Novo livro de Eduardo Bueno, com ilustrações de Paula Taitelbaum, “DICIONÁRIO DA INDEPENDÊNCIA – 200 anos em 200 verbetes”, será lançado no próximo dia 15
Por José Horta
DA REDAÇÃO – Livros são fontes inesgotáveis de conhecimento. A leitura abre portas, mostra caminhos e traz outras vantagens, como ampliar vocabulário. Mesmo assim, o brasileiro ainda lê pouco. A 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada em 2016, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro considera “leitor” aquele que leu pelo menos um livro nos últimos três meses – inteiro ou em partes. Os dados revelaram que o brasileiro lê em média 2,43 livros por ano. Vale frisar que essa foi a última pesquisa divulgada, pois a nova edição desse trabalho será apresentada em 14 de setembro. E com a taxação, caso ela se concretize, a tendência é que o brasileiro leia menos ainda. Diante desse panorama adverso, o jornalista, escritor, gremista e dylanista, Eduardo Bueno, é uma rara exceção. Seus livros sobre a história do Brasil tornaram-se best-sellers. Agora ele nos apresenta “DICIONÁRIO DA INDEPENDÊNCIA – 200 anos em 200 verbetes” (Editora Piu). E mostra mais uma vez que história pode ser contada de um jeito diferente e divertido. A obra tem ilustrações de Paula Taitelbaum e será lançada no próximo dia 15, no entanto a pré-venda está sendo feita no pelo site www.editorapiu.com.br/.
E foi justamente Paula Taitelbaum que tornou essa entrevista possível. Na noite do último domingo (30 /08) ao iniciar seu episódio “Não é Flordelis que se cheire” no Canal Buenas Ideias, disponível no Youtube, Eduardo Bueno falou sobre o lançamento deste livro, mandei um e-mail solicitando uma breve entrevista, cinco perguntas no máximo. Confesso que não esperava resposta, mas o casal mostrou que é ‘gente como a gente’. Ainda na mesma noite recebi o seguinte e-mail:
“Oi José, tudo bem? Pode enviar as cinco perguntas aqui para este e-mail que eu repasso para o Eduardo, ele disse que responderá. Além de ter ilustrado o livro eu sou casada com ele.;-) Então se precisar de mais alguma coisa, só pedir.
Abraço
Paula”.
Na manhã de segunda-feira (31/08) enviei minhas cinco perguntas. Após o envio percebi o quão dolorosamente óbvio fui. Afinal, perguntar “Nesse episódio da ‘Independência do Brasil’, qual seria o personagem mais importante?”, beira a falta de conhecimento ou ingenuidade pura. Cheguei a me ruborizar de vergonha. Imagino Eduardo Bueno rindo da minha ignorância ou xingando horrores diante de tal questionamento.
IMPORTÂNCIA
A obra de Eduardo Bueno, principalmente a Coleção Brasilis, lançada pela Editora Objetiva e composta por ‘A Viagem do Descobrimento’ (1998), ‘Náufragos, Traficantes e Degredados’ (1998), ‘Capitães do Brasil’ (1999) e ‘A Coroa, a Cruz e a Espada’ (2006), fez com que a História do Brasil saísse das salas de aulas e tornasse assunto de amigos em mesas de bar. Diante da repercussão, fez até o quadro ‘É Muita História’ exibido pelo programa ‘Fantástico’ da Rede Globo. A fluência, a verve, como ele mesmo costuma dizer, contaminou positivamente a quem leu essas prazerosas obras. Deu gosto estudar a História do país onde vivemos, mesmo ela nos mostrando que não somos um ‘conto de fadas’. Enfim, o Brasil ainda tem muitas contas a acertar com o seu passado.
O então presidente Fernando Henrique Cardoso assim qualificou a Coleção Brasilis: “Uma das artes mais difíceis é a de escrever bem, de modo claro e sucinto. Mantendo fiel aos acontecimentos. Pois é isso que Eduardo Bueno consegue. E numa síntese de séculos de nossa história não há melhor introdução para um público não especializado que queira ter uma noção de história do que os livros de Eduardo Bueno”.
