Ildecir A.Lessa
Advogado
Em 1º de fevereiro de 2003, o ônibus espacial Columbia, com sua tripulação de sete pessoas, estava reentrando na atmosfera da Terra, descendo para um pouso na Base Edwards da Força da Aérea, na Califórnia. Após transpor o vácuo, o Columbia se desintegrou como um meteoro ao entrar na atmosfera, matando sua tripulação e chocando milhões de pessoas no mundo. Instaurou uma crise.
Na vida de uma empresa, podem surgir situações de crise. Podem vir causadas pela natureza, atos da maldade humana ou de comportamento criminoso, por atos de corrupção, por falta de planejamento tributário e econômico, dentre outras possibilidades. Atenuar fatores que possam provocar crises, tornou-se uma necessidade imperativa para as empresas. Isso inclui uma gestão de risco como uma expertise necessária para atingir os resultados esperados. Muito nova no vocabulário das corporações brasileiras, as equipes de gestão de risco, bem como suas funções, ainda têm sido apresentadas a muitas empresas nacionais. Toda corporação vai ter riscos em todas as suas áreas – planejamento, controle, finanças, tributário, imprensa, tecnologia, recursos humanos, etc. Por isso, os profissionais do setor têm de olhar esses riscos, trabalhando com cada departamento, para que eles sejam mínimos, podendo serem bem administrados em tempo de crise. O ideal é que a gestão de crises comece antes que uma crise realmente ocorra. O gestor de crise, precisa conhecer a empresa como um todo e ter um plano de gerenciamento de risco, que deve ser elaborado ao lado de todas as equipes. O profissional que coordena, deve trabalhar ao lado de outras duas equipes dentro das corporações: as de compliance e as de crise. A cultura de se ter uma equipe atuando na empresa de olho nos riscos do negócios vem crescendo nos últimos anos, não por coincidência, quando a crise econômica recrudesceu e as empresas tiveram de olhar para dentro.
Desde que a Lei Anticorrupção (12.846/13) foi regulamentada, há uma corrida de empresas em busca de implementar processos administrativos que ajudem a evitar desvios de conduta empresarial. Casos de fraude, assédios, violações de direitos humanos, danos ambientais, risco de imagem, ataques cibernéticos, estão na mira das empresas, que apostam em um conjunto de medidas e ferramentas (chamadas de compliance) para fazer com que seus negócios cumpram as leis. A empresa deve ter um Código de Ética e regulamento interno, com normas sobre condutas para reger o comportamento dos funcionários e colaboradores, bem como um descomplicado manual de como gerenciar crises. Não basta o bom senso, porque ele é muito democrático, porque cada um tem seu valor. São necessárias normas claras e transparentes sobre o que as pessoas podem ou não fazer na operação de um negócio.
Após escândalos de corrupção, grandes empresas têm modificado seus processos para melhorar a gestão ética de seu negócio. Não é incomum, uma empresa colocar o funcionário no dilema entre ser ético ou cumprir a meta. E em meio a este impasse, a ética nem sempre sai ganhando. Contudo, necessário averiguar como as regras são interpretadas e cumpridas no dia a dia de uma empresa. Deve ainda, abrir canais para ouvir colaboradores, fornecedores e clientes. E ainda, buscar a harmonia constante no seio da empresa, evitando conflitos de relacionamentos.
A Petrobras lançou um novo canal de denúncias independente, estruturado para funcionar 24 horas, com atendimento em português, inglês e espanhol. A recepção das denúncias estará a cargo de uma empresa independente especializada, informa a companhia em seu site. O ideal é de que uma crise não venha. Mas, em caso de uma crise inesperada, a comunicação é uma ferramenta importante para a empresa, na adversidade de uma crise. Colocar logo em prática, o planejamento de contingência, contenção e solução. A comunicação pela mídia- jornais, televisão, rádio e redes sociais – deve ser usada para contextualizar com exatidão a crise na mente do público. As mensagens devem ser precisas e francas. Devem refletir o ponto de vista do gestor da crise e incluir fatos de apoio. Transmitindo a mensagem logo e com certa frequência, há boa possibilidade de se conseguir contextualizar a história na mente do público, com eliminação de situações negativas. Deve também, ser usado um porta voz certo, em caso de crise, criando um bom relacionamento com a imprensa. Com isso haverá maior credibilidade e coerência na exposição dos fatos, em meio a uma crise. Enfim, toda crise tem seu final. Deve chegar o momento de que, alguém com autoridade na empresa, deve declarar que a crise acabou e que, a mentalidade de crise não é mais adequada. O certo é que, nesses tempos incertos, as empresas devem antecipar às crises, para que, se porventura vierem, enfrentá-las de forma organizada.