- Eugênio Maria Gomes
- Marilene Godinho
- Nelson Sena
Esta semana recebemos as imagens da intimidade de um casal, através das redes sociais. Eles não divulgaram as cenas que protagonizaram. Elas foram furtadas do computador pessoal deles.
Nas imagens, nada além do que conhecemos e que a maioria da população brasileira faz: sexo! Um encontro heterossexual, consensual, convencional. Nada de excepcional. Sexo feito por um homem solteiro, com a sua namorada também solteira. Ela, maior de idade, ele, também. Ambos, bem graduados e excelentes profissionais na área onde atuam. E mais: são excelentes pessoas, educadas, vocacionadas para a amizade, para o bem comum.
Eles resolveram fazer sexo e registrar as imagens. Sabe-se lá pra quê, provavelmente para levar a termo as fantasias que permeiam as nossas mentes e que normalmente não desejamos compartilhar com ninguém. Mas, tais fantasias foram compartilhadas sem a autorização deles. E parte da sociedade ficou chocada… Chocada? Quanta hipocrisia…
Aqueles que fazem sexo e não têm fantasias, levantem a mão!
Todos nós, praticantes ou simpatizantes do sexo, as temos. E, em nossas mentes, as fantasias vão muito além do desejo de gravar som e imagem para serem vistos e ouvidos em outra oportunidade. Muitos casais utilizam vários artifícios e, até, personificam pessoas, profissionais e conceitos, buscando tornar o bom e antigo ato sexual, um tanto diferente, mais excitante, que lhes dêem mais prazer. Nada demais nisso.
Mas, cá estamos nós tentando justificar um comportamento alheio que não fere a Lei e Moral. Que não nos interessa e que não repercute em nossas vidas nem afeta o bem comum. Quem somos nós para tanto? Que direito temos de julgar as motivações, os desejos ou as fantasias dos outros? O que acontece na intimidade das pessoas somente a elas pertence e a ninguém mais. Os atos privados, praticados sob o manto da intimidade, estão imunes ao julgamento alheio, justamente porque não podem ser conhecidos, não podem ser violados.
Existe, porém, algo que incomoda e que precisa causar repulsa em todos nós em relação a este lamentável episódio: ninguém tem o direito de invadir a privacidade do outro dessa forma. Não podemos aceitar essas ocorrências com uma relativa naturalidade, colaborando na propagação das cenas que foram roubadas, passando a ser coniventes com o mal, cúmplices de um ato de profunda crueldade com um semelhante. As imagens não eram de cenas de pedofilia, de sexo sem consentimento e, ademais, não foram socializadas pelos atores… Elas foram roubadas. Insisto: As imagens foram ROUBADAS E DIVULGADAS INDEVIDAMENTE!
Essas pessoas são VÍTIMAS, não BANDIDOS. Não tiveram o necessário cuidado e viram a sua intimidade ser exposta publicamente. Algo que pode acontecer a qualquer um de nós. Elas precisam ser ACOLHIDAS e não CASTIGADAS! Infelizmente, nossa sociedade exauriu-se nos comentários sobre o assunto… Pior, parte dela julgou, condenou e sentenciou o casal.
Adeus férias, adeus descanso, adeus sossego. Este tem sido o presente de Natal e de Ano Novo para esse casal, vítima não apenas da internet, mas principalmente de quem a utilizou para fazer algo tão feio, tão vil. Um ato de profundo desrespeito ao direito à intimidade e um ato de imensa perversidade.
A internet, este importante instrumento da comunicação moderna, que é capaz de socializar tantas coisas boas, de levar tanto conhecimento, ao mesmo tempo, aos mais distantes e diferentes pontos do planeta, tem servido, também, para afastar as pessoas do contato físico com as outras, para diminuir o necessário e salutar convívio social e familiar, para informar coisas erradas e criar conceitos equivocados nas mentes das pessoas. Além disso, em mãos comandadas pela má índole, tem servido para causar dor, sofrimento, humilhações e, até, a morte de milhares de pessoas em todo o mundo.
Que bom seria se usássemos a internet para propagar o bem e para disseminar todo o nosso descontentamento com a fome que ainda assola mais de sete milhões de brasileiros; para divulgar os atos de corrupção e seus protagonistas, nas duas partes da linha; para socializar a foto de pessoas desaparecidas, colaborando na sua localização; para denunciar a exploração e o maltrato as mulheres.
Que bom seria se usássemos a internet para denunciar a existência de crianças sem escola e de escolas funcionando como se fossem depósito de lixo. Ah! se utilizássemos a internet para o bem como a mesma facilidade e sadismo que a utilizamos para divulgar uma cena que destrói vidas e magoa corações, que expõe ao público aquilo que é privado, que causa dor e sofrimento.
Que bom seria se já tivéssemos alcançado um nível civilizatório que nos permitisse entender que a intimidade de alguém é um valor inalienável, que se traduz pelo direito de nos resguardarmos frente aos outros, o direito de ser deixado em paz, o direito de estar só, o direito de compartilharmos o que somos o que sentimos e o que fazemos, apenas com aqueles que quisermos, e com ninguém mais.
Que bom seria se tivéssemos aprendido e praticássemos, verdadeiramente, os mais elementares valores cristãos, da compaixão e do acolhimento, e não fôssemos pródigos em julgar e punir os outros, estando sempre prontos e ávidos a atirar a primeira pedra!
Está chegando o Natal. Natal é tempo de Festa, de Alegria, de Renascimento, de Acolhimento, de Entendimento. Vivamos o Natal. Vivamos a nossa vida alicerçados na Paz, no Amor e no desejo de que todas as pessoas sejam felizes! Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos nós!
Os autores são professores e escritores.