* Cláudia Cardoso da Cruz Gomes
Afirmar que a Linguagem é importante se tornou tão trivial que até impossibilita às pessoas perceberem que ela é imprescindível na comunicação e, consequentemente, imprescindível para estabelecer relações interpessoais, sejam elas familiares ou profissionais. Muitas vezes ignoramos o discurso do dia a dia, ou seja, às vezes não nos preocupamos com nossos gestos, com o nosso tom de voz ou com as palavras que escolhemos para usar em nossas relações interpessoais, apenas gesticulamos e falamos em um tom mais alto ou menos alto, nos esquecendo do impacto que nossos gestos e nossas palavras podem causar. Não há como negar, grande parte dos conflitos são gerados pela comunicação, ou melhor, pela comunicação ineficiente quer seja ela proposital ou não.
É muito comum termos dificuldade para dizer um ‘não’. Não utilizamos nossa capacidade argumentativa de forma a nos fortalecer e a necessidade de dizê-lo, dependendo da forma que é dito, pode sim nos enfraquecer. Imaginemos uma situação em que você tenha um amigo que lhe peça um empréstimo. Veja a diferença que se estabelece quando você diz na frase número um: “Infelizmente, não posso fazer isso para você” e na frase número dois “Não posso fazer isso para você de jeito nenhum”. Seria desnecessário avaliarmos o resultado de sua fala, pois é evidente o resultado de cada uma delas, inegavelmente a segunda causaria maior desapontamento em seu interlocutor.
Desta forma, é necessário que nos atentemos, também, para palavras que completam aquilo que falamos ou escrevemos, é claro levando em consideração nossos interlocutores e o contexto social. Estamos assim nos referindo, considerando os estudos linguísticos, aos modalizadores discursivos, elementos linguísticos responsáveis por evidenciar nosso posicionamento diante daquilo que falamos ou que escrevemos. São elementos inerentes ao nosso discurso, pois uma vez que nos expressamos estamos nos posicionando diante de algo e, indubitavelmente, deixando claro nosso ponto de vista em relação ao que está sendo tratado, ou seja, não existem relações humanas, portanto comunicativas, sem a presença de elementos modalizadores discursivos. No entanto, é extremamente importante observar que os elementos modalizadores podem ser mais ou menos explícitos, gerando assim o efeito desejado na comunicação. Será por intermédio deles que as intenções e o ponto de vista do enunciador serão expressos; será através dos modalizadores que o enunciador mostrará suas opiniões e julgamentos de um determinado assunto ou situação.
Retomando nosso exemplo, na frase número um temos um modalizador que completa nossa informação de forma afetiva, “infelizmente”, ao passo que na frase número dois temos uma expressão modalizadora que completa nossa informação “de jeito nenhum”, com efeito puramente negativo. Portanto foi-se o tempo que as palavras mandar, pedir, duramente, infelizmente, consequentemente e tantas outras eram apenas verbos e advérbios. Na perspectiva atual da Linguística é preciso estar atento aos efeitos de sentido das palavras dentro do processo de comunicação e não apenas saber nomeá-la, pois a comunicação sobrepõe aos códigos linguísticos.
Assim, é muito importante que tenhamos consciência daquilo que queremos comunicar, pois depois de pronunciada, a palavra não tem mais volta e falar que “não foi isso que eu quis dizer” costuma não funcionar.
*Cláudia Cardoso da Cruz Gomes é Coordenadora do curso de Letras e professora dos cursos de Letras e Pedagogia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC