1986: Brasileirão ou Zorra Total?
Aquele abraço amigo do esporte, amigo da bola, depois de contar um pouco da história do Campeonato de 1985, surpreendentemente vencido pelo Coritiba, chegamos a 1986, ano que os cartolas do futebol brasileiro se superaram no ofício de bagunçar o esporte paixão nacional. Na minha humilde opinião, o Campeonato Brasileiro de 86 foi disparado o mais “avacalhado” da história, embora a concorrência seja difícil (ver, por exemplo, os artigos relativos aos campeonatos de 1971, 1979, 1984 e 1985). Desta vez, a CBF resolveu juntar as Taças de Ouro, Prata e Bronze (respectivamente séries A, B e C) numa única competição, com nada menos que 80 clubes.
De acordo com o regulamento original, seriam classificados para a segunda fase 28 clubes dos grupos A-D (os 6 primeiros colocados de cada grupo, mais 4 independente de grupo) e 4 dos grupos E-H (o vencedor de cada grupo), totalizando 32 clubes. Mas, como o Vasco não estava entre os classificados, entrou com um processo na Justiça Comum para anular a decisão do STJD, que concedera 2 pontos para o Joinville no jogo contra o Sergipe (1×1, em 29 de setembro), por caso comprovado de doping – a anulação da decisão daria a vaga do Joinville para o Vasco. O Joinville também entrou na Justiça para garantir o seu direito, e a CBF decidiu classificar os dois clubes, eliminando então a Portuguesa, que seria punida por também haver entrado na Justiça, por uma questão de venda de ingressos. Vários clubes paulistas ameaçaram abandonar a competição em apoio à Portuguesa, o que fez com a CBF voltasse atrás em sua decisão e resolvesse classificar 33 clubes para a segunda fase. Poucos dias depois, porém, em função da dificuldade em organizar a tabela da segunda fase com um número ímpar de clubes, a CBF decretou a promoção de mais 3 clubes dos grupos A-D – que, pela ordem de classificação na primeira fase, foram Santa Cruz, Sobradinho e Náutico. Assim, em vez dos 4 grupos de 8 originalmente previstos, a segunda fase do campeonato teve 4 grupos de 9 clubes cada.
Decisão:
Lembro-me como se fosse hoje daquela final emocionante entre São Paulo e Guarani. O Tricolor era um timaço comandado por Cilinho. Dario Pereyra, Silas, Muller, e Careca era apenas alguns dos craques entre os titulares. Do lado do Guarani, Ricardo Rocha, João Paulo e Evair. Além do atual técnico corintiano Tite que na época era um vigoroso e bom volante. No primeiro encontro no Morumbi, mais de 80 mil pessoas viram um jogo amarrado que ficou no zero a zero.
Os dois times entraram em campo mais uma vez no Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas. E o público presente viu emoções na segunda partida decisiva logo de cara. Aos dois minutos, o Guarani abriu o placar com Nelsinho marcando gol contra seu próprio time.
Novamente precisando correr atrás para alcançar o empate, o São Paulo também não tardou. Curiosamente, o gol tricolor também foi contra, marcado pelo zagueiro bugrino Ricardo Rocha.
O segundo tempo teve uma visível superioridade dos campineiros. Inclusive, o árbitro José de Assis Aragão não deu um pênalti pro Guarani que até hoje ainda gera reclamação por parte dos torcedores do Bugre.
Com mais um empate, a final foi para a prorrogação. Adivinhem qual foi o resultado? Sim, mesmo na prorrogação, cada time fez dois, gerando o que podemos chamar de um terceiro empate. Não teve outro jeito. Tudo teve mesmo que ser resolvido nos pênaltis.
Para o Guarani, Boiadeiro e Tosin erraram as cobranças. Para o São Paulo, o único que desperdiçou a chance foi justamente o atacante Careca. Mas mesmo assim, com 4×3 nos penais, o tricolor pôde comemorar mais um título de campeão brasileiro. Festa principalmente na capital do Estado de São Paulo!
Campeões: Em pé: Fonseca, Gilmar, Basílio, Dario Pereyra e Bernardo. Agachados: Muller, Silas, Careca, Piter e Sidney.
Semana que vem vamos contar um pouco do polêmico ano de 1987. Até lá!
Rogério Silva