Ildecir A.Lessa
Advogado
O Brasil ainda luta para debelar o vírus da Covid-19, com a vacinação em massa dos brasileiros e, ao que tudo indica essa luta ainda terá uma grande duração. De outro lado, parece que existe por parte das autoridades, uma flexibilização quanto ao grave problema climático. O mundo de um modo geral, vem fixando atenção para a grande ameaça climática. Incêndios gigantescos no Canadá, mortes por enchente da Alemanha, na Índia e na China – no verão deste ano no Hemisfério Norte, tragédias climáticas acumulam-se mais rapidamente do que medalhas nos Jogos Olímpicos.
A imprensa estrangeira tem noticiado diariamente os eventos climáticos preocupantes, como a edição da revista The Economist traz na capa a chamada “Nenhum lugar é seguro num mundo 3º C mais quente”. O jornal The New Tork Times passou a manter, em sua edição online, um registro permanente de “extreme weather updates”, algo que pode se traduzir como “atualizações sobre eventos climáticos extremos” – grandes enchentes, ondas de calor descomunais, nevascas de proporções épicas. Não parece que a seção vá ter falta de material tão cedo. O texto principal da Economist lamenta que 2021 provavelmente será um dos anos mais frios do século.
A ciência básica por trás do mecanismo do aquecimento global – ou mudança climática – é bem simples, direta, nada controversa e está estabelecida desde o século 19: o dióxido de carbono (CO2) é um gás que aprisiona calor junto à superfície terrestre. E a atividade industrial humana, baseada na queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás) vem aumentando a concentração de CO2 na atmosfera nos últimos séculos. Esse excesso de CO2 limita o quanto da energia solar incidente a Terra é capaz de emitir de volta ao espaço.
A energia não devolvida ao espaço fica presa aqui com a gente. O tempo passa, as coisas esquentam. Não pode portanto, dar lugar para o negacionismo climático – operação ideológica e de marketing armada desde os anos 80 do século passado – o passou por diferentes fases. Diante de um cenário onde negar os fatos, de que o clima terrestre está mudando para pior (“pior” do ponto de vista de nossa espécie e de algumas outras, como sapos e corais; “melhor” do de outras, como mosquitos e águas-vivas), e que essa mudança é causada pela matriz energética global, grupos econômicos e lobbies interessados em manter o status quo passaram a combinar a estratégia negacionista à da deflexão de culpa.
O debate entre responsabilidade individual e transformação sistêmica é (mais um) reflexo da intensa tensão ideológica que hoje existe entre individualismo e coletivismo, escolha de mercado e ação política. Foi essa mesma tensão que fez com que a resposta à Pandemia começasse (e, no caso do Brasil, prosseguisse) de forma tão irracional em tantas partes do mundo. Seria bom resolvê-la antes que o oceano, elevado pelas geleiras derretidas, venha bater à porta, porque a questão climática deve ser levada a sério!