*Alim Rocha de Abreu
Já faz um bom tempo quando, conduzido pelo meu pai, compareci à escola pré-primária para vivenciar o meu primeiro dia de aula. Tinha à época cinco anos de idade, e o meu mundo estendia-se, até então, às cercanias da nossa residência. Nunca havia me distanciado tanto das minhas coisas, nem ficado tantas horas longe da presença da minha mãe, do meu irmão, do meu cachorro de um olho só. Essa transição assustou-me demais porque era, de fato, o primeiro desafio da vida de uma criança.
Esta nostálgica divagação constantemente me assalta, transportando-me à presença da minha primeira professora, dos meus colegas de classe – os que ainda consigo lembrar – e do imenso sentimento de gratidão aos tantos mestres e mestras com os quais fui honrado com sua dedicação e zelo ao longo dos meus anos de estudo. Todos nós, creio, devemos guardar no íntimo tais lembranças, porque os nossos professores são importantes demais na formação cultural das pessoas. Somos o produto da educação advinda de nossos pais e dos ensinamentos adquiridos na escola, já dizia o meu avô.
O filme “Ao Mestre, Com Carinho” (que dá título a este artigo) – produção britânica de 1967 – estrelada por Sidney Poitier, marcou toda uma geração. A história retrata os desafios de um professor que lecionava numa escola barra-pesada, onde se deparava com um grupo de adolescentes rebeldes determinados a infernizar a vida daquele profissional, dificultando sobremaneira o seu trabalho. A referida película cinematográfica, é um gancho para retratarmos os desafios ainda vividos por esta importantíssima classe trabalhadora na vida real. Desde o desrespeito até a agressão física e moral, os nossos cidadãos-professores continuam a viver nos dias atuais o mesmo calvário. E tais fatos não são esporádicos. Infelizmente, os noticiários midiáticos abundam notícias sobre o assunto, não se restringindo tal situação à nossa terra tupiniquim. O problema alcança proporções em escala mundial, e nos faz refletir com séria preocupação sobre o tema, o qual deveria estar no topo da pirâmide social juntamente com outros de igual relevância, como a saúde e segurança públicas, para citarmos apenas algumas obrigações do Estado.
Educação não é brincadeira! É o berço da civilização. A Constituição brasileira em seu artigo 6º prega que são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Desta lógica desprendem-se algumas perguntas: como promover a educação – nesse particular – se desvalorizarmos os educadores? Como expandir qualitativa e quantitativamente os profissionais de ensino ante a baixa remuneração, muitas das vezes insuficiente face à grande responsabilidade de formar cidadãos?
Isso nos remete novamente a recordar tempos idos, quando, por exemplo, o respeito aos mais velhos era ensinamento que se trazia de casa; quando um bom-dia, não era dado apenas por formalidade. Tais conceitos não podem ser relegados a plano secundário, porque constituem o norte da educação de toda a gente. Por essa razão fere o nosso senso de justiça, assistirmos o crescimento da violência também no âmbito escolar, envolvendo atores cada vez mais jovens. Urge desenvolver ações visando resguardar o sagrado direito de aprender, mas sob a tutela de homens e mulheres que não precisem arriscar suas vidas diariamente numa sala de aula. Parece piada, mas não é.
Sejamos os artífices das mudanças que se fazem necessárias. Os alunos-crianças merecem educação de qualidade desde tenra idade, e os nossos mestres o respeito, o reconhecimento, o carinho. Afinal, civilidade não é questão de favor… É educação.
ALIM ROCHA DE ABREU é formado em Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caratinga. Funcionário da Cemig há 33 anos, é poeta, escritor, compositor, cantor e instrumentista. Membro das Lojas Maçônicas Fraternidade Acadêmica de Caratinga, Obreiros de Caratinga e Membro Efetivo da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas – AMLM