Magda Cristina Assis[1]
“Não pode haver ausência de boca nas palavras:
nenhuma fique desamparada do ser que a revelou”. (BARROS, 2002: 67)
A Síndrome de Down remete significações que permeiam pelos processos da Linguagem e que possibilitam o entendimento sobre o aprendizado da Leitura na criança Portadora de Necessidades Especiais. Tal questão remete a propriedade reflexiva da subjetividade e a expressão da fala, da leitura e da escrita, ou seja, as marcas paralinguisticas e suas interpretações.
O ato de ler, ouvir textos que são lidos, escrever e mesmo falar sobre textos, levam as crianças a aprenderem e a reconhecerem pistas que indicarão uma associação futura, a partir de acumulação de evidências críticas e percepção de símbolos subjacentes à leitura. A criança com Síndrome de Down segue os passos normais de desenvolvimento, apesar de certo atraso. Cada vez mais, se entende que o meio e a criança não podem ser vistos como unidades isoladas, nem estáticas. Nessa interação faz-se necessário o intermédio do faz de conta na infância desta criança, seria então uma forma de interpretar um texto, assim como o reconhecimento de uma figura, ou seja, brincadeiras e interação para promover aprendizagens.
Ou seja, as significações interligadas ao uso de sinais (imagens/gestos) associados à fala, na comunicação com crianças portadoras de Síndrome de Down que ainda não desenvolveram a linguagem (bebês e crianças até 03 anos), podem reduzir as dificuldades de comunicação encontradas por essas crianças mais tarde, melhorando o padrão da fala e o conteúdo da linguagem. Nesse sentido pode-se apontar que o sujeito se apropria da linguagem no interior de um movimento social, parte-se então para uma integração e uma abolição da exclusão.
Partindo desses pressupostos podemos articular a Educação Inclusiva como possibilidade integradora e não exclusora. Segundo Pereira (1980), integrar é um processo, um fenômeno complexo que vai muito além de colocar ou manter excepcionais em classes regulares, ou seja, seria um acolhimento que atinge todos os aspectos do processo educacional. Tal processo educacional viabiliza a inclusão não só no âmbito escolar, mas abre possibilidades para novos conceitos sociais e políticos.
Em crianças com Síndrome de Down as dificuldades em termos de linguagem assumem formas e graus diversos, o que origina questões que envolvem a comunicação. As perspectivas de compreensão e de intervenção nos processos de desenvolvimento cognitivo dos portadores de Síndrome de Down impulsionam a qualidade da aprendizagem desses.
Nesse sentido, por apresentarem habilidades de processamento e de memória visual mais desenvolvida do que aquelas referentes às capacidades de processamento e memória auditivas, as crianças com Síndrome de Down se beneficiarão de recursos de aprendizagem que utilizem suporte visual para trabalhar as informações. O uso interligado de sinais (imagens/gestos) associados à fala, na comunicação com crianças portadoras de Síndrome de Down que ainda não desenvolveram a linguagem, pode reduzir as dificuldades de comunicação posteriores, melhorando o padrão da fala e o conteúdo da linguagem, pois elas compreendem mais do que conseguem expressar. Para isso, no aprendizado de leitura de escrita, deve ser utilizado predominantemente atividades visuais e gestuais apoiadas.
Dentre esses fatores que facilitam o aprendizado, as pesquisas apontam forte reconhecimento visual e habilidade visual de aprendizado, incluindo habilidade de aprender e usar sinais, gestos; habilidade para aprender e usar a palavra escrita; imitação de comportamento e atitudes de interação.
Em meio a uma forma de educação assistencialista oferecida historicamente à criança com Síndrome de Down, surgem atualmente novas possibilidades que desafiam, porém possibilitam novos caminhos de inclusão e valorização dela. O estigma da doença e da incapacidade rompe e emerge experiências educacionais que oferecem uma forma diferenciada, mas não exclusiva.
O conhecimento da Síndrome faz com que a atuação não seja pela via do desconhecimento, o que era gerador de preconceitos e rompia com o desenvolvimento da criança Down, que, como as ditas normais, apreendem sua Linguagem e sua forma de comunicação com uma particularidade de leitura do mundo.
Rompe-se com a figura enferma e com as modulações de padrões, pois cada sujeito possui o tempo subjetivo de adquirir e elaborar a Linguagem, que permite a interlocução com o mundo, independente de aspectos cognitivos, linguísticos, e sócio emocionais. Sentidos e significados são gerados pelas nossas experiências e com a desconstrução de normalidade surge o conhecimento que destitui o preconceito e emerge a aceitação. Compreendemos então que a escrita, a leitura e a linguagem permeiam pela Síndrome a seu modo e passa por interpretações em uma rede de interações que possibilitam significantes sociais e emocionais.
Magda Cristina Assis Costa – Psicóloga; Psicopedagoga; Especialista em Psicologia da Educação; Mestre em Educação e Linguagem. Coordenadora e Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC