“Não se lamente por envelhecer, é um privilégio negado a muitos”
O New York Times publicou recentemente uma matéria escrita por Abby Ellin apresentando o caso de diversos idosos que fizeram terapia pela primeira vez e superaram questões antigas.
As questões psicológicas mais importantes ao longo do envelhecimento são: dificuldade de planejar o futuro, sensação de não pertencimento, diminuição do contato social, principalmente gerado após a aposentadoria, adaptação a mudanças e desmotivação. Fatores que podem gerar depressão, baixa na autoestima e na autoimagem, insegurança, medo e ansiedade. E a terapia pode auxiliar em cada uma dessas questões apresentadas.
Tolkin é um dos muitos idosos que buscam ajuda psicológica num período posterior da vida. A maioria nunca botou os pés perto do divã de um analista na juventude. Porém, agora, como as pessoas vivem mais tempo e o estigma do aconselhamento psicológico diminuiu, elas reconhecem que a terceira idade pode ser mais fácil se aliviarem os problemas que carregam há décadas.
“Nos últimos cinco anos, temos visto mais octogenários, muitos dos quais nunca fizeram terapia antes”, diz Dolores Gallagher-Thompson, professora de pesquisa no departamento de psiquiatria na Universidade Stanford. “Geralmente, eles tentavam outros recursos, como a igreja ou conversar com a família. Eles perceberam que estão vivendo mais tempo. Se você tiver mais dez ou 15 anos, por que se sentir infeliz se existe algo capaz de ajudá-lo?”
Muitos lutam com problemas de saúde mental deixados de lado há décadas, além de preocupações contemporâneas em relação a novos arranjos de vida, finanças, problemas crônicos de saúde, a perda de entes queridos e sua própria mortalidade. Muitos cresceram numa era em que somente os “loucos” buscavam ajuda psiquiátrica. Eles nunca admitiriam para si mesmos – e certamente não para os outros- que algo pudesse estar errado.
A preferência, no entanto, ainda é pela busca dos antidepressivos, apesar deles terem efeitos colaterais desagradáveis e se somar à pilha de remédios que muitos pacientes idosos tomam diariamente. Talvez eles sintam que não dispõem do tempo necessário para explorar a psicoterapia ou que é tarde demais para mudar.
Porém, muitos tem abraçado com entusiasmo a terapia através da palavra no lugar dos antidepressivos, em especial técnicas comportamentais cognitivas concentradas em modificar padrões de pensamento e comportamentos que afetam sua qualidade de vida no aqui e agora. De acordo com especialistas citados no New York Times, os idosos costumam ter um índice de satisfação mais elevado na terapia do que gente jovem porque costumam encará-la com maior seriedade. O tempo é crítico e os objetivos geralmente são bem definidos. “Os pacientes idosos sabem que o tempo é limitado, precioso e não deve ser desperdiçado”, disse Abrams
Uma paciente de 69 anos começou a se sentir melhor com o tratamento. “Aprendi a ajustar meu pensamento e não fico tão ansiosa quanto antes”, diz Judita, que desde então começou a fazer e vender joias.
Mesmo após a melhora de seu quadro inicial diversos idosos permaneceram em um acompanhamento mensal, apenas para relatarem suas experiências recentes e um deles justifica sua permanência no tratamento da seguinte maneira: “Talvez não seja possível ganhar um vislumbre mágico e solucionar vidas inteiras na terapia, mas pode ser possível conquistar uma ou duas metas pequenas e significativas”.
Por vezes, os pacientes idosos precisam é de ajuda para colocar a vida em perspectiva. “As coisas podem ser vistas de forma diferente na terceira idade, aliviando uma culpa e desafiando suposições adotadas há décadas”, disse Abrams. “‘Talvez não tenha sido tão horrível, afinal; quem sabe eu não devesse me culpar.’ Talvez seus piores erros não fossem tão graves e, quiçá, existissem circunstâncias inevitáveis e incontroláveis”.
Tolkin é um dos pacientes que ainda vai ao consultório para o checape mensal. “Todo mundo tem uma dose de tristeza na vida; a questão de como lidamos com essa dor é o ponto central da vida”, disse Tolkin. “Descobri que minha atitude era importante, e que eu tinha que reforçar o lado positivo o tempo todo.” Ele disse que gostaria de ter tentado a terapia décadas atrás, mas conclui: “Não posso voltar atrás, só seguir em frente”.
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]