Numa sociedade que a busca do crescimento desenfreado sem considerar o quão vulnerável é o meio ambiente quando buscamos extrair ao máximo e transformar o capital natural e bens econômicos. Nós, criadores do saber e do bem estar, ainda tratamos o nosso planeta como uma fonte contínua de recursos. E assim vamos. Continuamos sempre em frente. Somos superiores. Achamos que aquilo que temos não é suficiente para viver e por isso a necessidade de consumir mais e mais.
Na verdade, utilizamos tudo que podemos de forma rápida e com baixa eficiência, mas isso não é no mínimo prudente.
Como um amigo alemão me disse certa vez: “A nossa vida é como dirigir um carro, nós não precisamos de acelerar mais e sim de frear menos.” Ou seja, não devemos gastar nossa energia de forma errada e sim viver de forma harmoniosa conosco e com o meio ao nosso entorno, necessitando de menos energia para viver e, assim, exigir menos energia do meio ambiente.
Visto tal necessidade diária de usurpar daquilo que o nosso planeta necessitou de milhares de anos para construir, uma pergunta pode ser feita.
De quantos planetas Terra nós precisamos?
Para sobreviver somente um, mas frente a nossa atual demanda de recursos não temos tantas duvidas assim e seria necessário um planeta e meio para mantermos nossas necessidades diárias.
Essa estimativa é feita com base no Overshoot Day, Dia do excesso ou do debito ambiental da humanidade, em que considera-se a capacidade de suporte do nosso planeta.
O termo descrito inicialmente por Simms em 1987 ao descrever a capacidade de suporte do planeta, que seria o tempo que nós necessitamos para transformar o capital natural disponibilizado pelo nosso planeta durante um período de um ano em recursos para o nosso modelo de consumo atual.
No início, em 1987 no dia 19 de dezembro já teríamos acabado com os recursos que a terra seria capaz de produzir para aquele mesmo ano, ou seja, demoramos 353 dias para consumir tudo aquilo que o nosso planeta seria capaz de produzir em 365 dias.
Nesta perspectiva não estava perfeito, mas dentro da nossa atual visão estava ótimo.
Devido ao crescimento da população e também ao consumismo sem precedentes os anos se passaram e a cada novo ano a capacidade do planeta em sustentar a vida na sua superfície diminui.
Em 1995 o Overshoot Day foi no dia 21 de novembro, em 2000 foi no dia 1º de novembro, em 2005 foi no dia 20 de Outubro, 2010 foi no dia 21 de Agosto e agora em 2015 foi no dia 13 de Agosto. Pelo que podemos observar que durante os cinco últimos anos do Overshoot Day se restringiu ao mês de Agosto.
Podemos notar que possivelmente nós encontramos o limite do planeta ou que existe alguma nova concepção de respeitar, mesmo numa micro escala, a vulnerabilidade dos nossos recursos naturais frente as nossas reais necessidades.
Frente a tudo que sabemos é notório que a forma de que tratamos nosso planeta é o reflexo daquilo que somos e do que queremos.
Somos consumistas insaciáveis e queremos sempre o novo.
De fato podemos estar vivendo um novo tempo de muitas descobertas.
Que talvez a nossa meta seja de saciar o desejo de buscar o novo, um planeta com características próximas a da Terra, de se mudar para lá e consumi-lo à vontade.
No entanto, atualmente “nós não vamos colocar uma meta. Vamos deixar uma meta aberta. Quando a gente atingir a meta, vamos dobrar a meta”.
Talvez essa seja a nossa solução.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA