É muito comum, no dia de hoje em que celebramos o dia da Consciência Negra, observarmos algumas posts em rede social dizendo que “O que importa é consciência humana porque consciência não tem cor”. Esse é meu maior sonho. Adoraria viver no mundo dessas pessoas. Onde movimentos, ativismo, lutas e leis para proteger os mais vulneráveis, fossem totalmente desnecessárias porque todos tem consciência. Porém, infelizmente vivo no mundo real, onde a desigualdade social ainda é gritante. Para se ter uma ideia, entre jovens de 15 a 29 anos, a taxa de homicídios de brancos é de 34 a cada 100 mil habitantes. O número é quase três vezes menor que o dos jovens pretos e pardos: são 98,5 assassinatos por 100 mil. Os dados são do DataSUS. Significa dizer que, pai de filho preto, tem chance 04 vezes maior de vê-lo assassinado. No que diz respeito à educação, o acesso de negros aos cursos superiores tem aumentado. Mas, ainda é só metade do número de brancos.
Por outro lado, quando o assunto é população carcerária, o número de negros é de 67%. No estado do Rio de Janeiro, o estudo mostrou que 72% dos presos eram negros, 26% são brancos e 3% classificados como “outras”.
Outro retrato da desigualdade é na renda média. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) que avalia a Renda dos brasileiros apontou diminuição na diferença entre os salários da população negra e da branca. Contudo, o estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que os brancos ainda ganham cerca de duas vezes mais que os negros. A média é de R$ 1.144,76 mensais para brancos contra R$ 580,79 para os negros.
Resumindo, para debater questões como essas que somos chamados à reflexão. Não seria necessária CONSCIÊNCIA NEGRA, se a realidade fosse outra.
UM DIA APENAS NÃO SIMBOLIZA A IMPORTÂNCIA DA MINHA RAÇA
Outro post muito comum aqueles que tentam diminuir a data de 20 de Novembro como DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. Alguns usando até mesmo uma frase extremamente infeliz do ator americano. Morgan Freeman que tem uma polêmica frase dita no contexto de uma entrevista, em que afirma que “para o racismo deixar de existir é só parar de falar nele”. Tal pensamento ganhou adeptos em massa no Brasil, principalmente entre aqueles que se recusam a sentir e perceber a diferença do outro e insistem em interpretar a realidade do mundo a partir de sua particularidade privilegiada. Quando a empatia não é aplicada, a tendência é reproduzir a agonia de ter que se render à um dia que para eles torna-se ‘privilégio’ de um povo que se “vitimiza”. Porque precisamos de um novembro negro para tocar em ferida ainda tão aberta na sociedade brasileira? Porque não há como concordar com Morgan Freeman sobre silenciarmos quanto à questão racial, a fim de que o racismo acabe magicamente? A resposta é simples, porque um problema não desaparece só porque se deixa de falar nele. Seria como se alguém disse que para a violência contra a mulher acabar, bastaria parar de falar que apanham, e são mortas na maioria das vezes porque quem deveria protege-las e ama-las. Não faz o menor sentido. Portanto, uma grande IDIOTICE dizer isso. Outra grande bobagem, dizer que é contra o dia da CONSCIÊNCIA NEGRA porque “um dia de reflexão não resolverá os problemas” esse argumento então é risível, de uma pobreza argumentativa de criança de 03 anos de idade. O dia 20 de Novembro é uma data emblemática, escolhida por se tratar da data da morte de Zumbi dos Palmares, líder da resistência. Obviamente todos os movimentos, ativistas, entidades, e principalmente cidadãos conscientes, negros ou não, discutem, debatem e trabalham todos os dias para que tais desigualdades sociais diminuam. O dia 20 é uma data para marcar essa luta. Usar tal argumento pobre, é como dizer que um dia só para celebrar a importância das mães é pouco. CLARO QUE AS MÃES SÃO IMPORTANTES TODOS OS DIAS. Mas, não separamos o segundo domingo de maio para elas? Isso não significa que nos demais dias do ano perdem importância ou deixamos de respeitá-las.
Não vamos confundir racismo com outras agressões
Esta semana, uma amiga postou nas redes sociais que sofreu “RACISMO” por ser branca demais na infância. Morava num bairro predominante habitado por negros, e sofria com os xingamentos de “leite azedo, branquela” etc. O que fizeram foi: Agressão, falta de educação, falta de amor ao próximo, nos dias de hoje chamamos de bullyng, uma violência emocional enorme. Uma atitude deplorável, de garotos que viram nela a vítima perfeita para reproduzirem ofensas que certamente estavam acostumados a sofrer quando saíam do bairro onde moravam. Certamente algo que causou muito sofrimento a toda família dessa minha amiga. Ela sofreu discriminação por ser diferente. Porém, racismo é muito mais amplo e complexo. Contém outros componentes de agressões. Mesmo um negro quando xingado de macaco, urubu, carvão etc… não se configura RACISMO. Nossa lei tipifica como INJÚRIA RACIAL
Embora estejam interligados, racismo tem todo um envolvimento histórico. Passa pela diáspora africana, quando negros foram retirados a força de sua terra, empilhados como mercadorias e vendidos como tal para servir de mão de obra escrava. Muitos morreram de fome, doença, de dor, e tantos outros tentando fugir de toda aquela desgraça. Portanto, para começar a falar em racismo contra brancos, deveria ter existido algum “navio branqueiro”. Como sabemos, isso não aconteceu. Racismo vai além dos xingamentos, passa por toda uma estrutura colonialista onde uma raça se julga superior a outra. Racismo é quando essa raça, invade as terras do “inferior” separa famílias, saqueia, confisca seus bens. Estupraram as mulheres e as obrigaram a trabalhar grávidas. Matam, escravizam e vendem seus filhos.
Quando alguém diz que somos todos da RAÇA HUMANA e isso é que importa, que “somos todos iguais”. Mesmo tendo boa intenção na fala, não é bem assim. Somos todos humanos sim, porém, cada um com suas especificidades. Culturas, crenças, credos, características físicas, cores, costumes. Somos todos diferentes e isso é bom. A diversidade é o que faz a beleza do mundo, a nossa luta não é para sermos “iguais” Cada grupo precisa respeitar essas diferenças e conviver em harmonia. O famoso cada um na sua. A luta é por oportunidades iguais. Falar em meritocracia sem dar condições iguais é canalhice.
Rogério Silva
@rogeriosilva89fm