* Lucy Rosane de O. Vieira Raposo
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? (Mt. 5:13.a)
Recém-exibido nas principais salas de cinema da capital mineira, o documentário: “O Sal da Terra” (2014) dirigido pelo alemão Wim Wenders e pelo brasileiro Juliano Salgado retrata a vida e a obra de um dos fotógrafos mais premiados e conhecidos do mundo, o brasileiro “Sebastião Salgado”.
Esse mineiro, nascido aqui bem pertinho de nós, em Aimorés-MG, filho único entre sete irmãs, formou-se em economia por insistência do pai, um fazendeiro criador de gado. Graças a uma bolsa de estudos, junto com a esposa, a arquiteta Lélia foram para a França, onde mais tarde fixaram residência quando este passou a trabalhar para a Organização Internacional do Café. Entretanto, uma câmera dada de presente por Lélia e as viagens a trabalho, o levou a desviar-se da Economia e a se dedicar à fotografia em tempo integral.
A opção pela fotografia de cunho social o levou a viagens dentro e fora do país registrando com suas lentes, as sagas humanas, como: êxodos, migrações, secas, deslocamentos decorrentes de guerras e genocídios, registrados em séries a que ele dedicou longos anos de sua vida.
A experiência de fotografar mundo afora as mazelas humanas, se por um lado permitiu que ainda em partes desconhecidas do nosso planeta pudéssemos constatar através de seu olhar, a degradação humana produzida pelas desigualdades sociais e pelos preconceitos religiosos, raciais e políticos, por outro, rendeu-lhe como consequência um grande mal estar. Com certeza causada em grande parte, pela indiferença de muitos que governam e que em tese teriam o poder político para mudar a realidade dessas populações dizimadas, sem esperança e que quando sobreviventes, ainda não têm para onde ir.
Embora seus registros fotográficos em situações limite tenham lhe causado no decorrer dos anos, especialmente, nos países africanos marcas profundas em sua alma, a busca de um novo desafio, acabou por mudar um pouco o foco de seu trabalho, quando passou a fotografar áreas do planeta ainda intocadas pela ação destruidora do homem, como registradas em sua recente produção fotográfica intitulada: Gênesis.
Esse projeto fotográfico e seu retorno a antiga fazenda de sua família em Aimorés encontrada totalmente degradada, empobrecida e sem água despertaram no casal Sebastião e Lélia, o sonho de transformar aquela terra devastada em uma pequena floresta. Assim, em pouco mais de dez anos, toda a propriedade foi reflorestada por espécies da Mata Atlântica, perfazendo um total de mais de um milhão de mudas.
Atualmente, a antiga Fazenda Bulcão em Aimorés, transformada em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), abriga o Instituto Terra onde diversos trabalhos são desenvolvidos com o intuito de devolver à natureza, o que décadas de degradação ambiental destruiu. Esse Instituto é hoje responsável pela recuperação de mais de 7.000 hectares de áreas degradadas na região do Vale do Rio Doce e mais de 4 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica já foram produzidas em seu viveiro para abastecer tanto os plantios na RPPN Fazenda Bulcão, como na região do entorno que vivencia as consequências do desmatamento e do uso desordenado dos recursos naturais, tais como: a seca, a erosão do solo e a falta de condições para o homem do campo viver e prosperar.
A experiência citada comprova que junto à recuperação do verde, nascentes voltam a jorrar e espécies da fauna brasileira, em risco de extinção, voltam a ter um refúgio seguro e nos permite trazer à memória, que aqui em nosso município existe um trabalho de longa data, realizado por várias pessoas e movimentos da sociedade civil ligadas direta ou indiretamente a RPPN Feliciano Miguel Abdala. E graças a essa mobilização do passado e do presente, hoje fazemos parte do 1º Corredor Ecológico de Minas Gerais que fica entre os municípios de Caratinga-Simonésia. E para que esse corredor, de fato, desenvolva um plano de preservação e sustentabilidade ambiental, a minha e a sua participação serão fundamentais nas ações em andamento e a serem desenvolvidas. Procure se informar, para participar!
Assim, a exemplo de Sebastião, Lélia, Feliciano, Eduardo, Karen, Marcelo, Leonor, José Antonio, Ismael, Jairo, Lamara, Lenildo, Kendroa, Harley, Eliana, Lilian e muitos outros e outras que tive o privilégio de conhecer, ora pelas leituras, ora pela oportunidade de conviver com seus ideais e práticas em favor da Biodiversidade, façamos também à diferença! Sejamos verdadeiramente, o Sal da Terra para dar sabor à vida, preservando-a em todas as suas formas, permitindo a presente e futuras gerações experimentar o melhor desta Terra.
* Profª Lucy Rosane de Oliveira Vieira Raposo. Mestre em Educação pela PucMinas; Graduada em Letras e Pedagogia (Administração e Orientação Educacional) pela Fundação Educacional de Além Paraíba -MG; Pós-graduada em Docência do Ensino Superior.pela Fundação Educacional de Caratinga- MG, Profª do UNEC nas disciplinas de Educação do Campo, Gestão Educacional, Politicas Educacionais e Educação de Jovens e Adultos; Pesquisadora da temática de Educação do Campo, Membro do Conselho Administrativo da Fundação Metodista de Ação Social e Cultural –BH, Diretora Educacional da Superintendência Regional de Ensino – Caratinga