* Celeste Aparecida Dias
No final da década de 80, quando a cantora Sula Miranda fez muito sucesso no Brasil, as pessoas desconhecidas me abordavam em minhas viagens e me perguntavam se eu era parente dela e as conhecidas confirmavam que eu lembrava mesmo a referida cantora.
Em junho de 2014 vivi uma experiência singular de participação em um curso de preparação para captação de recursos com financiadores de terceiro setor e, pela qualidade do curso, marcou muito minha vida profissional. Foram 4 dias de intensa reflexão sobre o assunto, tanto que transformei as 32 horas de curso em 14 páginas de um texto prático, como foi o curso, denominado “Projeto para plano de negócios: Notas de aulas realizadas por Celeste Aparecida Dias, a partir das aulas do consultor Ricardo Falcão”. O objetivo de ter feito esse texto é que também sou professora de Fundamentos da Pedagogia Empresarial, disciplina cujo conteúdo estuda a elaboração de projetos como plano de negócios.
Além disso, pela primeira vez um curso respondeu uma antiga pergunta sobre minha dificuldade de investir no ramo dos negócios que exigem comercialização de qualquer tipo de produto. Feliz com essa resposta, transformei a dinâmica de negociação utilizada pelo professor Ricardo Falcão em uma crônica. Na dinâmica, participaram a empresária, que não me lembro do nome, e uma caminhoneira, representada por mim, por indicação do grupo e cujo professor me deu o nome de Sula. No papel repassado pelo professor estava escrito assim:
Após a publicação da crônica “Quer comprar um caminhão? Faça um bom negócio”, no jornal Diário de Caratinga, recebi parabéns de alguns leitores homens, público alvo que eu desejei atingir, pelo fato de, durante décadas terem sido eles as pessoas que ensinaram as mulheres o significado tradicional de que fazer um bom negócio significava “dar manta” no outro.
Mas durou pouco a grata satisfação de ter conseguido compreender parte de minha história e de ter atingido, pelo menos, pequena parte do público alvo para quem escrevi o artigo. Em certa manhã um amigo me abordou dizendo que alguém lhe afirmou que aquele meu artigo feria os direitos autorais do professor Ricardo Falcão.
No momento, o chão sob meus pés se abriu e eu me recolhi àquele lugar, sem qualquer poder de ação. Passei cerca de dez dias com o mais profundo sofrimento psíquico por ser uma pessoa que a vida inteira mediu suas ações pessoais e profissionais com a régua do respeito aos direitos humanos e aos direitos das pessoas, inclusive os autorais, já que sou também pesquisadora e professora de Metodologia Científica.
Ao recobrar a capacidade de falar, somente respondi à pessoa: “Eu não acredito que eu fiz isso, sou tão cuidadosa com esse assunto de direitos autorais…”.
Não me lembrava mais se eu havia tomado os devidos cuidados de consultar a legislação de direitos autorais sempre que tenho dúvidas, mas acreditava que eu havia feito isso, já que tinha ficado dias estudando os materiais fornecidos pelo professor. Assim que meu amigo se foi, imediatamente consultei a lei dos direitos autorais e reli seu artigo 8º:
Ao reler, lembrei que a interpretação que fiz à época estava relacionada com o inciso II, como grifado no referido artigo. Mas essa releitura não foi suficiente para confortar meu coração. Desde aquele momento da conversa com meu amigo, passa um filme em minha cabeça: como compreender que eu havia deixado a euforia de minhas emoções predominar sobre minha razão? Como eu, que cuido tanto para não provocar sofrimento psíquico nas pessoas, faço isso com um profissional tão sério e que provocou “uma revolução copernicana” na minha vida pessoal e profissional, quando colaborou para eu responder a uma pergunta tão antiga e que me incomodava sempre?
A partir de agora, então, tenho essa nova pergunta que vai seguir comigo por um tempo: Como orientar os professores a proteger os direitos autorais dos materiais que eles produzem para suas aulas?
Celeste Aparecida Dias – Professora Universitária no Centro Universitário de Caratinga. e-mail: [email protected]
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