Ildecir A. Lessa
Advogado
Não há dúvida que a “lava jato” já insere na história do Brasil como uma operação que promove uma base de modelo de mudança da Justiça. A operação escreve uma história, com relação a leis, teses e doutrinas, trazendo novos contornos, junto ao Judiciário, a Advocacia, a Polícia Federal e ao Ministério Público. Muda os rumos, na economia e na politica. Promove novas diretrizes no direito penal, processual, administrativo e constitucional. Marcel Proust dizia que o hábito é a segunda natureza do homem. A primeira sendo a natureza física. Cultura é o conjunto dos hábitos de uma sociedade. Estamos, pois, assistindo possível mudança cultural de como o Brasil entende e prática, a justiça. Mas, o personagem principal é o Juiz Sergio Moro.
O jornalista caratinguense Vladimir Netto lançou um livro histórico, “Lava Jato – O Juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”. O livro traz de volta o passado que já aconteceu nessa operação, contando os bastidores da mais famosa operação policial contra a corrupção que já esteve em curso no país. Declarou Netto, no lançamento do livro: “Logo de cara já dava para ver que tinha uma história bacana ali. Mas o que me fez decidir escrever o livro foi o fato de que essa operação foi mais longe do que as outras. Ela foi mais bem-sucedida. Ela alcançou objetivos que outras operações não tinham alcançado”. Críticas as mais diversas, têm sido dirigidas a essa operação, principalmente por muitos juristas, que apontam desvirtuamento das investigações, para o campo midiático. Pesquisas mostram que a corrupção preocupa os brasileiros mais do que o desemprego. Uma geração nova, no serviço público, mostra-se mais apta a lidar com as tecnologias de informática. A modernidade completa, sem dúvida, é o principal objetivo dos inquéritos: a busca da verdade por meio de informações confiáveis. A tecnologia do acesso a informações, antes inalcançável, lhes é mais fácil. É mais rápida. Procuram e acham fatos decorrentes de telefonemas, viva-voz, planilhas, documentações, extratos bancários, vídeos, listagens, formando um pleno universo de informações. Tudo conectado. Tudo muda.
Daí também porque o Supremo confirma a imensa maioria das decisões das instâncias inferiores. São baseadas em sólidos fatos, que dificilmente se dissolvem no ar das argumentações puramente abstratas. Fatos limitam as teorias e intepretações. Ou seja, é vidente, é visto. O jornalista Netto declina os pontos principais do sucesso da ação, como o instrumento legal da delação premiada, dos investigadores do Paraná, que têm experiência em casos de lavagem de dinheiro. A Justiça informatizada, facilitando a coleta de detalhes para o livro. “Houve também o ‘fator sorte’”. A prisão do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa só ocorreu porque ele mandou a família ocultar provas. Se não fosse isso e outros pontos que relato no livro, “a Lava Jato não teria chegado aonde chegou”, diz Vladimir Netto. Segundo ele, muitos dos relatos de bastidores só foram noticiados depois de o jornalista ganhar a confiança das fontes. No bojo do livro, existem relatos do escritor, de entrevista com pessoas como o doleiro Alberto Youssef, o ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o agente Newton Ishii, o “japonês da Federal”.
Mesmo com a operação Lava Jato em curso, Netto acredita que este era o momento para lançar o livro. “Nesses dois anos de operação, a gente já tem muita coisa. A gente vai ver muita coisa ainda, mas o que temos já é história. O combate à corrupção é uma questão que está madura agora. É possível fazer uma operação bem-sucedida, que chega mais longe. Esse é um legado da operação Lava Jato”, disse Netto. Uma continuação do livro, que teve os direitos comprados para virar uma série de TV, já foi prometida pelo autor. Assim, o livro de Netto traz a convicção de fatos acontecidos, no seu relato de solar clarividência. Com total intimidade com as palavras, oriunda do escritor nato, em um fenômeno que Einstein chamou de “efeito observador” . É como se alguém sai dentro de si, de sua individualidade, para trazer a lume, ao todo social, o fiel relato da história. Demonstra que a história recente de acontecimentos, no sei social, tem um discurso em constante transformação construído pelo historiador dos fatos, a narrar que, a existência do passado não se deduz uma interpretação única. Muda o olhar, desloca a perspectiva, surgindo novas interpretações. Ao que parece, foi isso que o jornalista e historiador caratinguense quis passar. Caratinga foi prestigiada com uma noite de autógrafos, do jornalista Vladimir Netto, no dia 17 de julho, no Casarão das Artes. É, portanto, emblemático a escolha do jornalista, de nível nacional, a cidade de Caratinga. Nada mais justo, a designação de o jornalista caratinguense.