Ao entardecer, sentei-me em uma mesa próxima a entrada de uma pequena padaria, o espaço já me era familiar, tão familiar quanto a rua que dali podia observar, hoje repleta de residências e comércios novos e de poucos que ainda resistiam ao tempo. Acompanhado de uma xícara de café amargo, aproveitei-me da visão privilegiada para contemplar a volta para casa de todos os que por ali passavam, em especial, um grupo de mães, avós, pais e filhos que saíam da escola que também resistia ao tempo.
O mês de maio já havia começado, e com ele as primeiras homenagens às mães. Deixei a xícara sobre a mesa para admirar as cenas de afeto que se passavam diante de meus olhos. As crianças, algumas falantes e felizes outras cansadas e choramingando, mas também felizes, caminhavam lentamente de mãos dadas com suas mães, estas sim felizes, as mães são sempre felizes! Traziam consigo rosas vermelhas, exibiam o simples presente de seus filhos com a alegria de quem recebe o maior dos troféus. Em seus rostos, as mães, avós e mães-avós carregavam o mais belo sorriso, o sorriso de mãe é sempre belo, fruto do sorriso de seu filho!
Subitamente, um desejo de voltar ao tempo tomou conta de mim, senti falta de suas célebres respostas quando eu argumentava: – mãe, posso ir? Todo mundo vai! E ela respondia com pulso firme: – você não é todo mundo! Outras vezes, quando eu questionava uma de suas ordens: – mãe, por que tenho que fazer isso? E ela de imediato respondia: – porque estou mandando! Sempre admirei o poder argumentativo de minha mãe! Lembrei-me de cada detalhe da vida ao lado de minha mãe, do sabor inigualável de sua comida, do cheiro de bolo saindo do forno e do abraço apertado quando saí de casa em busca de um futuro melhor. Ela nunca me deixou, pelo contrário, esteve ao meu lado em todos os momentos. Em seus braços sempre encontrei refúgio, suas mãos prepararam os melhores sabores que pude sentir, de sua boca ouvi os conselhos que me fizeram seguir em frente, mesmo sentindo saudade e necessidade do seu colo. Minha alma queria correr para casa, assim como eu fazia após uma queda durante as brincadeiras de infância, em busca de um beijo no rosto seguido de uma palavra de conforto, garantindo-me que tudo iria ficar bem.
Sempre considerei a vida como uma corrida, na qual algumas as pessoas desejam carros, casas e viagens luxuosas e outras, querem apenas afeto, utilizando caminhos diferentes todas querem chegar ao mesmo destino: a felicidade.
Meus olhos se encontraram com os olhos das crianças que passavam por mim, refletiam alegria, uma espécie de sensação de dever cumprido. As mães não estavam contentes apenas pelas rosas ofertadas, mas sim, pela retribuição de carinho por parte dos filhos. A felicidade de cada um era baseada apenas no simples e infinito amor envolvido na singela homenagem.
O cansaço e o medo que me afligiam foram embora, graças às cenas de alegria que me recarregaram com o que há de mais puro no mundo; o amor de mãe! Observei atentamente cada detalhe, beijos, sorrisos e abraços sinceros. Eu e todos os filhos e filhas que haviam passado em frente à padaria tínhamos em comum o amor de nossas mães, um amor intenso e verdadeiro, e isso já nos bastava. Levantei-me, estava pronto para seguir adiante. Havia chegado a hora de voltar à luta, para não permitir que a vida esfriasse; assim como meu café.
Daniel Paulo Fonseca Dornelas –
Autor convidado: Aluno do 2° ano do Ensino Médio da E. E. Engenheiro Caldas e do Núcleo de Ensino Professor João Martins
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