Mudanças Climáticas e a Agricultura na região leste de Minas Gerais
Atualmente tem-se falado muito sobre os impactos das mudanças no clima nas nossas vidas, mas o que muitas pessoas não sabem é que as principais mudanças deverão refletir na nossa mesa e, consequentemente, no nosso bolso.
Para o Brasil, de acordo com estudo sobre o AQUECIMENTO GLOBAL E A NOVA GEOGRAFIA DA PRODUCAO ADRICOLA NO BRASIL publicado em agosto de 2008 por pesquisadores da Embrapa e Unicamp, os efeitos das mudanças no clima podem resultar em impactos expressivos na agricultura.
Segundo este mesmo trabalho, as mudanças no clima podem provocar perdas nas safras de grãos de R$ 7.4 bilhões já em 2020, sendo que estas perdas ainda podem sofrer um aumento e chegar a R$ 14 bilhões em 2070 e, assim, mudar a atual configuração da produção agrícola no Brasil.
As projeções para o futuro apontam que a produtividade de algumas culturas poderão diminuir significativamente.
Desta foram, algumas culturas, como o café, podem sofrer um processo de migração para regiões mais favoráveis para o seu cultivo e, consequentemente, estas áreas improdutivas poderão ser preenchidas por outras culturas mais adequadas para as características climáticas destas áreas no futuro.
Em Minas Gerais, em especial a região leste do estado, isso não será diferente. Desta forma, acredita-se que o desafio atual, frente os efeitos negativos das mudanças no clima, está na compreensão de que forma a produção agrícola poderá ser comprometida.
Entretanto, para uma melhor compreensão do assunto, por ser complexo e extenso, este tema será divido em duas publicações.
Nesta primeira publicação vamos tratar brevemente sobre as observações atuais das mudanças climáticas para a região leste de Minas Gerais e na próxima publicação trataremos dos impactos destas mudanças na agricultura da região, em especial para o café.
- Mudanças climáticas e o leste de Minas Gerais
A partir de dados climáticos obtidos através do Berkeley Earth, que pertence ao Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL) – EUA, foi possível estabelecer quais os impactos reais das mudanças do clima para a região leste de Minas Gerais.
Através da observação do gráfico podemos notar que desde o início das coletas dos dados climáticos, ano de 1830, ate o período atual houve um aumento considerável da temperatura da superfície terrestre de +0.87 C em 1860; +1.15 C em 1910; + 1.95 C em 1960 e; 2.09 C em 1990.
Esse aumento na temperatura da superfície resulta no aquecimento do ar que esta em contato com esta superfície mais aquecida.
Desta forma, nos sentimos diretamente este aquecimento devido a esta troca de calor entre a superfície e o ar.
Este aumento da temperatura e ainda mais perceptível em cidades com alto índice de desenvolvimento, pois a presença de muitas casas/prédios juntamente com a pavimentação do solo intensifica este aquecimento.
Quando comparamos a temperatura entre as áreas urbanas e a áreas de mata nativa, a diferença de temperatura entre estas áreas pode chegar a 4C.
Em áreas que foram desmatadas o solo fica exposto a altas temperaturas e a radiação direta do solo, resultando no aquecimento deste e, consequentemente, a perda de muita umidade durante o dia. Quando os solos já estão secos, há um aquecimento do ar em regiões que foram desmatadas e as temperaturas destas regiões podem ficar bem próximas das observadas nas cidades da região.
Esse comportamento já pode ser observado, as diferenças na temperatura que antigamente era observado entre as zonas rurais e a urbana na maioria das cidades que compõem a região leste de Minas Gerais, como também em todo estado, não podem ser mais notadas.
Entretanto, quando falamos sobre os efeitos das mudanças do clima para a região leste de Minas Gerais é claro que estamos enfatizando principalmente a questão do aumento de temperatura, pois um aumento considerável da temperatura como já foi observado, 1 °C por século ou mais de 2 °C desde 1860, reflete num aumento muito maior da variação de temperatura durante um dia qualquer. Por exemplo, no inverno pode ser observada uma grande diferença de temperatura durante todo dia., a amanha tem baixas temperaturas e no período da tarde as temperaturas estão extremamente elevadas, sendo que no período da noite as temperaturas voltam a cair rapidamente. Se estas mudanças no clima continuarem estas diferenças na temperatura serão ainda maiores.
Estas mudanças podem ter impactos diretos na circulação do ar, formação de nuvens e, consequentemente, das chuvas para a região.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA