Escoliose em adolescentes
* Celso Simões Caldeira Júnior
Dizem por aí que “Pau que nasce torto nunca se endireita” – uma máxima muito comum que nem sempre reflete a verdadeira realidade de algumas lesões ortopédicas como a escoliose.
A escoliose é uma palavra derivada do grego skolíosis que significa curvatura, que pode ser definida como uma deformidade da coluna vertebral, cujo principal componente é o desvio lateral anormal para a direita ou esquerda resultando em formato de “s” ou “c” da coluna visto no raio x. O diagnóstico de escoliose é mais comum do que imaginamos e chega a estar presente em até 3% da população em geral. A escoliose idiopática (de origem não bem definida) em adolescentes é o tipo mais comum e tem origem desconhecida. Essa alteração pode aparecer em qualquer idade, mas acentua-se com o crescimento e com más posturas, progredindo quando há imaturidade esquelética. No total, 80% das crianças e adolescentes representam os casos de escoliose. A progressão é influenciada por fatores como tipo de curva (localização e magnitude), idade, sexo e causa. Estudos realizados em escolares mostram que a observação rotineira da coluna vertebral em flexão, pode evitar o agravamento da escoliose na medida em que permite o diagnóstico e o tratamento precoces, por meio do exame físico com uma manobra conhecida como teste de Adams que é o ato de abaixar-se para frente com as pernas esticadas realça a presença das assimetrias, podendo ser percebido como um lado das costas sendo mais alto do que o outro, formando uma giba.
Além de sintomas clínicos, sintomas psíquicos também podem estar presentes. Isto se deve ao fato da curvatura ser estigmatizante, levando usualmente o paciente à retração social. Adolescentes com escoliose possuem autoestima baixa, pior percepção corporal, sentem-se menos saudáveis e mais infelizes em relação aos colegas de mesma idade sem essa alteração. Podem ainda relatar dor sendo ela irradiada ou não. A queixa principal da criança e/ou adolescente com escoliose está relacionada geralmente às assimetrias resultantes da alteração do alinhamento da coluna vertebral, acompanhada ou não de um quadro de dor. Um ombro mais baixo, uma mama mais proeminente, diferenças aparentes nos comprimentos dos vestuários e má-postura são as queixas mais frequentes. O início do estirão puberal (período da adolescência de rápido ganho de estatura) é marcado pelo aparecimento dos pelos pubianos ou das mamas. A menarca sinaliza a proximidade do final do estirão puberal em meninas e significa que aproximadamente dois terços do tempo total do estirão já ocorreu. O período do estirão puberal apresenta ao mesmo tempo maior risco para a progressão da escoliose e também maior potencial e oportunidade de prevenção. A incidência da escoliose idiopática, em geral, é igual em ambos os sexos, mas as curvas progressivas e mais graves afetam principalmente adolescentes do sexo feminino.
O exame radiológico é o exame considerado padrão ouro para o diagnóstico da escoliose. A análise radiológica inclui a avaliação geral da coluna, dos arcos costais e da estrutura óssea vertebral. Em casos mais graves pode ser necessário a realização de uma ressonância nuclear magnética (RNM) para melhor averiguar a curvatura da coluna e se concomitante à curvatura existe alguma outra condição patológica associada.
Alguns fatores são importantes na escolha da conduta terapêutica como a angulação da escoliose e a idade do paciente. Na fisioterapia existem técnicas que pode ser aplicadas proporcionando bons resultados, como a reeducação postural global (RPG), a osteopatia (técnicas de manipulação vertebral), alongamentos musculares, exercícios específicos e o Pilates (técnica que associa fortalecimento muscular, conscientização corporal e alongamento) e ainda outras técnicas não menos importantes.
Nos casos mais graves da doença pode ser necessário o uso de coletes e ainda ser necessário a intervenção cirúrgica. Importante também é que a criança e o adolescente sejam orientados por profissionais a protegerem suas colunas desde cedo com hábitos posturais que ajudam a minimizar as sobrecargas impostas sobre a coluna tais como, postura ao sentar e ao deitar e também que a prática esportiva quando liberada, seja orientada por profissionais da área de saúde, para que não agrave mais ainda os sintomas causados pela escoliose.
Portanto, ao menor sinal ou sintoma de dor nas costas ou alterações posturais com queixas, a criança ou adolescente deverá ser encaminhada a um profissional capacitado para que seja realizada uma avaliação detalhada, que definirá o rumo do tratamento dessa alteração ortopédica. E que fique sabido: Pau que nasce torto, pode sim se endireitar!!!!
* Celso Simões Caldeira Júnior, Fisioterapeuta, Professor do Curso de Fisioterapia da UNEC – Centro Universitário de Caratinga.
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