Eugênio Maria Gomes
Os dois últimos textos publicados nesta coluna causaram certa polêmica. De fato, abordar a mediocridade não é tema fácil. Porém, percebi, pelos inúmeros comentários postados nas redes sociais e em outros veículos de comunicação, que apenas aqueles verdadeiramente medíocres é que se incomodaram. A imensa maioria dos comentários foi amplamente positiva.
Percebi também, como acontece com qualquer texto, de qualquer autor, que muitos leitores acabam correlacionando o teor da narrativa, os fatos mencionados, as palavras escritas, a pessoas ou fatos específicos. Isto não é verdade. Os textos tratam de particularidades do gênero humano, não de pessoas determinadas. Mas, este fenômeno é muito natural, pois a palavra, os textos, os contos, os artigos, quando são publicados, deixam de pertencer ao autor e passam aos domínios do leitor, que os interpreta, julga e aplica, da forma que lhe aprouver.
Mas, os motivos de termos abordado esse assunto, é menos para repeti-lo e mais para destacar que, ao reler os textos, não pude deixar de perceber certo “ar pessimista”, nas entrelinhas. Verdadeiramente, não se pode deixar de perceber que uma onda de pessimismo generalizado, abateu-se sobre o nosso país. Afinal, motivos não faltam para tanto…
Porém, também não posso deixar de perceber que nem tudo está perdido… Aqui e acolá, há sinais de que algo positivo pode surgir após a tempestade que enfrentamos.
Nas manifestações ocorridas no domingo passado, quando milhões de pessoas foram às ruas pedir o impeachment da presidenta Dilma, a prisão do ex-presidente Lula e demonstrar apoio às investigações da “Lava Jato”, pudemos observar alguns desses sinais.
A presidenta Dilma, não obstante a forte pressão que sofre neste momento, algo capaz de tirar o sono de qualquer mortal, na véspera das manifestações fez um ponderado pronunciamento solicitando aos apoiadores do seu governo que não fossem às ruas no dia seguinte, como forma de evitar qualquer confronto ou ameaça ao movimento que demonstra descontentamento com o seu governo. Para quem, até então, andava falando coisas desconexas e sem sentido, a presidente demonstrou firmeza, senso democrático e civilidade. Ela contrariou, com este ato, os senhores Rui Falcão e Lula, respectivamente presidente e presidente honorário do Partido dos Trabalhadores, que durante a semana se manifestaram, incisivamente, para que os militantes do partido fossem às ruas no mesmo dia, demonstrando claramente o desejo de confronto.
Na manifestação ocorrida em Brasília, quando milhares de manifestantes ocuparam a área em torno do Palácio do Itamaraty, aconteceu algo bonito de se ver: ao término do evento, os manifestantes foram deixando o local onde se reuniram e fizeram filas para atravessarem as avenidas no entorno, utilizando-se exclusivamente das faixas destinadas aos pedestres. Uma excelente prova de civilidade.
Olívio Dutra, um dos mais antigos e representativos membros do PT, durante entrevista concedida ao jornalista Roberto D’Ávila mostrou muita serenidade em seus argumentos, defendeu a ideologia do partido, mas deixou clara a sua indignação com o rumo tomado por muitos de seus dirigentes, que conseguiram transformar a legenda em uma das mais corruptas de toda a história republicana.
O ex-ministro deve ter contrariado, inclusive, a maioria dos militantes do partido que não conseguem ver nas atitudes do governo e dos atuais dirigentes da sigla qualquer desvio de conduta. Estão cegos pelo desejo de perpetuarem-se no poder. Esqueceram que o maior patrimônio que detinha o Partido dos Trabalhadores – o patrimônio ético -, foi abandonado e vilipendiado, substituído pela maquiavélica ideia de que os “fins justificam os meios”.
O senador Cristóvão Buarque, um dos homens públicos mais íntegros do país, continua, incansavelmente, sua jornada em favor da Educação. Não esmorece. Não desiste. Não se entrega. Mesmo diante do descaso, mesmo longe dos holofotes da mídia, continua sua empreitada, fiel aos seus princípios.
Uma nova geração de juízes, de promotores, de delegados, de policiais federais vem demonstrando que uma boa parte da nossa sociedade rejeita e combate o crime, o abuso do poder econômico e político, a má fé. Eles dão sinais de que, em um futuro próximo, talvez consigamos abolir, definitivamente, o que de mais pejorativo pode haver no trágico “jeitinho brasileiro”.
Sim, acredito que nem tudo está perdido. Passada essa fase onde nossas mais profundas mazelas estão escancaradas, cotidianamente, na mídia, pode ser que consigamos reconstruir o Estado brasileiro, substituir os alicerces das nossas relações sociais e inaugurar uma nova era onde impere a honestidade!
Depois da luta vem a vitória, depois da tempestade a bonança, depois da humilhação a exaltação, depois da tristeza a alegria, depois do choro o lindo canto de vitória, pois não há mal que dure para sempre…
PS- No momento em que terminava este texto, a TV noticiou o inteiro teor da “Delação Premiada” do Sr. Delcídio Amaral… Da letra A, de Aécio, à letra S, de Sarney, poucos foram poupados… Para completar o quadro, a “criatura” Dilma nomeou, para Ministro de Estado, o seu “criador”, Lula. É o tal “jeitinho” brasileiro sendo utilizado, de forma escancarada, pela nossa presidenta. Pouco tempo depois, o sigilo das interceptações telefônicas do ex-presidente foi quebrado, dando ciência à população de toda a podridão em que está mergulhado o comando do país e de como ele faz pouco do Poder Judiciário, da Lei e do cidadão. Tão vergonhoso quanto o conteúdo das gravações é o nível das conversações.
Estou envergonhado… Enojado! Mas, crente de que nem tudo está perdido. Esta esperança, agora, vem do Judiciário, expressa nas palavras do Decano do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Celso de Mello: “Ninguém, absolutamente ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição de nosso país, a significar que condutas criminosas perpetradas à sombra do Poder jamais serão toleradas, e os agentes que as houverem praticado, posicionados, ou não, nas culminâncias da hierarquia governamental, serão punidos por seu juiz natural na exata medida e na justa extensão de sua responsabilidade”
* Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da Unec. Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do MAC, do Lions Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.