* Eugênio Maria Gomes
Esta semana foi divulgada a lista com os nomes dos políticos envolvidos no denominado escândalo da Petrobrás, investigado pela operação lava jato. No total, quarenta e sete representantes do povo brasileiro, que cumprem ou que já cumpriram os seus mandatos, a nosso pedido, por força do nosso voto. Na lista, 32 filiados ao PP, 7 filiados ao PMDB, 6 ao PT, 1 ao PTB e 1 ao PSDB.
Do total de políticos que serão investigados, 98% pertencem aos partidos da base aliada do governo federal e os 2% restantes aos partidos de oposição. Está patente, portanto, a rede de corrupção que envolve o governo central do país.
E eu trago estes números à baila por conta de um encontro que tive com um militante do Partido dos Trabalhadores no dia em que se publicou a tal lista. Chega a ser irritante a posição de alguns dos apoiadores do governo federal quando o assunto é a corrupção que tomou conta do país. Quando eles não têm mais nada a dizer, utilizam como argumento o fato de aparecer um ou outro nome de opositores ao governo no emaranhado da pouca vergonha empregada no uso da coisa pública, para justificar o que a “cumpanheirada” fez com a nação brasileira.
É claro que a o ato de corromper e ser corrompido na política e nos governos do Brasil não é uma exclusividade do Partido dos Trabalhadores e de seus aliados. Sabemos que ela existe, infelizmente, em todos os setores, em todos os partidos, nas empresas e nas ações cotidianas de grande parte da sociedade brasileira. O que está em voga no momento é o fato de, há doze anos, desde que o PT assumiu o poder, a corrupção ter saído de um patamar compreensível – mesmo que inaceitável -, para liquidar as instituições públicas e as empresas estatais, transformando-as em mantenedoras de partidos e da boa vida de pessoas que só enxergam o próprio umbigo enquanto enganam o povo com a concessão de pequenos agrados, quase sempre revertidos em votos, os quais os sustentam no poder.
O tal “cumpanheiro” que me abordou sobre o assunto me disse que “aí doutor Eugênio, se até o Anastasia está na lista, qual o problema de o PT roubar um pouco?” Ora, sem entrar no mérito se o nosso ex-governador e, agora, Senador da República, Antônio Anastasia deveria ou não fazer parte desta lista – eu, particularmente acho que não -, que ele seja investigado e pague por seus erros caso seja culpado. O que não se pode e não se deve fazer é flexibilizar os mais básicos valores éticos sob o insustentável argumento de que “fiz porque o outro também fez!”, e assim, tentar justificar o roubo, a apropriação indébita e suas danosas consequências para um país e para o seu povo.
Aliás, a Ética existe justamente para balizar a nossa vida em sociedade, com um padrão mínimo de civilidade. Sem os valores éticos, universalmente aceitos, o Homem ainda estaria nas cavernas. Seus conceitos e conjunto de valores não são flexibilizáveis ou moldáveis a nossa vontade, de acordo com os padrões morais individuais do que é certo e do que é errado. Roubar, subtrair o que não nos pertence, por exemplo, é errado, independentemente de quem roubou, quem foi roubado ou que se roubou!
Essa pueril técnica de tentar justificar seus próprios erros apontando os erros alheios é bem conhecida da Lógica e da Retórica como falácia Tu quoque (Você também). Trata-se de técnica simplória, falaciosa, indigna de alguém medianamente letrado. Através dela, alguém que não tem como justificar seus próprios erros, ou, simplesmente, por não querer admiti-los, e, assim, mudar de atitude, acusa seu oponente de tê-los cometido também, socorrendo-se da hipocrisia do acusador.
Ora, hipocrisias à parte, “um erro não justifica outro!”
O que vemos na imprensa, todos os dias, e no Congresso Nacional, na CPI da Petrobrás é uma constante tentativa de arrastar a investigação desse escândalo para o período anterior ao atual governo, justamente, para tentar justificar a roubalheira atual, através da roubalheira de outrora. Se isso não parar, vamos concluir que a responsabilidade pelo escândalo da Petrobrás é de D. João VI…
Militantes, parem de defender o indefensável. Parem de justificar os erros da “esquerda” a partir dos erros dos “burgueses”, dos “filhinhos de papai”, dos “direitistas”, dos “ditadores” e dos que “são contra o povo”, conforme se costuma chamar os que demonstram oposição ao governo federal.
Quão bom seria se hoje, dia 15 de março, data marcada para diversas manifestações, a militância governista também fosse às ruas. Não para enfrentar manifestantes, mas para pedir que, também, os crimes cometidos pela situação sejam todos esclarecidos e punidos, independentemente de quem os cometeu!
Na gestão da coisa pública, dos recursos dos brasileiros, nenhum projeto de poder, nenhuma vinculação política, nenhuma ideologia pode justificar o que se vê na atual quadra histórica por que passamos. Talvez, se assim desejar o povo brasileiro, honesto e trabalhador, estejamos no momento de darmos um basta a todas essas ações criminosas, e, então, começarmos finalmente a construir uma nação livre, justa e solidária.
* Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.