Profª MSc. Magda Cristina Assis Costa
Dentre alguns dilemas contemporâneos e seus múltiplos significados, a mudança de algo em nós, gerada por questões que consideramos necessárias, leva-nos a alcançar em nossas histórias a compreensão de recomeços e de possibilidades. Nesse contexto, a busca continuamente por uma outra trajetória se faz em meio a uma diversidade de escolhas e dilemas. A mente humana gera dilemas e soluções, somos influenciados e influenciamos. Essa trajetória possibilitada pela vida nos acessa a desejos particulares dentro de uma coletividade.
Todas essas questões são analisadas pela Psicologia, através de um olhar que revela uma sociedade em busca de algo inominável, sujeitos movidos por uma angústia que pode revelar possibilidades de recomeço, mas também pode revelar um não saber onde chegar nessa trajetória posta pela vida. O fazer da Psicologia propõe a compreensão do sofrimento psíquico e a partir dessa compreensão fazemos laços com o sujeito. Esse laço, que a nossa ciência propõe, devolve ao sujeito o que tem de direito, recomeçar sempre através da escolha pela sua particularidade, pela mudança de trajetória, ou pelas rupturas com as influências. Esse contexto revelará uma manifestação do psiquismo humano que permite ao sujeito ir ao encontro de sua verdade, promovendo sentido.
Ao nos constituirmos como sujeitos, somos promovidos e provocados pelo olhar, é o olhar que inicialmente nos constrói para depois darmos respostas a ele, segundo Lacan (1964) “Somos seres olhados no espetáculo do mundo”, e esses olhares nos fazem ser de acordo com as respostas que damos a ele. A Psicologia constrói o seu saber ao olhar e ao ser olhada pelo sujeito que dela apropria, e pelas ciências que a circundam, pois ao olhar para o outro este revela à Psicologia o seu mal-estar, e o desejo de que, no contato, as possibilidades se apresentem.
O sujeito vem até nós seja através do adoecimento de um corpo ou na finitude que a morte o apresenta, seja no inusitado das emoções em conflito, nas urgências trazidas pela vida, ou nos eventos que atravessam a existência e que promovem memórias emocionais resultantes em traumas. E em meio a essas questões a Psicologia transita e se faz mediadora e interlocutora de um lugar que faz laço com o sujeito, propondo articular a vida e contato, mesmo em meio ao inesperado e ao incerto. Ao lançarmos o olhar para o que há de particular no outro, consideramos que essa busca não tem fim, a travessia sempre apresentará inesquecíveis registros, labirintos de múltiplas dimensões e repleto de significados. E ao buscarmos entender o sofrimento psíquico, reconhecemos que podemos compreendê-lo na construção de um único saber.
Nós, psicólogos, não sabemos ensinar o sentido da vida. No entanto escutamos e devolvemos ao sujeito aquilo que ele tem de direito, o desejo de continuar. Compreender as razões e sentidos leva-nos ao encontro de nós mesmos, pois a travessia nos toca, e somos privilegiados por termos acesso a ciência da Psicologia. A travessia nos atravessa, a busca pelo contorno do outro nos leva a reconhecer a moldura em que nós mesmos estamos inseridos, percebemos que os laços estabelecidos nesse percurso persistirão por toda uma vida, pois compreendemos que sentimentos, palavras e sentidos necessariamente não precisam ser manifestos para serem tocados. Os laços invisíveis permanecerão fortes, mesmo diante da distância e do silêncio, além da palavra.
*Psicóloga; Psicopedagoga; Especialista em Psicologia da Educação; Mestre em Educação e Linguagem. Coordenadora e Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC.