*Irianna Chaves Spínola Barbosa
Ele não bate nela, mas a ofende por tudo e por nada, usando todo tipo de palavras depreciativas que conhece e outras que inventa na hora.
Ele não bate nela, mas a xinga toda vez que se sente irritado, contrariado ou simplesmente porque lhe veio o quanto a despreza como pessoa e como mulher.
Ele não bate nela, mas não se furta a constrangê-la na frente dos filhos, dos amigos, dos familiares.
Ele não bate nela, mas a persegue contrariando suas ideias, abusando de suas opiniões, reclamando de suas decisões.
Ele não bate nela, mas quer controlar o que veste, o que assiste, o que come, o que fala, o que pensa.
Ele não bate nela, mas a humilha falando do seu peso quando ela pede uma sobremesa…
Relacionamentos abusivos são mais comuns do que se pensa! Um relacionamento abusivo é muito mais que abuso físico. O assédio moral e a pressão psicológica também têm um impacto profundo e não podem ser menosprezados ou considerados ‘normais’. Até porque, esse tipo de comportamento pode evoluir para casos de violência física.
A maioria das pessoas que vivem relacionamentos assim sofre em silêncio. Sabem que tem algo errado ali, que aquele relacionamento não acolhe, não respeita, não traz paz. Mas não conseguem se libertar deles por medo dos parceiros, por falta de autoestima, por dependência ou até por vergonha de se expor e de serem julgadas. As mulheres jovens são o grupo mais vulnerável.
No Brasil, 42% das mulheres entre 16 e 24 anos sofreram violência em 2018, de acordo com a Pesquisa Visível e Invisível 2019, promovida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Felizmente esse problema já vem sendo tratado com maior abertura e seriedade pelas autoridades e pela mídia.
Com a disseminação de informação sobre como identificar uma relação do gênero em que buscar ajuda, e também com o fato de algumas celebridades já terem sido vítimas de companheiros agressivos e falarem publicamente sobre o assunto, vem-se ganhando muitas batalhas no combate ao estigma.
Como pais, fazer a nossa parte significa educar nossos filhos para o respeito próprio e mútuo. Quando os tratamos bem, com acolhimento, com respeito e amor, deixamos claro um padrão de comportamento a ser desejado e perseguido, evitando que aceitem qualquer migalha em troca de dizer que têm um namorado(a), marido/esposa ou companheiro(a).
A independência financeira evita que mulheres aceitem qualquer tipo de tratamento por necessidade de um “patrocinador”, enquanto a independência doméstica evita que os homens aceitem qualquer coisa para ter uma “empregada doméstica”. Isso para começo de conversa. O que faz com que homens e mulheres embarquem em relações abusivas envolve muitos outros aspectos de suas personalidades e condições ambientais.
Saber que não precisam continuar nesses relacionamentos é o primeiro passo para transformar o sofrimento em paz. Isso pode ser alcançado com terapia, amor próprio e aceitação, pois quando uma pessoa se aceita, ela se liberta do peso de ter que receber a aceitação do outro. Ame-se! Aceite-se! Viva um relacionamento feliz!
*Psicóloga e educadora, atua há mais de 25 anos com crianças e adolescentes. Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Caratinga-UNEC, licenciada em Ciências e Matemática e pós-graduada em Matemática Superior pela Fundação Educacional de Caratinga (FUNEC). Especialista em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Possui estudos complementares e especializações em Neuropsicologia, Técnicas, Testes de Avaliação Neuropsicológica, Diagnóstico Psicológico Infantil, Ludoterapia, Orientação de Pais, Terapia Cognitivo Comportamental com Crianças e Adolescentes e Treinamento de pais pelo Centro de estudos Avançados em Psicologia- CEAP-MG e Deficiências – estratégias e intervenções no contexto clínico, educacional e institucional.