Prazeroso também é ‘Não Vai Cair no Enem’, via Canal Buenas Ideias. A forma como o tema é tratado por Eduardo Bueno, cheia de colocações e referências, fez da História algo Pop. ‘Não Vai Cair no Enem’ também se tornou peça teatral, com sucesso de público e de crítica.
A respeito deste novo livro, assim descrito pela Editora Piu, “Palavras e atos passeiam lado a lado, ou seja, é uma espécie de parada na qual nada fica no mesmo lugar. É um livro bem direto – e um tanto diferente também, porque em geral a história não é contada desse jeito. Mas faz sentido contá-la assim, pois, no fim das contas, o turbulento processo que resultou na separação do Brasil de Portugal pode ter se dado por meio de ações, mas se concretizou por meio de palavras. No caso, duas palavras bem poderosas e que ainda ressoam com toda a força: “Independência ou morte”. O cantor e compositor Gilberto Gil assim o definiu: “Eduardo Bueno pegou o Expresso 2222, mas fez baldeação na estação de 2022 para contar em 200 tons de verde e amarelo os 200 anos de luta pela Independência. Para não perder o trem dessa história, não vá dormir no ponto nem sair da linha”.
Ele tem o lado tradutor, verteu para o português a magistral obra de Jack Kerouac, “On the Road’. Inclusive o cineasta Walter Salles Jr. disse que usou sua tradução para fazer o filme baseado neste livro, chegando a dizer que “”On the Road – Pé na Estrada” é a melhor tradução já feita de Kerouac.
O contra-almirante e historiador Max Justo Guedes, um dos maiores especialistas na cartografia luso-brasileira, que faleceu em 2011 e merece ser reverenciado nesse país, atestou que “Eduardo Bueno é o Capistrano de Abreu do nosso tempo. A diferença é que seus livros são lidos por centenas de milhares de leitores”.
Mas ninguém melhor para definir a obra de Eduardo Bueno do que ele próprio. Em entrevista, feita por Marcelo Ferla para a revista Rolling Stone Brasil, publicada na edição 14 de novembro de 2007; afirmou: “Mas como isso é impossível, queria transmitir os conhecimentos e visões que tenho sobre a história do Brasil como se fosse uma música do Echo & the Bunnymen! Só assim, como se fosse ‘Lips Like Sugar’, aquilo que tu sentes quando ouves, isso que eu queria”. O homem que escreveu “Grêmio: Nada Pode Ser Maior” (2003 – Ediouro) disse isso mesmo sabendo que o vocalista Ian McCulloch torce para o ‘time vermelho’ de Liverpool.
A ENTREVISTA
A entrevista, quase em forma de verbete, afinal sabemos o quanto o escritor é loquaz, foi feita durante a quarentena. Mesmo nesse período de distanciamento social, Eduardo Bueno mostra que está cada vez mais Eduardo Bueno, digamos, 89 mil vezes mais Eduardo Bueno. E tentando fazer rimas tão ‘maravilhosas’ quanto as que ele fez em seu canal, eis a minha: “Que mundo pequeno, que mundo pequeno, o DIÁRIO DE CARATINGA entrevista Eduardo Bueno”.
Eduardo, como se deu a escolha desses verbetes? Qual deles seria o mais importante?
Alguns verbetes são bem óbvios e não poderiam faltar, mas a ideia era ter também alguns que fossem desconhecidos e inusitados. Fora que havia esse desafio de serem 200. Não tem como eleger um como o mais importante, mas tem alguns que eu gosto mais como BAILARINA, CHINÊS, PEÇA DA COROAÇÃO. Mas um que eu escolhi para implicar com os caretas é o que fecha o livro: ZODÍACO. Até porque o Zorro não faz parte da história da nossa independência.
Nesse episódio da ‘Independência do Brasil’, qual seria o personagem mais importante?
- Pedro I, obviamente. Mas quem mandava nele era a D. Leopoldina.
“Cada época escolhe seu passado”, disse Marguerite Yourcenar. Hoje qual sua análise sobre os acontecimentos de 7 de setembro de 1822?
Foi mais uma das tantas vezes que o Brasil mudou para continuar igual. Fez a independência, manteve um rei português no trono, não virou república e, acima de tudo, não aboliu a escravidão. Tremenda vitória da bancada ruralista do Senado. Eles continuaram no poder. Como aliás, estão até hoje.
