José Celso da Cunha [1]
Palenque, México – Parte III: O Templo XIII e a Rainha Vermelha[1]
Palenque é reconhecida e considerada como uma das mais importantes cidades maias do período clássico, (do século III ao século IX d.C.), de grande importância no estudo dessa civilização dinâmica e criativa da Mesoamérica. Ela se distingue por apresentar uma arquitetura própria que a identifica dentre as demais cidades-estados do seu tempo, e a que certamente mais influência exerceu sobre a arquitetura das cidades maias das terras baixas do atual Estado de Chiapas e fora dele. A arquitetura maia em Palenque destaca-se também por apresentar soluções no emprego de arcos contíguos para a construção de galerias paralelas e largas, em que o muro central era utilizado para compor o equilíbrio da estrutura resultante dessa solução. Além disso, empregaram uma técnica que permitia o encontro de duas galerias transversais, com a introdução de uma coluna ligada à parede central, criando novos espaços internos jamais obtidos pela simples aplicação do arco maia em coberturas. Os corredores paralelos são interligados na extremidade por uma cúpula transversal que se apoia no capitel criado na parede central interrompida, como solução para ampliar os ambientes internos dos edifícios. Ela permite obter coberturas apoiadas em colunas especiais constituídas pelas próprias paredes internas. A fotografia ao lado mostra essa situação.
Além dos edifícios apresentados nesta breve abordagem sobre Palenque, há ainda inúmeros outros templos e construções que fazem dela uma cidade representativa do conhecimento técnico na arte de construir do mundo maia do Período Clássico. Nela se consolidou a arquitetura clássica maia, desenvolvida por seus arquitetos e engenheiros, sobretudo sob a influência ou inspiração do grande rei Pakal. O rei, em quarenta anos de reinado, elevou a cidade em um patamar de importância regional jamais superado. Em Palenque os templos são de fácil acesso ao público com cômodos mais arejados e mais amplos em comparação aos edifícios construídos nas cidades mais antigas da região como também das terras distantes da Guatemala e Honduras, como Tikal e Copán, respectivamente. Mas aqui, tudo isso com um estilo próprio, inconfundível nas construções maias. Na fase final das grandes conquistas técnicas no campo das construções, Palenque ainda guardava uma pequena amostra do que era capaz nesse sentido. Recentemente foram descobertas galerias subterrâneas e uma câmara mortuária construídas inteiramente de concreto. Trata-se da estrutura interna do chamado Templo XIII de Palenque. Nesta obra, supostamente foi utilizada fôrma de madeira para conter as pedras argamassadas das paredes inclinadas.
A partir de escavações iniciadas na década de 1990 em Palenque, foi encontrada em 1994 ― no interior do edifício conhecido como Templo XIII, do lado oeste do Templo das Inscrições ―, a câmara funerária de uma mulher idosa, supostamente da nobreza, devido à riqueza das oferendas encontradas nessa câmara. Possivelmente, tratava-se da mãe do rei Pakal, a mentora de grandes feitos da gestão do filho, sobre quem ela teria grande influência também nos negócios de Estado. O pequeno, mas muito bem organizado museu de Palenque, situado na entrada do sítio arqueológico, exibe os principais artefatos encontrados nas escavações mais recentes da região, como no sarcófago da Rainha Vermelha em 1994. Neste, encontraram uma máscara de Jade, composta de pequenos, brincos, estatuetas de cerâmica, adornos e vasos decorados, dentre outros objetos.
