*Eugênio Maria Gomes
Neste campeonato brasileiro, que é um campeonato de futebol, algo estranho está acontecendo. E por que está acontecendo algo estranho? Porque acho estranho o que está acontecendo neste campeonato. O campeão – nascido em um lugar – é um campeão nato daquele lugar, por isso falamos campeonato. Mas, voltando ao “algo estranho”, não aquele estranho no ninho, até porque nenhuma ave-mãe deixaria um estranho ficar no seu ninho. Pois então, algo estranho está acontecendo. Eu vou falar para vocês, algo estranho está, irá ou já aconteceu.
Nós, por exemplo, ocupamos uma posição que poucas mulheres ocupam no mundo. Aqui no Brasil, penso eu, nenhuma outra mulher ocupou, por isso acho estranho que logo o nosso time sofra estas barbáries. Sim, nós nunca quisemos falar para qual time torcemos. E por que não falamos? Porque todo mundo já fala que a gente fala demais e, por isso, falamos pouco. Até pensamos muito, mas falamos pouco. Acho que esta tem sido uma boa estratégia para combater os que dizem que falamos muito, porque se não falamos, eles não têm o que falar.
Mas, voltando às barbáries, que barbáries são estas? São barbáries muito sérias, que podem até fazer com que o campeão não seja aquele time nato de um lugar, mas de outro lugar. E que lugar seria este? Qualquer lugar, inclusive, aquele lugar.
Quando eu era pequena, as pessoas falavam para eu torcer por outro time. Mas eu pensei: por que torcer por outro time se eu tenho um time aqui bem perto que é um bom time. Falam até que eu não entendo de time, mas time a gente não escolhe, a gente ama. E eu amo o meu time. E por que eu amo o meu time? Porque um time é para ser amado. Se eu quisesse, poderia até torcer por outro time. Mas, aí eu pergunto: para quê outro time? Qualquer time pode sofrer estas barbáries que, hoje, assolam o meu, o seu, o nosso time.
E que barbáries são essas? São barbáries sérias! Eu nasci e fui criada no Sul do país. Sim, o país tem o Norte – que são as pessoas que moram na parte de cima do mapa, e tem o Sul, cujos moradores se encontram naquela parte de baixo do mapa. O mapa de que nós falamos é aquele mapa do Brasil, que todo mundo conhece. Eu prefiro ver o Brasil no mapa de papel, porque no globo – aqueles globos que existiam nas bibliotecas – sempre achei muito difícil. Mas, nós somos um pouco daqui e um pouco de lá. Quando o assunto é o futebol, a gente pensa que até poderíamos torcer tanto por um time daqui, quanto por um time de lá, muito embora, talvez, o campeão não seja nato de um lugar que me interessa. Ou será que interessa? Interessa a quem? Se interessar a eles, que torçam então para o time deles. Mas, não podemos aceitar que um time vença e o outro não vença.
Se nós fossemos juiz de futebol, talvez pensássemos um pouco diferente destes que estão por aí. E por que nós pensaríamos diferente? Pensaríamos diferente porque as pessoas não pensam igual uma às outras. As pessoas pensam diferente. E pensam diferente justamente porque não são iguais. Porém, como o assunto é o futebol, talvez nós também pensássemos em facilitar a vida do nosso time daqui, ou de lá. Nunca o daquele lugar.
Nós só gostaríamos que todo árbitro – e não podemos nos esquecer de que um árbitro também é um juiz de futebol – que ele fosse um bom juiz. Aliás, nós preferimos o termo “árbitro” porque o termo “juiz” me faz lembrar
algumas coisas que não batem bem conosco neste momento. E por que não batem bem? Porque nem tudo que bate é bom. Mas, nós não perderemos o raciocínio, até porque o raciocínio é algo muito importante que nós temos, que você tem, que todos têm. E por que nós temos? Porque temos essa coisa boa na nossa vida. Então, quero dizer para vocês, que não podemos concordar com o quê alguns árbitros estão fazendo com o nosso time. São barbaridades!
Nós acreditamos que muita coisa ainda irá acontecer. E irá acontecer com muitos times, inclusive com o seu. Se tem acontecido com o nosso, por que não pode acontecer com o seu? Não que o nosso seja pior ou melhor que o seu, mas o meu é meu, o seu é seu e o nosso é nosso. É assim que as coisas têm de ser.
Brasileiros e brasileiras, na verdade ninguém sabe o que está acontecendo, mas eu penso – na verdade, nós pensamos – que algo está acontecendo. Por isso, a gente gosta de dizer: se algo está acontecendo é porque alguém está fazendo esse algo acontecer.
Acreditamos que fomos bastante claros na nossa colocação. Porque é assim que nós gostamos que as coisas sejam, bem claras. E por que devem ser claras? Porque as coisas claras não são escuras e as escuras, não são claras.
Deus salve o campeonato brasileiro, porque do Brasil eu já estou cuidando!
Assinado: uma torcedora (não posso falar o nome do meu time, porque o meu time é o seu, o meu, o nosso time!).
*Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração do Centro Universitário de Caratinga. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. Grande Secretário de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil – Minas Gerais.