Eduardo, você se sente responsável pelo fato de uma geração de leitores ter passado a conhecer a História do Brasil?
Sim, pelo menos era o que me diziam no tempo em que ainda dava para sair na rua. Agora, dizem pelas redes sociais, apesar de eu ser bastante antissocial. Pelo meu canal do Youtube, que aliás é feito para incentivar a leitura, é comum receber mensagens de gente que diz que foi fazer faculdade de história por minha causa.
Para finalizar, se ‘Dicionário da Independência: 200 anos em 200 verbetes’ fosse uma canção do Bob Dylan, qual seria? E por quê?
Essa é fácil: I Shall Be Released. Porque o protagonista parece dizer: “Independência ou morte!”. Ele está atrás das grades, aliás como nós, de certa forma. Por falar nisso, presidente Jair Bolsonaro, porque a sua esposa Micheque recebeu 89 mil do Fabrício Queiroz? Será que até 7 de setembro de 1822 a gente vai ter a resposta?
Dylanista
Parafraseando Heródoto, digo que ‘Eduardo Bueno é uma dádiva de Bob Dylan’. As canções do bardo o influenciaram, e como. Bueno conviveu com Dylan e já assistiu a dezenas de shows do cara que compôs ‘Like a Rolling Stone’. Conforme relato para o site Memorabilia, Eduardo Bueno disse o seguinte sobre Dylan: “A aura dele é muito intensa, dramática, impõe algo energético, que nem sempre é bom, mas nunca menos intenso… Eu vi ele ser um de manhã, um de tarde e outro de noite, parecia outra pessoa, outra energia, outro olhar, outro tom de voz”.
Esse tópico explica a pergunta feita nessa entrevista. ‘I Shall Be Released’, a canção diz:
“Perto de mim nesta multidão solitária,
Está um homem que jura que ele não é o culpado.
O dia todo eu o ouço gritar tão alto
Clamando que ele foi enquadrado.
Eu vejo minha luz vir brilhando
Do oeste até o leste.
Qualquer dia desses, qualquer dia desses,
Eu serei libertado”.
As imagens que reproduzem as palavras
Em alemão, “Taitelbaum” quer dizer uma árvore que Paula não sabe ao certo qual é, apesar de suspeitar que não passa de um arbusto sem muito glamour. Escritora, publica livros desde 1998, e ilustrou seu primeiro livro infantil em 2013: ‘Palavra vai, palavra vem’, da L&PM Editores. Depois se empolgou e criou imagens para ‘Bichológico e Ora Bolas’, ambos de sua autoria e publicados pela Editora Piu. Mas foi com esse ‘Dicionário da Independência’ que Paula descobriu que também poderia fazer colagens digitais, a partir de imagens antigas, várias delas assinadas por Debret. Ela recortou aqui, colou ali, coloriu acolá e, voilà, se divertiu muito criando as ilustrações que acompanham os verbetes de Eduardo. Aliás, por falar em acompanhar, se alguém ainda não sabe, Paula Taitelbaum é companheira de Eduardo Bueno. E não apenas no sentido profissional.
A respeito de “DICIONÁRIO DA INDEPENDÊNCIA: 200 anos em 200 verbetes”, Paula Taitelbaum classificou como “muito prazeroso”. Ela assim descreveu o seu trabalho:
“Sobre o processo criativo das ilustrações, eu trabalhei com colagens digitais a partir de imagens antigas, muitas delas de (Jean-Baptiste) Debret.
A ideia foi deixar o Dicionário mais atrativo para o público infanto-juvenil, então busquei muitas vezes dar um toque de humor nas ilustrações.
No verbete O GRITO, por exemplo, coloquei o rosto de D. Pedro na pintura “O Grito” de (Edvard) Munch.
Foram trabalhadas sempre três cores sobre as imagens P&B: laranja, verde e azul. Tentei fugir dos tons da bandeira do Brasil porque infelizmente ela virou símbolo dos fascistas no Brasil”.
Tive a liberdade e comentei que gostei muito dessa montagem, Paula respondeu, “Eba! Obrigada!!! Que bom que gostou do Grito, me diverti muito fazendo esse livro. :-) Beijos”, agradeceu, mostrando que mais uma vez é que é gente como a gente.