INHAPIM – Todos acompanharam a história da pequena Mel Marinho Martins, portadora da mielomeningocele, doença que a impossibilita de andar. Em busca de proporcionar os primeiros passos à filha, Talita Marinho Martins realizou uma campanha para arrecadar o montante necessário para a realização de um tratamento na Tailândia.
Foram arrecadados pouco mais de R$ 130 mil. Talita e Mel embarcaram no último dia 20 de fevereiro. No hotel, associado ao hospital havia enfermeiras disponíveis 24 horas. Inicialmente foram realizados
exames e elaborada uma programação para o tratamento, que exigiu ainda uma dieta equilibrada.
No segundo dia, ela realizou sessões de acupuntura, fez fisioterapia, terapia ocupacional e a primeira sessão de câmara hiperbárica. O próximo passo foi o transplante de células tronco (cinco dias de transplante e oito bolsas de células tronco).
O sábado (12) foi o último dia de tratamento de Mel. A família já está em casa na cidade de Inhapim. O DIÁRIO DE CARATINGA esteve no local e conversou com Talita. Ela falou sobre o progresso da filha.
Mel recebeu a reportagem e contou sobre a estada na Tailândia. Ela se referiu à médica da terapia aquática como “tia sereia” e ao médico como “doctor”. Ela também ganhou um apelido carinhoso da equipe médica: ‘Meal’, que significa gato em Tailandês. A brincadeira surgiu da proximidade do nome de Mel com a palavra.
Segundo Talita, a recepção na Tailândia superou suas expectativas e apesar de algumas dificuldades de adaptação, os resultados foram positivos. “Foi incrível, os profissionais nos receberam muito bem. Apesar de não falarmos a mesma língua, eles são muito carismáticos, atenciosos. Ficam o tempo todo tentando te deixar à vontade, facilitar o tratamento. Foi bem tranquilo, fora as diferenças de alimentação, temperatura, porque lá é muito quente, todos os espaços são acondicionados, mas você sai do quarto passa por um calor ou sai de uma clínica. Então ela até chegou a ficar um pouquinho resfriada, mas foi tratada”.
Em relação ao transplante de células tronco, há duas possibilidades de aplicação. Talita explica qual se adequou melhor ao caso de Mel. “Poderia ser feito diretamente na medula, só que a pressão craniana pode aumentar e como ela tem hidrocefalia, o aumento dessa pressão pode causar algum dano à válvula. Então todos os transplantes dela foram intravenosos, através da veia. E como foi no pezinho, que ela tem sensibilidade diminuída, ela nem percebia. Era tudo lúdico, distraidamente e ela ficou bem”.
A chegada ao hospital exigiu paciência de mãe e filha. Os profissionais só falam em inglês, por isso foi necessário um tradutor. “Em um momento a Mel ficou um pouquinho nervosa porque ela fica ansiosa por não conseguir ser entendida. Ela conversava com os fisioterapeutas e eles falam inglês e tailandês. Ela não conseguia entender, às vezes tinha aquela tradução, mas não é a mesma coisa. Mas, depois ela foi se adaptando”.
Mel não era a única brasileira que fazia tratamento no local, mas a única portadora de mielomeningocele. O encontro com outros pacientes facilitou a sua adaptação. “Como ela estava nervosa com essa história de não ser entendida, foi ótimo pra nós que encontramos mais duas famílias do Brasil, duas de portugueses e uma de angolanos. Todos conviviam falando em português”.
Talita também conseguiu outros apoios importantes e que facilitaram o seu tratamento. Ela também conheceu o ex-prefeito de Belém do Pará, Duciomar Costa, que também realizava um tratamento no local e se comprometeu a ajudar no tratamento de Mel. “A Mel fez um amigo chamado Rodrigo, que tem paralisia cerebral. Também tinha o ex-prefeito de Belém do Pará, que não tem diagnóstico, mas começou a ter problemas motores graves, já tentou todos os recursos no Brasil e não conseguiu desenvolver. Como ele ficou muito amigo da Mel, ele vai nos apoiar, qualquer questão que a gente precisar e se for necessário ele vai me dar apoio também para ir aos Estados Unidos, ele tem casa lá, caso precise de outro profissional”.
PÓS-TRATAMENTO
Agora é a fase de pós-tratamento. Mel vai passar por terapia ocupacional, fisioterapia, câmara hiperbárica e acompanhamento rigoroso com nutricionista, pois a alimentação influencia no desenvolvimento das células.
Já é possível perceber pequenas evoluções no quadro de Mel, motoras e neurológicas. Talita está bastante otimista com o tratamento. “As células tronco também desenvolvem a questão neurológica, o desenvolvimento da fala, atenção, que tem uma chance na má-formação dela de ter esse atraso e já se percebe o ganho. Percebemos também nos movimentos motores. Ela já engatinha com mais agilidade, já está sentindo partes que não sentia, já movimenta os dedinhos do pé e ela nunca tinha feito isso. Ela mexia o joelho e o pé ia, agora ela consegue mexer o pezinho”.
É possível que dentro de um ano Mel retorne à Tailândia. Mas, enquanto isso, o acompanhamento da paciente será feito online. “Todos os profissionais receberam orientação de como será feito o tratamento aqui. Ela terá de fazer terapias, acompanhamento nutricional, para que ela possa ter o máximo do desempenho das células”.
O caso de Mel ficou bastante conhecido e a coragem de Talita, que sempre acreditou que seu sonho poderia se realizar. Isso motivou outras famílias que passam por problemas parecidos. “Fui procurada por diversas mães que têm filhos com a mesma doença que ela, querendo saber se é confiável, porque as pessoas também tem medo de correr algum risco. Mas, esse hospital que fizemos o tratamento, nunca houve caso que a criança regrediu, sempre houve desenvolvimento. Isso foi bem pesquisado e estou conversando, mostrando exames e documentos”.
Sem a colaboração das pessoas que se sensibilizaram com a história, a garota não teria passado pelo tratamento. Por isso, Talita faz questão de agradecer as doações que foram realizadas. “Quero agradecer, porque se não fosse a união das pessoas a Mel não teria feito esse tratamento, não estaria mais desenvolta e talvez nunca pudesse caminhar”.