* MONIR ALI SAYGLI
Seu nome de registro é José Pinto Silva, mas os brincalhões chamavam-no “Folha Seca”. Era um homem inteligente, apesar da debilidade que o tornou “todo poderoso, chefe supremo e protetor dos fracos e trabalhadores”.
Muito antes da criação dos partidos políticos ARENA e MDB ela já anunciava o seu UTP (União de Todos os Partidos) – profecia que quase se concretizou.
Quando alguém o tratava com respeito a conversa era cordial e a sua satisfação era estampada em seu rosto, pois esboçava um sorriso de quem se sentia realizado.
Nunca teve um emprego. Foi camelô, profissão que abandonou para dedicar-se à “política”. Passou a viver da caridade, embora fosse “dono” de tudo. Trabalhava desde a madrugada até ao anoitecer, fiscalizando as obras (públicas ou particulares), dando ordens e exigindo maior produtividade.
O que o aborrecia era o desrespeito, muito comum nas pessoas que dele se aproximavam, tipos abusados que gostavam de aparecer (alguns até graduados na sociedade) e provocar a ira do pobre infeliz que cumpria a tarefa que o destino lhe reservou.
“Seu Zé”, como era tratado por amigos, gostava de um papo saudável com companheiros (subordinados) que ele “nomeava” para diversos cargos de confiança no Executivo e no Judiciário, pois o Legislativo era ele próprio, sozinho, com menores possibilidades de cometer erros.
De um polo a outro, o coitado mergulhava na mais profunda humildade e confessava que até aquela hora ele não havia almoçado porque estava a “nenhum”.. Dono de tudo, não tendo nada.
Se vinha alguém e lhe dava um mísero “cruzeiro”, ele aceitava como “imposto pago na fonte”, o que, somado a outras generosidades, ia possibilitando a sua subsistência.
Seu prazer era dar ordens. Algumas delas eram inexequíveis, porque envolviam todo um complexo hierárquico. Todas eram racionais, lógicas e necessárias. Simplesmente partiam da “autoridade” errada para o “executor” também errado. O certo é que o homem era um “monstro” de sabedoria. Tinha ideias fantásticas – que podiam ser aproveitadas por quem de direito. É coisa de doido, mas é real. Ele existiu e fez parte da vida da cidade. Era um popular que um dia deixou muita saudade e muito remorso. Era um elemento pacífico e só se irritava quando algum “gozador” exteriorizava as suas fraquezas e zombava do pobrezinho que se satisfazia com uma simples palavra de obediência e camaradagem dos que o aceitavam como quem ele pretendia ser. O certo é que lutava por uma Caratinga melhor.
Aliás, a sua esquizofrenia (não sei se era esse o seu distúrbio) não fazia mal a ninguém. Pelo contrário até. Ele divertia àqueles que o acatavam, que jogavam no seu time, que pertenciam ao seu Estado-Maior (olhem que louco também tem “staff”).
Tudo o que narrei até agora não passa de uma homenagem a um cidadão que um dia foi perfeito (sadio, como nós) e que a psicopatia transformou em “prefeito”, desenvolvendo a sua graduação a super interventor, adquirindo o DR (como muitos por aí), até chegar ao posto máximo.
Agora vem a advertência:
Que se acautelem aqueles que não dão graças a Deus pela saúde que possuem, porque há de surgir alguém que tomará severas providências para punir os que abusam dos nossos doentes, que andam pelas ruas centrais da cidade pregando a verdade e exigindo providências das inertes autoridades.
“Folha Seca” faleceu internado na ASADOM, deixando órfãos os bons caratinguenses que querem ver nossa cidade limpa e livre da corrupção.
“Toda cidade precisa ter um louco, para chamar o homem à razão”.
*MONIR ALI SAYGLI Professor do Centro Universitário de Caratinga e Assessor Jurídico da FUNEC
Uma resposta
Voltei ao passado ,descreveu com muito carinho e fidelidade o nosso inesquecível folha seca.