. Depois de viver mais tempo dentro de casa, as pessoas perceberam que o lar precisa ser um refúgio da correria do dia a dia, um lugar para descansar melhor, ter silêncio, ter um canto de pausa, ter luz boa.

 

Qual a dica simples para alguém transformar seu lar hoje?

Melhorar a iluminação e a sensação de ordem. Trocar lâmpadas para uma temperatura mais confortável (principalmente à noite), criar uma luz indireta (abajur/fitas) e organizar superfícies para reduzir o ruído visual. Parece pequeno, mas muda o clima da casa imediatamente.

 

Falando agora sobre arquitetura urbana, como ela afeta a qualidade de vida?

Afeta diretamente: calçadas boas, arborização, sombreamento, mobilidade segura, praças e usos mistos, reduzem estresse e aumentam bem-estar. Cidade bem planejada diminui tempo perdido, melhora segurança, cria pertencimento e incentiva vida ao ar livre.

 

Como é possível a arquitetura se integrar à natureza e não competir com ela?

Respeitando o lugar: topografia, ventilação, orientação solar, vegetação existente. Em vez de “impor” um objeto, a arquitetura pode enquadrar paisagens, usar materiais coerentes com o entorno, prever drenagem e permeabilidade, criar sombras e espaços externos de uso real. Quando a construção conversa com o clima e com a paisagem, ela parece que sempre pertenceu ali.

Projetar com propósito é cuidar de quem vive o espaço, defende Robélia

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