Simone Aparecida de Sousa Capperucci
Algumas apreensões perpassam os diferentes sujeitos que utilizam ou atuam no universo da educação brasileira, sendo uma profissional do magistério, as minhas inquietações não poderiam ser diferentes, apesar de um pouco mais contundentes que as de alguns; por isso gostaria de fazer uma reflexão sobre a educação brasileira e para acompanhar-me gostaria de refletir à luz de um filósofo francês chamado Michel Foucault, que trabalha noções de sujeito e as relações de saber e poder que perpassam a sociedade.
A educação no Brasil iniciou-se com os jesuítas, com a finalidade de “domesticar” os que aqueles que adentravam e conseguiam sobreviver nesse universo garantiriam a sua ascensão social, poucos sobreviviam e as relações de estratificação eram mantidas.
Com o discurso de democratização, consolidado na Constituição de 88 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 96 o discurso do acesso a todos à educação pública brasileira ganhou forças e junto ao acesso promove-se a tentativa de permanência, mas e a qualidade? As relações de estratificação social foram mantidas e a escola continua um universo de poucos, mesmo sendo povoada por muitos.
Diante de tantos discursos políticos partidários, faz-se necessário que os sujeitos que atuam no espaço escolar promovam debates que transformem a instituição escolar num espaço de discussão sobre o que servimos e a quem servimos. O que é a educação brasileira? Quais são as mudanças necessárias?
Foucault, através dos estudos da desconstrução, possibilita a educação fazer a mudança porque, como intelectual, não se descaracterizou como ser, como homem não se descorporificou. Ao contrário, fez-se cada vez mais humano para discutir as relações de poder entre os homens. Não se envergonhou dos índios, de forma a atender os interesses dos invasores portugueses e, desde então, a educação tem cumprido seu papel de manter a “ordem vigente”, atendendo aos interesses das relações de poder.
Durante muito tempo, a escola constituiu-se num espaço de privilégio de poucos, considerando fraquezas humanas, tampouco fingiu não possuí-las. Sendo sociólogo fez-se homem, como filósofo auxilia-nos a compreender as relações entre os homens, como historiador aproximou o homem da Sociologia, da Filosofia, como poeta encanta os homens ao aproximar-nos um pouco mais de assuntos tão profundos, através dos microespaços nos quais esses são constituídos.
Através de suas análises, Foucault, nos mostrou que a História é constituída a partir de reconstruções feitas através dos espaços vazios. Nenhum conhecimento é totalitário, nenhuma verdade é absoluta, a incompletude é característica intrínseca de tudo o que é humano ou faz parte do universo humano.
A crise é o início de qualquer criação, não deve ser fator de descrença, desesperança. Daí o valor de Foucault para a educação brasileira, através dele, pode-se visualizar uma educação diferente, construída sob novos valores.
Através de seus estudos e do envolvimento com as regras do discurso, Michel Foucault auxilia-nos a perceber a educação como espaço de lutas em função da manutenção do poder, ao mesmo tempo em que as instituições escolares são o local através do qual as relações de poder podem ser modificadas.
Assim não cabe aos envolvidos do processo educacional a passividade daqueles que acreditam que assim deve ser, tampouco a descrença daqueles que não percebem como modificar. Através da análise de como a educação foi construída e em que situação se encontra, os atores do processo ensino-aprendizagem, tomando consciência de onde se deseja chegar, podem fazer as mudanças necessárias tornarem-se possíveis.
* Simone Aparecida de Sousa Capperucci, Formada em Língua Portuguesa e suas literaturas pelo Centro Universitário de Caratinga (UNEC) em 1997 , pós -graduada em Língua Portuguesa em 1998 pelo UNEC,especialização em Literatura e Línguística aplicada em 2005 .É professora de Língua Portuguesa nas séries finais do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino do Estado de Minas Gerais, desde 1996, mestre em Educação e Linguagem pelo UNEC em 2010. Professora do Centro Universitário de Caratinga nos cursos de Pedagogia, Letras.