Margareth Maciel de Almeida Santos
Doutora em Sociologia Política (IUPERJ)
Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil (IAB-RJ)
O tempo de Quaresma é tempo de reflexão, tempo em que a Cruz de Jesus é como um feixe de luz que se estende até as nossas mais profundas angústias, como nos desnudasse perante o Cristo. Confesso ser um tempo difícil para mim. Fazer revisão das minhas atitudes, pensamentos e ações, é ficar envergonhada perante Nosso Senhor Jesus. Lembram-se como Adão ficou perante Deus no jardim de Éden? (Gên.1:26).
O homem é um ser livre, mas é preciso que ele respeite os limites que lhes foram dados da parte de Deus quando o criou. Deus disse a Adão que ele poderia comer de todos os frutos das árvores que estavam no jardim, apenas de uma só não poderia comer, pois caso o fizesse certamente morreria.
Todos e todas nós temos um lobo que mora em nós, e domar esse lobo, não é tarefa fácil. Essa rebeldia pode ser definida como uma fraqueza espiritual que vai contra a vontade de Deus, passar dos limites é como uma tristeza, a dor tomasse conta de nós mesmos e assim nos cega de tal forma que não podemos colaborar para um mundo melhor, porque nos cedemos a tentação em busca de vingança, de paixões desordenadas e mata qualquer tipo de relacionamento, mesmo com aqueles que mais precisam da nossa compaixão.
Santa Terezinha falava que a sua maior penitência era controlar os seus impulsos e para isso a necessidade de mergulhar em profundidades para que encontremos as coisas superficiais, ou seja os nossos “demônios” para combatê-los. Mudar a nós mesmos é uma luta constante, imagina mudar o outro?
Respirarmos Deus para lidarmos com problemas sociais, educacionais, economia, saúde, moradia, segurança púbica, construir uma sociedade mais solidária, para que possamos detectar sinais de que “ os excluídos” são os preferidos de Jesus, penso que deve ser uma reflexão constante. Aprendo a cada momento que Jesus não faz acepções de pessoas. Existem muitos ateus que sem saberem, são mais Cristãos do que os que se dizem ser Cristãos e acreditar em Deus.
Dominar as avarezas, o egoísmo, a falta de respeito com o outro, limitando o seu lugar como se fosse o melhor entre todos, fazendo distinções entre pessoas, flutuando sobre as imensidões da água, sem se deixarem lavar pelo Espírito Santo, sem se deixarem envolver com as boas ações pode se dizer que é um pobre coitado, um pobre Cristão.
A necessidade de ser humilde para que possamos conhecer os sinais e dizer para si mesma: isto não irá fazer bem para mim e nem para o outro. Maturidade é dominar os lobos ferozes que existem dentro de nós. Que tarefa difícil! Viver a quaresma não é um tempo fácil pois a partir da nossa consciência de nossas fraquezas, e dominá-las, para nascermos de novo, nos converter é a maior penitência que podemos oferecer a Deus.
Quando não temos consciência do que fazemos, quando vivemos a maldição nada traz a verdadeira felicidade porque estamos viajando, vagando sem encontrar sentido na vida. Penso que aqueles que roubam, mandam matar, ou matam, ambiciosos em obter interesses advindos da exploração econômica, vivem repetindo os seus próprios erros, porque não encontram a verdadeira felicidade, que é fazer o bem e contribuir para o mundo mais igualitário, preocupando-se com a dignidade do próximo. Nunca podemos abdicar de buscar a felicidade, o nosso bem-estar, no entanto o problema é que o avarento não consegue reconhecer os seus próprios limites e o destino o faz esgotado e infeliz.
Vejam o caso de Marielle, o qual somente agora, após seis anos, existe a suspeita de quem são os assassinos da vereadora. O site estadao.com.br/politica nos conta que “ o ex-policial militar Ronnie Lessa, autor das mortes da vereadora e do motorista Anderson Gomes, a Polícia Federal aponta as possíveis principais motivações dos homicídios: “a repugnância” dos irmãos Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e Chiquinho Brazão, deputado federal, em relação à atuação da parlamentar “ em face dos seus interesses escusos”- ligados à milícia e à exploração de terras griladas”. (ESTADÃO).
Segundo o ex-policial militar Ronnie Lessa, autor das mortes e delator, Marielle, “estava atrapalhando os interesses dos irmãos em especial, sua atuação junto a comunidades em Jacarepaguá, em sua maioria dominadas por milícias, onde se encontra relevante parcela da base eleitoral da família Brazão. A família teria pedido para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia”. (Estadão por Pepita Ortega e Fausto Macedo, 24/03/2024).
Coloquei essa informação do Estadão no contexto da QUARESMA, por que sempre que leio “ As três tentações de Cristo”, fico encantada com a atitude de Jesus. E lendo a revista Carta Capital, vi em Diálogos da Fé, uma informação ainda mais clara sobre essas três tentações, que nos conta que Cristo antes de começar a sua vida pública, tendo se retirado para o deserto, para um momento de preparação, Jesus foi tentado três vezes pelo diabo. Jesus teria que decidir, fazer escolhas entre as que o Diabo as ofereciam e as que Deus oferecia. (Leiam Carta Capital, ‘A Quaresma’).
A Quaresma foi um tempo de mudança para Jesus que mesmo sendo o FILHO DE DEUS, o diabo teve a audácia de propor à ELE, ações “como transformar pedras em pães, receber autoridade e poder sobre todos os reinos do mundo, e subir ao ponto mais alto do Templo de Jerusalém e se jogar para que anjos o amparasse”.
Mas coitado do Diabo, pois JESUS, O FILHO DE DEUS E DEUS quer que todos e todas tenham pão, não quer violência e nem exploração social da qual deriva uma dada estrutura de classes das quais retornam sempre a cena das desigualdades e dos conflitos sociais.
Nesse sentido o caso Marielle explica muitas situações umbilicalmente ligado à desigualdade e à exploração e isso faz sentido nesse tempo de Quaresma.
Qual é o cerne da questão?
Pode-se dizer que há um mecanismo de expropriação da riqueza. Assim uma transferência unilateral ou desigual de uns para outros.
Gostaria que esse texto agisse em cada um e uma de nós como sendo um dispositivo analítico que possa transmitir tanto para os exploradores e para os explorados uma reflexão de novos elementos, os quais possam ser acrescentados progressivamente a cada balanço que façamos nesse tempo de quaresma. Repito a pergunta que fiz acima:
Isto que estou fazendo é bom para mim? Quais são as consequências que trarão para os outros? Serão positivas? Serão negativas?
Lembremos sempre que o nosso ponto de partida, a contraposição entre fazer o bem ou o mal é visto sempre por JESUS CRISTO, O PRÓPRIO DEUS, FILHO DE MARIA, E NOSSO SALVADOR.
Feliz Páscoa!
PAZ E BEM!