”A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia”, Foucault
A psicologia é uma ciência com diferentes áreas de atuação e diferentes linhas de atendimento. Entre as diversas áreas de atuação do psicólogo temos a Neuropsicologia, a Psicologia Hospitalar, Psicologia Escolar, Psicologia Organizacional ou mais conhecida como Recursos Humanos e a Psicologia Clínica. Cada psicólogo, independente da área de atuação profissional, adota uma linha terapêutica. Assim como o médico se forma clínico geral para depois escolher, através da residência, sua especialização. O psicólogo se forma e escolhe uma linha teórica que irá adotar na área que ele for exercer.
Na faculdade, o estudante de psicologia tem aulas sobre o desenvolvimento infantil, as transformações do adolescente, a chegada da vida adulta e as etapas que envolvem o envelhecimento. Estuda os processos que permeiam a vida como o luto, separação, falência, sexualidade, traumas, drogas e tantas outras condições que são experenciadas ao longo da vida. São estudados conceitos que veem a se tornar os pilares de qualquer que seja a linha psicológica escolhida como a empatia, a compreensão, o perdão, toda a base de sentimentos e suas influências.
Vários conceitos são expostos como a filosofia, a pedagogia, a ética profissional e questões jurídicas. A fronteira da psicologia com cada uma dessas profissões acaba interferindo na atuação do psicólogo. A vida e teorias de vários filósofos são abrangidas, pois, muitos deles influenciaram os primeiros psicólogos que surgiram. E enfim é apresentado aos estudantes as opções de linhas psicológicas, seus psicólogos fundadores e a base teórica que eles produziram. Cada aluno então, convencido por uma dessas linhas começa a se aprofundar nessa abordagem, muitas vezes fora da faculdade através dos cursos de formação.
Entre as linhas temos outras divisões. A maior divisão de todas é entre as terapias psicanalistas e as terapias psicológicas. Essa divisão é bem complexa, então vou me restringir as diferenças básicas entre elas. A psicanálise está diretamente ligada a uma das figuras mais importantes da psicologia, Sigmund Freud, ele desenvolveu o conceito do inconsciente que basicamente seria um recurso da mente de armazenando de desejos, lembranças, experiências entre outras coisas. Em sua maioria, construídas na infância e suas etapas de desenvolvimento. Esse armazenamento fica tão bem escondido que não tomamos conhecimento de sua existência. No entanto, o teor desse armazenamento está por trás de cada pensamento, reação e decisão que tomamos. Raramente são conscientizados sendo apenas notados pelos atos falhos ou sonhos e principalmente através do processo de análise onde juntamente com a figura do analista onde o indivíduo poderá compreender e decifrar as influências que seu inconsciente exerce em si mesmo. Outros autores contribuíram com essas teorias acerca do inconsciente e foram dando nomes a cada uma de suas maneiras de lidar com os processos do inconsciente como Jung; Lacan e outros. Todos psicanalistas; teóricos focados em conhecer e decifrar o inconsciente.
Na outra ponta temos as linhas psicológicas de terapias que não construíram no inconsciente seus pilares de compreensão do comportamento humano. Se mantiveram estudando o conteúdo do consciente, mesmo considerando que alguns conteúdos estejam faltando. Diferente das psicanálises que priorizam as experiências infantis, as terapias priorizam o chamado aqui e agora, ou seja, a situações e experiências cotidianas em busca dos sentimentos que não estejam sendo devidamente notados pelo indivíduo e podem estar por trás de suas reações e decisões. Partem do estudo da forma como as experiências vividas no presente o influenciam e moldam a construção da personalidade de cada indivíduo. Uma das intenções é explorar todo conteúdo consciente de cada um para auxiliá-lo na compreensão de seus medos e suas angústias para que através do processo terapêutico seja possível elaborar melhores ou novas maneiras de lidar com diversas questões da vida. Assim como na psicanálise, aqui as possibilidades de linhas são inúmeras também. E vão recebendo nomes próprios e autores próprios e as vezes técnicas próprias, cada um segundo a sua base teórica. Entre elas existe a linha Humanista, a linha Existencialista, a Terapia Corporal, a Gestalt Terapia, a Terapia Cognitivo Comportamental. Estas, um dia eu lhes apresento detalhadamente.
Busquei a maneira que me pareceu mais simples de explicar essa escolha de enorme complexidade. E se ainda ficou confuso para você, saiba que também fica confuso na cabeça dos estudantes de psicologia. Que na sua maioria entra na faculdade sem compreender muito bem o exercício da função do psicólogo e muito menos sabendo que suas escolhas só estão começando dentro dessa insana profissão.
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]