- Eugênio Maria Gomes
Esta semana, em uma conversa com o vereador Denis Gutemberg, ouvi dele a frase que dá título ao presente texto. Conversávamos sobre as próximas eleições municipais e sobre possíveis composições de chapa, quando ele falou sobre a “maldição” que, parece, acaba recaindo sobre a figura do vice, na maioria das chapas majoritárias.
O vice, normalmente é muito festejado durante as eleições, mas, imediatamente após a solenidade de posse, passa a ser considerado como aquele que está sempre articulando e conspirando, como se estivesse ávido pela tomada do poder. Isto pode ser comprovado, de maneira especial, com os que ocupam os cargos de vice-prefeito e vice-presidente da república.
Em Caratinga, por exemplo, há pelo menos 20 anos, os ponteiros do prefeito e do vice não permanecem em sintonia por muito tempo seguido. Todos eles, neste período, assumiram cumulativamente, a função de secretário municipal, passando, então, a lidar diretamente com o munícipe – há pouco tempo seu eleitor – ganhando, consequentemente, a pecha de estar fazendo política com o cargo.
Sinceramente, não consigo entender o porquê oferecer uma secretaria municipal ao vice-prefeito, quando o seu maior objetivo deveria ser o de ajudar o prefeito a governar e, inclusive, substituí-lo em casos de ausência. O vice-prefeito deveria ter um gabinete de vice-prefeito, ajudar o prefeito na efetivação das promessas feitas em campanha, melhorar o atendimento ao cidadão e ser solidário com a boa administração. O município ganharia muito mais se a chapa majoritária permanecesse unida em prol da boa Política e do bom governo, se o prefeito parasse de achar que todo vice fica conspirando e se o vice parasse de achar que todo prefeito o quer distante do poder central do município.
Em Brasília, recentemente, vimos uma verdadeira articulação do vice para derrubar o presidente, culminada com o impeachment da presidente Dilma e da subida ao poder de seu vice, Michel Temer.
Já nos tempos atuais, está claro o desconforto existente entre o presidente Jair Bolsonaro e o seu vice, Hamilton Mourão. Muito mais preparado, mais bem formado e extremamente bem articulado, o general Mourão sofre os ataques dos militantes adeptos do capitão Jair Bolsonaro, de maneira especial de seus filhos, assíduos usuários das redes sociais para mandar os recados de seu pai.
Recentemente, o vice e alguns militares têm sido atacados, também, por Olavo de Carvalho, astrólogo, filósofo amador e educador “mal educado” da ultra-direita, especializado em conversar fiado através das redes sociais, cuja falta de sensibilidade e profundo desprezo pela dor alheia, atingiu seu ápice ao referir-se ao estado de saúde de um dos mais importantes militares do exército brasileiro, o general Eduardo Villas Boas. O fato é que oito dos 38 presidentes que o Brasil teve ao longo de sua história republicana foram vices que assumiram o cargo: Floriano Peixoto, Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart, José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer.
Obviamente, a maioria deles chegou ao poder pela morte, renuncia ou impedimento do titular, porém, de qualquer sorte, saber que há alguém sempre pronto a assumir seu lugar, parece incomodar profundamente os chefes do executivo no Brasil. Talvez, pela profunda e espúria relação política que permeia as relações pouco republicanas mantidas entre essas autoridades e os grupos e “arranjos” que os apoiam. Talvez, apenas pela simples vaidade pessoal e profundo apego ao exercício solitário e egoísta do Poder.
De todos os vices da era republicana, talvez, Marco Maciel possa ostentar o título de vice-prefeito. Intelectualmente preparado, sabia pensar o Estado – ainda que Fernando Henrique tivesse seu próprio desenho. Também era bem articulado no Congresso e descascou muitos abacaxis para Fernando Henrique na relação com o Congresso. Extremamente discreto, nunca criou qualquer problema para o Presidente, sempre colaborando e portando-se de forma sutil e opaca.
Para o nosso atual Presidente, no entanto, nem mesmo Marco Maciel estaria livre de ataques ou não seria acusado de traidor. Para se livrar da pecha de ameaçar o Presidente, seria necessário alguém que não fosse capaz de articular corretamente uma frase completa em língua portuguesa, ou que desconhecesse totalmente todo e qualquer assunto, e que só emitisse opiniões baseadas em “achismos” e pontos de vista equivocados e arcaicos. Tarefa difícil encontrar tal vice…
Enquanto isso, nós teremos que conviver com um governo que conseguiu a façanha de não precisar de Oposição. Dentro dele mesmo, já há Oposição suficiente… Portanto, provavelmente nosso Presidente continuará atormentado pela presença ameaçadora de seu vice, esgueirando-se nos labirintos do Palácio do Planalto e sussurrando sarcasticamente: “O rei está morto! Viva o novo Rei!”
- Professor e Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão do Unec, diretor geral da Unec TV, membro da ALB – Academia de Letras do Brasil -, da AMLM – Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas -, da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni e Presidente da ACL – Academia Caratinguense de Letras. Membro do MAC- Movimento Amigos de Caratinga – e do Lions Caratinga Itaúna. É o Grande Secretario de Educação e Cultura do GOB-MG.