Apesar da importância etnológica dessa original rainha de Palenque, interessa à história das construções dois aspectos técnicos que ressaltam a eficiência da engenharia maia no manuseio com a pedra e o concreto. O primeiro aspecto refere-se ao emprego de pedras lavradas e polidas de grandes proporções, cortadas em ângulo reto que fazem parte do sarcófago e sua tampa. Um feito semelhante somente fora empregado na construção do sarcófago do Rei Pakal, em Palenque, como mostrado no artigo do último domingo neste jornal. No caso do sarcófago do rei, como vimos ― diferentemente desse da Rainha Vermelha que não apresentava nenhuma inscrição, desenho ou gravuras ―, os artesãos tiveram tempo para deixar decoradas as paredes da Câmara Mortuária e o próprio sarcófago. O segundo aspecto que se deve ressaltar, no caso da rainha, é a estrutura da sua câmara mortuária, formada por um arco maia com dois metros e meio de largura, em que, aparentemente, empregaram concreto moldado sobre fôrma de madeira. Isso foge do padrão habitual de se construir um arco maia em que a abertura é obtida com o avanço das pedras em balanço, assentadas nas paredes opostas em direção ao centro. No caso da câmara mortuária da Rainha Vermelha, pela ausência do revestimento no paramento inclinado do arco, é possível observar que as pedras que constituem o arco maia não foram empregadas em camadas consecutivas de pedras lamelares assentada a seco e sim através da concretagem direta sobre uma fôrma. Isto, para ambos os lados do arco. Uma novidade, no caso.
Apesar da importância etnológica dessa original rainha de Palenque, interessa à história das construções dois aspectos técnicos que ressaltam a eficiência da engenharia maia no manuseio com a pedra e o concreto. O primeiro aspecto refere-se ao emprego de pedras lavradas e polidas de grandes proporções, cortadas em ângulo reto que fazem parte do sarcófago e sua tampa. Um feito semelhante somente fora empregado na construção do sarcófago do Rei Pakal, em Palenque, como mostrado no artigo do último domingo neste jornal. No caso do sarcófago do rei, como vimos ― diferentemente desse da Rainha Vermelha que não apresentava nenhuma inscrição, desenho ou gravuras ―, os artesãos tiveram tempo para deixar decoradas as paredes da Câmara Mortuária e o próprio sarcófago. O segundo aspecto que se deve ressaltar, no caso da rainha, é a estrutura da sua câmara mortuária, formada por um arco maia com dois metros e meio de largura, em que, aparentemente, empregaram concreto moldado sobre fôrma de madeira. Isso foge do padrão habitual de se construir um arco maia em que a abertura é obtida com o avanço das pedras em balanço, assentadas nas paredes opostas em direção ao centro. No caso da câmara mortuária da Rainha Vermelha, pela ausência do revestimento no paramento inclinado do arco, é possível observar que as pedras que constituem o arco maia não foram empregadas em camadas consecutivas de pedras lamelares assentada a seco e sim através da concretagem direta sobre uma fôrma. Isto, para ambos os lados do arco. Uma novidade, no caso.
A partir do exemplo de Palenque, observa-se que os maias continuaram sua trajetória na História das Construções, vencendo barreiras técnicas surpreendentes que lhes permitiriam construir as mais ousadas obras da Mesoamérica, a partir do emprego do arco maia, agora com o uso do concreto à base de cal e areia. No caso ― seja com o uso do concreto com pedras pequenas, seja com partes maiores deste material ―, a geometria do próprio arco se tornaria curva, ao invés de apenas constituída de dois planos inclinados, como nos exemplos mostrados de Palenque. A técnica da construção do arco curvo ― algumas vezes semelhantes na forma com o arco romano ― foi empregada ao norte de Chiapas, na Península de Yucatán, nas cidades maias do Período Clássico Tardio como Uxmal, Labna, Kabah e Sayil, dentre outras, ambas localizadas ao sul de Mérida, numa região conhecida como Rota Puuc. Nestas cidades os maias criaram um estilo arquitetônico inconfundível, o Estilo Puuc, considerado o barroco da arquitetura maia. Tema que será oportunamente apresentado nesta coluna.
[1] José Celso da Cunha, engenheiro civil, professor, escritor, doutor em Mecânica dos Solos-Estruturas pela ECP-Paris. É membro da ABECE e do IBRACON. E-mail: [email protected].
2 Com base na série do autor: “A História das Construções” – www.autenticaeditora.combr . As fotografias das construções apresentadas neste artigo foram tiradas pelo autor.