
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA
O fogo sempre teve um papel de destaque na nossa sociedade. Através da sua centelha que o mundo foi moldado. Alguns historiadores acreditam que a existência de fogueiras nas aldeias dos nossos antepassados permitiu que os seres humanos fossem sociáveis uns com os outros, construindo assim as primeiras civilizações.
Em relação ao fogo, dominá-lo sempre foi desejo do homem. Sendo que muitas vezes acreditou-se que teríamos controle da situação, mas na grande maioria das vezes que tentamos nós não obtivemos êxito.
Não é atoa que crescemos sempre com uma famosa frase: “Com fogo não se brinca”.
Isso mesmo. Não devemos brincar com fogo, vidas animais silvestres e, também, com a nossa saúde e também com a dos nossos recursos naturais.
Nos últimos anos nunca houve tantos focos de incêndio no nosso país. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em 2014, por exemplo, foram observados aproximadamente 185 mil focos de incêndio. Que representa cerca de 40 focos de incêndio por cidade do Brasil, ou mais de três focos por mês em cada cidade brasileira.
Esse é um dado que primeiramente causa espanto, pelos valores elevados. Num segundo momento causa indignação, pois são dados recorrentes já que em 2010 foram observados 250 mil focos de incêndio no Brasil.
Devemos observar também que o nosso país possui um território de dimensões continentais. Portanto, devemos entender que em alguns casos os focos de incêndio podem ter origem natural e que são influenciados pelo clima de uma dada região. Em alguns casos os focos de incêndio podem originar através da combustão de materiais no solo em áreas secas, como parte do Cerrado e Caatinga, e através de raios que caem em arvores podendo gerar e dar início a um foco de incêndio de forma rápida.
No inverno a situação fica mais séria e preocupante. Devido às características climáticas desta estação, que tende a ser seca e fria, as pastagens e áreas florestais que estão secas sofrem um grande perigo. Em relação aos primeiros meses do ano que a taxa de aumento do aparecimento dos focos é equilibrada, neste atual período a taxa de aumento do aparecimento dos focos chega a 450% para os meses de agosto e setembro. Podendo chegar a 90 mil somente nesses dois meses.
O fato de ser um período seco por si não explica o aumento tão elevado desses níveis para o nosso país. Entretanto, tais condições são favoráveis ao aparecimento das queimadas criminosas. Estas que podem se desenvolver, afetar áreas florestais e acabar com a vida de pessoas e animais silvestres inocentes.
A prática de atear fogo em áreas de pastagem, seja por pecuaristas ou demais produtores rurais, é descrita por eles como uma forma barata e rápida de “limpar” as áreas de interesse. Entretanto, o que parece ser barato com certeza sairá muito caro no futuro e será necessário muito tempo para recuperar a área afetada por essas queimadas contínuas.
Tais produtores descrevem que após a queima há uma renovação do solo, que dá uma nova força para que novas plantas cresçam e se desenvolvam rapidamente.
O que esses produtores rurais não sabem é que esse método utilizado engana e pode proporcionar resultados não esperados. O que acontece é que num primeiro momento pós queima todos os nutrientes que estavam nas folhas e caules das plantas ficam disponíveis na superfície para as novas plantas. Estas que num primeiro momento crescem vigorosamente, mas sua taxa de desenvolvimento por cair consideravelmente, pois essa fina camada superficial pode ser facilmente retirada da superfície pela ação da chuva.
Desta forma, tal prática pode reduzir a quantidade de nutrientes no solo, além de reduzir drasticamente a quantidade de organismos vivos no solo. Estes que possuem o papel de aeração do solo e, também, na ciclagem e disponibilização de nutrientes que não essenciais para o crescimento das plantas.
Além disso, alguns acidentes acontecem quando o fogo mostra a sua força, ditando sua sede de destruição, e atinge áreas de nascentes, por exemplo. Tornando necessária a recuperação da área afetada regada a muito tempo e dinheiro.
Mediante aos fatos, os produtores rurais devem se ater que para manter a qualidade do solo esse método deve ser evitado, ou extinto, e substituído por outros mais limpos como o plantio direto, que preserva a camada de compostos orgânicos da cultura anterior sob o solo. Possibilitando a manutenção dos organismos vivos e dos nutrientes disponíveis no solo para a próxima cultura.