A principal característica de um teólogo deveria ser a generosidade.
Por quê?
Ele/ela escolheu e determinou buscar a Deus, a verdade sobre a origem de tudo. Ao se aproximar de seu Criador, e na medida em que vai conhecendo-o mais e mais, descobre que uma das principais características dele é a sua ilimitada capacidade de repartir, de dar, de dar abundantemente. Como que por osmose, a graça e a exuberância da bondade divina atingem e comovem profundamente o nosso coração.
Somos todos carentes em algum sentido. Mas o nosso Criador não se limita a alimentar nossa alma – ele certamente está interessado na satisfação pessoal e integral de cada um de seus filhos.
Desde a primeira vez que li gostei demais de como ‘nosso’ teólogo belga, Pe. José Comblin, interpretou o plano social de Levíticos 25 (Introdução Geral ao Comentário Bíblico):
[…] a opção de Deus pelos pobres não é um aspecto acessório da Bíblia: é o próprio núcleo da revelação […] Ela nos obriga a entender a totalidade da história num sentido bem preciso. A opção pelos pobres é precisamente o que nos dá a conhecer a essência de Deus. É a novidade cristã que diferencia o Deus cristão dos outros deuses da humanidade, quer dos deuses das filosofias, quer dos deuses das religiões. (P.14-15)
Outro, Timo Veijola, de origem alemã, em seu comentário sobre o livro de Deuteronômios, se mostra muito consequente em suas afirmações. Sobre o versículo 7 do capítulo 15: Quando algum de teus irmãos for pobre, em qualquer das cidades na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o coração, nem fecharás a mão para teu irmão pobre – Veijola escreve assim: “Quando o coração é socialmente sensibilizado, a mão não consegue ficar fechada, mas irá se abrir e voluntariamente emprestará aos necessitados, não importa qual a sua necessidade.” (P. 313)
Creio piamente que foi isso que aconteceu no dia de Pentecostes, e que deu início ao movimento liderado pelos apóstolos de Jesus e ao qual nós pertencemos, e que ‘transtornou o mundo’.
E mais: foi também a experiência de Zaqueu, relatada no Evangelho de Lucas (cap. 19), a comovente história daquele bem-sucedido profissional da Receita Federal que alimentava um desejo ardente de se encontrar com o tão falado Jesus. Sem que o Messias dissesse uma palavra sobre seu passado, e a origem de sua riqueza, aquele pequeno grande homem fez, com alegria, a escolha de devolver o que tinha roubado, e ainda doou a metade de seus bens para os pobres.
Que escolha diferente!
Zaqueu foi consequente, e como disse Jesus em oratória cativante, ‘hoje veio a salvação a esta casa, pois este é filho de Abraão.’
O movimento social dos primeiros seguidores do Messias dos judeus e de todos nós, gerador de uma comunidade com “nenhum necessitado”, foi obra do Espírito de Deus.
Um toque sobrenatural fez com que aqueles que tinham mais do que precisavam, entregassem para ser distribuído entre aqueles que eram carentes.
Imagine como seriam nossas comunidades de fé se pudéssemos nos abrir para esse mesmo mover do Espírito?!
Imagine o que aconteceria em sua casa, na hora do almoço, quando você se desse conta de quanta comida sobra?!
E por que não pensamos em comprar menos, e em fazer uma feira ou cesta básica para os irmãos?
Irmãos com quem talvez já tivemos momentos de profunda adoração assentados no mesmo banco do templo!
Ou um gostoso papo na roda de amizade ou a comunhão calorosa em oração na célula…
Ou, quem sabe, a quem nós nunca permitimos chegar perto de nossa mesa… Mas em cuja mesa talvez falte muita coisa, ou mesmo tudo…
Escolhas certas por causa de uma abençoada imaginação!
Vivemos numa época em que há muita gente ao nosso redor sofrendo por causa de necessidades materiais.
Talvez não consigam pagar o aluguel, ou a luz está atrasada três ou quatro meses. O dinheiro do salário acabou dia 15 e ainda faltam 15 dias para comer e viver! Ou, não há mais cheque de salário, porque ele/ela foi mandado embora. A doença está exaurindo o restante das finanças. E lá vêm as outras necessidades…
Onde fica a Teologia no meio de uma realidade cheia de necessidades?
Pensar e agir – a Teologia se inspira nos exemplos do passado. Ela nos mostra toda a criatividade na generosidade divina, e nas tantas intervenções de nosso Salvador, e dos seus seguidores.
Muitos não conseguem pensar assim porque em suas vidas aconteceram muitas coisas que não eram esperadas, e que deixaram marcas profundas.
A Teologia lembra, porém, que é momento de agir, de praticar uma ação com o coração. E, como nos é dito tão claramente, ‘é dando que se recebe’. Você está triste, desanimado porque algo não aconteceu? Comece a levar alegria para o seu próximo, dando – e você também receberá!
Vamos imaginar Caratinga, Manhuaçu, Teófilo Otoni – toda essa nossa região como um lugar onde se faz a escolha certa, onde as pessoas são consequentes, onde todo o necessitado é ouvido e ajudado!
É isso que imaginamos: o milagre da transformação do inconsequente em c o n s e q u e n t e!
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