Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais.
Pesquisadora CNPQ.
Começo minha coluna citando a seguinte frase: “Não se pode falar de ecologia ambiental sem se falar de ecologia humana, de economia, de justiça social e de ética”.
Gostariam de saber a fonte dessa linda lição de amor? Retirei da Encíclica da Vossa Santidade, Papa Francisco, escrita em 18 de junho de 2015, denominada “Laudado Sí (Alabato Seas)”. Foi maravilhoso ver a sensibilidade de um papa em relação ao desenvolvimento sustentável e integral, preocupado com a renovação da consciência da população, em vista de uma sociedade mais justa e solidária.
Em todos os anos, a Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil aponta na quaresma um ponto de FRATERNIDADE, para onde deve-se convergir os nossos olhares. Dessa forma, é realizada a Campanha da Fraternidade, que revela a comunhão, a conversão e a partilha, com o objetivo de fazer com que nós deixemos nossa vida ser transformada pelas palavras do evangelho.
Neste ano, a Campanha da Fraternidade é Ecumênica com o Tema: “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O lema é: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am, 5,24). Confesso que é arrepiante! Muito atual, real e humano!
O foco tanto do tema como do lema é o saneamento básico, e apontam para uma ecologia integral, como descreve a Encíclica do Papa Francisco. Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenhar por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum é o objetivo principal.
A preocupação é com os mais pobres, os marginalizados atingidos pelos problemas da casa comum, ou seja, da sociedade, como fica evidente na questão do saneamento básico.
Os responsáveis diretos pelos lixões a céu aberto, que poluem os rios e reservatórios de água potável são as prefeituras, empresas públicas e privadas, também pessoas físicas sem o discernimento necessário, e isso acarreta graves doenças para a comunidade. A realidade mostra que a implementação adequada dos serviços de saneamento básico são precários em quase todo o território brasileiro, assim os esgotos são despejados sem nenhum tratamento em rios e córregos que transpassam as cidades, matando tais ecossistemas por meio da poluição intensa.
Atualmente se observa uma inversão de prioridades, a mídia nos mostra a todo o momento os escabrosos gastos milionários em campanhas eleitorais, a edificação de estádios de futebol, olimpíadas, enquanto que as obras de infraestrutura, como a implementação de saneamento básico nas áreas urbanas, ficam em segundo plano sendo claro o abandono social da população mais carente da sociedade.
Assim, nesse período de fraternidade vamos renovar o nosso interior, orando e jejuando em busca da nossa própria conversão para vivermos a solidariedade e chegarmos a Páscoa. Além desses exercícios quaresmais para o nosso aperfeiçoamento como pessoa, é imprescindível diante desse lema do ano de 2016, conhecermos a realidade de nossa rua, de nosso bairro, enfim de nossa cidade, com o objetivo de termos uma olhar mais crítico em relação ao nosso entorno e assim requerermos a implementação de políticas urbanas e ações sócio ambientais para obtermos uma melhor qualidade de vida para toda a população. Estamos nos educando para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho. Buscar o bem comum, e a constância na esperança em Cristo Jesus.