VIDA DE GADO

  • Eugênio Maria Gomes

        Eu já estava com dois temas definidos para abordar – escolheria entre um ou outro -, esta semana. O primeiro seria sobre a intervenção federal na área de segurança do Estado do Rio de Janeiro e, o segundo, sobre o absurdo que tem sido os mandados de soltura emitidos por determinado Magistrado do STF. De repetente, abortei os dois temas… Seria fazer “chover no molhado”. Estes e outros acontecimentos esquisitos têm ocorrido no Brasil, exclusivamente, por conta da ignorância que acomete a maior parte da população brasileira. Não se vê nada parecido em outras democracias compostas por um povo educado.

Continuamos ostentando um dos piores índices educacionais do mundo entre os países de desenvolvimento mediano. São milhões de analfabetos, outros milhões de analfabetos funcionais e com a maioria de nós sem ter capacidade de enxergar o país como uma nação, a ponto de elegermos um congresso nacional, cujos membros dispensam maiores comentários.

É a boa Educação a responsável por permitir ao homem tornar-se, de fato, um cidadão. E o verdadeiro cidadão não aceita a fome, não convive com a miséria, não admite a insegurança, não se submete aos péssimos cuidados com a sua saúde. O verdadeiro cidadão não convive com a corrupção desenfreada, com as absurdas mordomias dos que comandam e ajudam a comandar o país, não tolera resposta simples para problemas complexos… O verdadeiro cidadão não aceita ser, apenas, parte de estatísticas, mas, pelo contrário, faz questão de ser sujeito ativo das mudanças que se impõem para que ele alcance a plenitude de sua capacidade e de sua felicidade.

A boa educação começa com um ensino formal de qualidade. È na Escola, principalmente nos primeiros anos, que somos dotados dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de nossas capacidades intelectuais. No entanto, o que vemos na escola brasileira, em geral, e na escola pública, em especial, são professores mal remunerados, mal formados em sua maioria, desmotivados e incapazes de fazer desenvolver competências nos alunos. Vemos alunos que concluem o ensino médio sem conhecimentos básicos das disciplinas acadêmicas, sem raciocínio lógico elementar, sem noções básicas da história do país e sem qualquer interesse na construção de sua própria história.

Sem conhecimento, sem uma boa educação, grande parte dos cidadãos brasileiros não consegue entender ou vivenciar a complexidade de sua existência. Não consegue entender o seu papel como construtor e beneficiário de uma nação próspera e feliz. Não consegue entender o seu papel no mundo… A falta de conhecimento faz com que boa parte dos brasileiros passe pela vida, sem viver, perdidos na mediocridade imposta a todos pelas elites emburrecidas que nos governam.

Sim, a nossa ignorância, de certo, interessa aos que elegemos para nos conduzir, porque é a ignorância que cega completamente o indivíduo e o faz permitir ser tratado como um incapaz, inapto a ser o sujeito ativo de seu próprio destino e do destino de seu país, e assim, eternamente dependente do “Coronel”, figura mítica da História Brasileira, que hoje atende pelo nome de Prefeito, Governador…

É a ignorância que faz com que o indivíduo aceite a exploração cruel de seu trabalho pelo capitalismo anacrônico e antiquado, que domina grande parte das relações de trabalho, em nosso país. É por causa da ignorância e da incapacidade de perceber a exploração a que está submetido, que tolera salários baixíssimos, condições desumanas, abusos e assédios por parte dos donos do dinheiro.

Uma nação composta por cidadãos, efetivamente educados, jamais toleraria uma pequena parcela de todas as mazelas que sofremos e que foram escancaradas pela mídia nos últimos anos. A educação formal, aliada à boa cultura e ao pensamento racional, dota o indivíduo de meios e modos de não se deixar iludir por falsas promessas eleitorais. Impede que o indivíduo se deixe seduzir por “salvadores da pátria” ou por frases de efeito, ou por retóricas de palanque. Inibe o domínio religioso imposto por clérigos mal-intencionados, preocupados apenas com a manutenção da dominação, ainda que travestida de salvação, porque se arvoram senhores do Perdão e detentores das chaves do paraíso.

O indivíduo verdadeiramente bem-educado é capaz de distinguir privilégios de prerrogativas. Admite certas prerrogativas, porque entende que o exercício da função pública traduz-se em uma importantíssima e nobre função social. Mas é implacável na crítica e na negação dos privilégios, porque percebe que são atentatórios ao mais elementar conceito republicano: o de que todos são iguais perante a lei!

O Indivíduo, verdadeiramente bem-educado, tem total consciência de que os serviços públicos que lhe são oferecidos não são benesses concedidas por mera liberalidade do governante, mas, sim, direitos concretos para os quais ele contribui efetivamente com os impostos que paga, e, assim, sente-se confortável e seguro na hora de exigir que esses serviços sejam eficientes, seguros e de qualidade.

É a ignorância, intencionalmente moldada por uma elite política, ávida na manutenção de seu domínio, e voluntariamente perpetuada por uma elite econômica, ávida em garantir o lucro fácil e indecente, que explica nosso quadro atual na Política, na Música, na TV e em praticamente em todos os setores da sociedade brasileira, e está nos conduzindo, feito gado manso, ao fundamentalismo, ao sectarismo, ao radicalismo, ao racismo e à ditadura das maiorias obscurantistas e provincianas, caminho rápido para a autodestruição e para a degradação social, como já antes visto na História…

Uma Nação, composta por pessoas bem-educadas, jamais toleraria ver seu país afundando no mar de lama da corrupção generalizada, da insegurança, da miséria, da doença e da mediocridade generalizada que, infelizmente, fincaram pé e criaram raízes nesta terra tão bela, tão abençoada e tão espoliada, chamada Brasil!

“O povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela. E sonham com melhores tempos idos, mas contemplam essa vida numa cela!. Vêem toda essa engrenagem, mas não percebem a ferrugem a lhe comer…” (Zé Ramalho).

* Eugênio Maria Gomes é professor e escritor. Pró-reitor da Unec, membro do Lions Itaúna, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e do MAC – Movimento Amigos de Caratinga. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni e presidente da AMLM – Academia Maçônica do Leste de Minas.