*Eugênio Maria Gomes
São muitos os problemas brasileiros. Vivemos uma crise ética, sem precedentes. “Nunca, na história deste país”, presenciamos tanta falta de decoro, de honestidade e de seriedade na gestão da coisa pública. E não adianta mais os defensores deste desgoverno falarem que “não se rouba mais hoje não, a publicidade e a apuração é que têm sido maiores”, porque tal argumento soa totalmente sem sentido, haja vista ser esta a primeira vez que o país corre o risco de “quebrar” por conta do mau uso da máquina estatal e da roubalheira virulenta que tomou conta da administração pública.
Mas, não é a falta de ética o nosso único problema…
Nossa saúde pública anda de mal a pior. Aliás, esta, sim, nunca foi boa. O descaso dos sucessivos governos com a saúde da população é vergonhoso. Pessoas morrem, todos os dias, por falta de atendimento adequado nos hospitais e nos postos de saúde. Para completar, a crise financeira tem feito com que vários planos de saúde restrinjam atendimentos e dificultem a sua utilização pelos que podem e pagam para terem o acesso particular aos cuidados com a sua saúde.
E a área de Transportes? Com raras exceções, nossas cidades são deficitárias na oferta de transporte de qualidade aos usuários. Trens lotados, ausência de linhas de ônibus e pontos de embarque e desembarque sem qualquer estrutura ainda são comuns em grande parte do país. Estradas mal conservadas, traçados inadequados, sinalização deficiente proliferam Brasil afora, colocando em risco a vida de motoristas e passageiros.
Porém, é na Educação que vamos encontrar o pior de todos os nossos males. O país continua dormindo em berço esplêndido, de olhos fechados para o que, de fato, pode transformá-lo em nação próspera e feliz para os seus filhos. Escolas mal conservadas ou, simplesmente, a falta delas, é apenas uma ponta do iceberg. Currículo arcaico, falta de preparo de boa parte do corpo de educadores e remuneração pífia para os profissionais que atuam na área são questões que corroboram os péssimos resultados da nossa Educação.
E o pior: como poucos se aventuram na incursão pela vida docente, muitas escolas voltadas para a formação de professores têm fechado suas portas e, as que insistem em seu ideal, veem cada vez mais diminuir o número de candidatos interessados em seus cursos, fazendo com que a seleção de futuros professores fique comprometida. É que, de tão desvalorizada a profissão, são raros os vocacionados para o enfrentamento das duras condições impostas aos docentes. Hoje, boa parte dos alunos dos cursos de licenciatura é fruto da pura falta de opção, sem muito comprometimento, pelo menos inicial, com o processo educacional. Sem falar que a baixa concorrência na entrada tem feito com que as escolas de ensino superior, de maneira especial as privadas, se desdobrem em esforços de preparação do aluno.
O descaso com a Educação no Brasil é tão grande e tão antigo que fica difícil deixar de pensar que, realmente, a existência de gente educada não é interessante aos governos. São poucos os casos de escolas públicas – principalmente nas séries iniciais – que conseguem, embora com muita dificuldade, vencer barreiras e oferecer uma Educação de qualidade. A maioria, infelizmente, permanece no patamar da mediocridade. Não porque queiram ou porque gostem, mas por pura falta de estrutura e de motivação de seus profissionais.
Os governos, que sucessivamente criam novos consumidores sob a pecha de que estão criando cidadãos, continuam mais interessados no voto de “agradecimento” do que no voto consciente. Até porque, eleitor educado e consciente costuma ser muito chato, exigente, como os nossos irmãos argentinos, chilenos, uruguaios e ou residentes em muitos outros países que resgataram a Cidadania a partir da Educação. Aliás, a Cidadania é a filha primeira da Educação e, a primeira, simplesmente não existe sem a efetividade da segunda.
A Maçonaria Mineira, neste momento capitaneada pelo caratinguense Eduardo Teixeira de Rezende, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil – Minas Gerais – resolveu atacar de frente a discussão e articulação de grandes temas nacionais, começando pelo cerne de todos os nossos problemas: a Educação e a Cidadania. O GOB-MG lançou o seu Primeiro Concurso Literário, aberto à participação de Maçons regulares de todo o Brasil, jurisdicionados às mais diversas Potências Maçônicas, assim como às suas esposas e filhos. Os melhores trabalhos serão compilados no primeiro volume da obra “Obreiros em Tempo de Articulação”, passando a integrar as bibliotecas maçônicas em todo o Brasil, criando-se a possibilidade de utilização no “Tempo de Estudo” das reuniões da Ordem.
A Educação e a Cidadania brasileiras carecem desta discussão, desta articulação inovadora, para a solução deste antigo problema. Se for preciso, devemos desconstruir, construindo algo novo e melhor, até porque o que existe, grosso modo, não é bom. Talvez esteja na hora de colocar em prática, efetivamente, o pensamento de Rubens Alves: “Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”.
*Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração do Centro Universitário de Caratinga. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni e Grande Secretário de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil – Minas Gerais.