Marco Antônio Gomes
O Cuidado Paliativo surge como uma proposta humanitária de cuidar de pacientes em estado terminal, aliviando a sua dor e o sofrimento. Entre outras ações, esse cuidado prevê a ação de uma equipe multiprofissional, em que cada profissional necessita reconhecer o limite de sua atuação, contribuindo assim com a dignidade da vida e morte de seu paciente. Conceitos, como o da bioética, são pertinentes nesse contexto e englobam sempre o bem-estar daqueles que sofrem como nas doenças crônicas. A morte faz parte da vida, está presente na guerra, conflitos civis e sociais, nas epidemias e nas doenças crônicas, onde, muitas vezes, está fora de possibilidades terapêuticas, quando a medicina já não possui mais recursos para detê-la.
Segundo Kovács (2003), durante todo o processo de desenvolvimento vital, há um entrelaçamento da vida e da morte, sendo que essa, revela a integridade da vida, manifestando o sentido da mesma, visto que somente ao vivenciar sua própria finitude o homem alcança a totalidade e a plenitude de sua humanidade.
A problemática da dor e do sofrimento não é pura e simplesmente uma questão técnica, mas sim de uma das questões éticas contemporâneas de primeira grandeza (PESSINI 2002). O sofrimento suscita empatia traduzida em ação humanizada. O sofrimento suscita respeito, o qual igualmente gera temor, medo, onde são percebidas toda fragilidade, vulnerabilidade e mortalidade, dimensões da própria existência humana. Nessa direção, frente a esse cenário, gerador de sofrimento, é possível pensar em uma política que privilegie a assistência e cuidado ao ser humano, quando as possibilidades terapêuticas já não são mais possíveis. A esse papel, dentre outros, se propõe a psicologia hospitalar frente à sua participação e aos cuidados paliativos.
É possível afirmar que a medicina paliativa, apenas por si, não pode dar uma melhor qualidade de vida ao doente fora de possibilidades terapêuticas se não for combinada com o apoio psicológico especializado. Tal apoio é importante, na medida em que o doente vivencia para além dos sintomas físicos, sintomas psicológicos que se vão manifestando ao longo da fase terminal.
Para Küller-Ross (2008), é importante olhar o paciente como sujeito de uma vida e história, mesmo que a doença seja incapacitante crônica e limitante, sempre haverá a possibilidade de resgate, adaptação e de manutenção da dignidade e qualidade de vida desse sujeito. Ainda segundo a autora, devido à condição de adoecimento, o estado do ser humano quando hospitalizado é de fragilidade física e psicológica, por isso a prática da psicologia hospitalar requer uma compreensão global, mais abrangente acerca do homem e do seu modo de existir.
Por ser parte de uma equipe multiprofissional em cuidados paliativos, de acordo com Franco (2008), a psicologia hospitalar contribui em diversas atividades. O autor destaca que as ações da psicologia em cuidados paliativos não se limitam ao paciente em fase final de vida, mas deve incluir também a sua família. Outra contribuição também importante da psicologia, além do cuidado, é sua atuação junto à equipe multiprofissional, uma vez que essa necessita manter a integridade nas suas relações e encontrar vias de comunicação que permitam a troca e o conhecimentos, a partir de diferentes saberes. Segundo Franco (2008) a psicologia coloca-se como elo entre o profissional e a unidade de cuidados, fazendo a tradução entre duas culturas. Esse profissional tem como papel identificar maneiras de troca entre paciente, família e com a unidade de cuidados, objetivando a promoção de uma boa adesão aos cuidados propostos, em um nível controlado de desgaste profissional e pessoal entre essa tríade, através de uma comunicação eficiente.
Portanto, o psicólogo tem por função entender e compreender a subjetividade do indivíduo no que se refere a sua queixa, sintoma e patologia e ajudá-lo no enfrentamento desse processo, bem como dar à família e à equipe de saúde, subsídios para uma compreensão melhor do momento de fase final da vida. Seu papel parte do princípio de educar os personagens desse cenário de dor e sofrimento, quanto às atitudes diante da morte, bem como sobre a melhor maneira de resolver pendências e expressar emoções.
Por fim, ao psicólogo, cabe sua atuação como facilitador do processo de cuidar paliativamente, em que a preocupação central é proporcionar qualidade de vida na morte, propiciando ao paciente e aos seus familiares uma possibilidade de escuta de suas necessidades, contribuindo na qualidade de vida dos dias que ainda lhe restam.
Marco Antônio Gomes, é Professor Pesquisador Doutor em Psicologia pela USF. Professor do curso de Psicologia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC -Mais informações sobre o autor: http://lattes.cnpq.br/6502061887917329