Ildecir A. Lessa
Advogado
De longa data, os brasileiros ficaram impregnados com o sonho americano, no sentido de tentar uma vida melhor nos Estados Unidos, como muitos de seus conterrâneos. A história de brasileiros nos Estados Unidos é por demais conhecida, tanto que brasileiro que foi para a América, criando raízes, nem mais interessa se o Brasil existe, com exceções evidentemente. Fatos de brasileiros na fronteira do México tentando entrar nos Estados Unidos ilegalmente, sempre foi de conhecimento de todo o Brasil. Que diga, a cidade mineira de Governador Valadares, cuja urbe em sua grande parte movimenta sua economia pelos dólares enviados dos Estados Unidos para fomento da cidade, o que um grande significado.
Pandemia no mundo, Brasil passando por uma crise política, econômica e sem uma estrutura de rumo bem definida, mais brasileiros se voltam para os Estados Unidos. Alguns de lugares sem nenhuma expressão populacional, partem para o sonho do ouro. Uma brasileira, sucumbiu no deserto do México de fome e sede, recentemente. Nesse retorno pós-Pandemia, a situação de entrada de brasileiros nos Estados Unidos, agravou-se. Brasileiros estão sendo deportados ao Brasil um voos, algemados nos pés, mãos e cintura. Isso depois de passarem um bom tempo encarcerados em prisões de alta segurança, para serem devolvidos ao país de origem algemados. Tornou-se um espetáculo os desembarques dos brasileiros extraditados no aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. Esses voos se tornaram frequentes na cidade desde que em outubro de 2019 a medida começou a ser implementada pelo Governo Donald Trump. Eles chegam uma vez por semana. Em agosto deste ano, já sob o governo democrata de Joe Biden, os EUA pediram a ampliação para dois voos, e a expectativa de Washington é conseguir enviar ao país três aviões semanais com deportados brasileiros.
É o reflexo do aumento exponencial do número de brasileiros deportados após cruzarem a fronteira mexicana. Dados registrados em termos de estatísticas apontam que nos últimos 12 meses o número de brasileiros detidos nesta situação já é mais do que o dobro do registrado nos três anos anteriores somados. Esses números são da U.S. Customs and Border Protection (CBP) ou Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras, em português, órgão dos EUA responsável pelo patrulhamento das divisas e apreensão de imigrantes ilegais.
No período que constitui o ano fiscal americano, que vai de outubro de 2020 a setembro de 2021, 56.881 brasileiros foram detidos após cruzarem a pé a fronteira com o México. No ano fiscal de 2020 haviam sido 7.161, por aparente impacto da Pandemia. Um ano antes, em 2019, foram 17.893, um salto significativo em relação a 2018, quando foram registrados 1.504. São pessoas de diversas idades e origens que buscam atravessar a extensa fronteira por mar, pelo deserto ou se entregando na imigração norte-americana para pleitear um pedido de asilo.
O êxodo de brasileiros em busca de oportunidades de trabalho nos últimos três anos se junta ao movimento de outros povos latino-americanos, que levaram os EUA a uma das maiores crises migratórias da história. Há uma aumento recorde no número de pessoas que tentam entrar no país pela fronteira mexicana —o maior dos últimos 20 anos, de acordo com o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas.
A crise fez o democrata Biden, que durante a campanha fez críticas ao seu antecessor pela desumanidade no tratamento aos imigrantes, seguir a mesma linha. A situação brasileira também preocupa as autoridades mexicanas. Este mês o Governo Mexicano anunciou que em breve será retomada a exigência de visto de entrada para turistas brasileiros no país. Desde 2004, as duas nações possuem um acordo pelo qual bastava a apresentação do passaporte para garantir o acesso. Enquanto isso, o Brasil discute eleições do próximo ano, CPI de Pandemia, quantos mortos pelo vírus, Supremo Tribunal Federal, Bolsa Família encerrando, auxílio Brasil, dentre outros assuntos rodados permanentemente na mídia, enquanto brasileiros fogem da crise do país, para ao mesmo tempo serem de forma vexatória deportados do sonho americano.