*Adriana Barbosa Sales de Magalhães
O ser humano tem necessidade de água com qualidade adequada e em quantidade suficiente, não somente para garantir a saúde, como também para o desenvolvimento econômico. Nas últimas décadas, o desmatamento de encostas e das matas ciliares, além do uso inadequado dos solos, vêm contribuindo para a diminuição da quantidade e qualidade da água.
A mata ciliar é formada pela cobertura vegetal encontrada ao longo de rios, córregos, nascentes, lagos e represas e exerce uma grande importância para o equilíbrio ambiental haja vista que contribui para a manutenção e qualidade dos recursos hídricos e funciona como um corredor ecológico, auxiliando a vida silvestre.
A expressão mata ciliar surgiu por causa da semelhança entre a função dessa vegetação e a dos cílios humanos, pois da mesma maneira que os cílios protegem os olhos das impurezas do ar, a mata ciliar serve para depurar a água por meio da eliminação de agrotóxicos, pesticidas, resíduos químicos e outros tipos de sujeiras carreadas para os rios e outros reservatórios de água.
Dentre os benefícios proporcionados por esta vegetação, tem merecido destaque o controle da erosão nas margens dos rios e córregos; a redução dos efeitos de enchentes; manutenção da quantidade e qualidade das águas, filtração de resíduos de produtos químicos como agrotóxicos e fertilizantes, além de constitui-se habitat para diferentes espécies contribuindo para a manutenção da biodiversidade local.
Destaca-se a importância da mata ciliar não só para a biodiversidade terrestre, como também sua interferência sobre as espécies aquáticas, já que a destruição dessa mata altera o índice de luminosidade incidente, a composição química e a temperatura da água, interferindo diretamente sobre as diferentes espécies ali encontradas. Além disso, a mata ciliar também contribui para a sobrevivência e manutenção do fluxo gênico entre espécies animais e vegetais que habitam as faixas ciliares ou mesmo fragmentos florestais maiores por elas conectados.
A presença da mata ciliar está relacionada também com a redução da poluição difusa, caracterizada pela redução nos níveis de erosão e sedimentação que representam uma séria ameaça aos reservatórios de água e que resultam no aumento de muitas doenças de veiculação hídrica, principalmente causadas por vírus e bactérias adsorvidos aos sedimentos.
Apesar da importância para a preservação do meio ambiente e da biodiversidade, muitos trabalhos apontam um alto índice de devastação das matas ciliares. Entre as principais causas estão o uso das áreas naturais e do solo para a agricultura, pecuária, loteamentos e construção de hidrelétricas que contribuem para a redução da vegetação original, chegando em muitos casos na ausência da mata ciliar.
A presença dessas formações florestais ao longo dos cursos hídricos é uma proteção natural contra o assoreamento, pois auxilia na fixação do solo por meio de suas inúmeras raízes, diminuindo o impacto das chuvas e fazendo com que rios, lagos, lagoas e nascentes fiquem protegidos das inundações, ou seja, essa vegetação direciona a água para o solo e não diretamente para o leito dos rios evitando desmoronamentos e inundações em época de chuva que anualmente acontecem em diversas cidades.
Dentro de uma bacia hidrográfica, a água das chuvas apresenta os seguintes destinos: parte é absorvida pelas plantas, evapora-se e volta para a atmosfera; parte escoa superficialmente formando as enxurradas que, através de um córrego ou rio abandona rapidamente a bacia. Outra parte se infiltra no solo, ficando temporariamente retida nos espaços porosos e é absorvida pelas plantas ou evapora através da superfície do solo. O restante alimenta os aquíferos, que constituem o horizonte saturado do perfil do solo.
Em condições de cobertura de floresta natural não perturbada, a taxa de infiltração de água no solo é normalmente mantida em seu máximo. Nessas condições, raramente ocorre a formação de escoamento superficial, a não ser em locais afetados pelas atividades relacionadas com a exploração da floresta. As características do piso florestal constituem uma das condições principais para a infiltração da água no solo. A camada orgânica formada por folhas e galhos das árvores e o aumento da porosidade do solo gerado pelas raízes das plantas proporciona, maior infiltração da água mantendo a capacidade de armazenamentos da bacia hidrográfica. Além disso,esses fatores também contribuem para a proteção do solo, visto que tornam as margens mais estáveis evitando a erosão.
Apesar da importância dessas formações florestais, a expansão das fronteiras agrícolas, não levou em consideração tamanha relevância. Atualmente, embora exista legislação específica tratada no Código Florestal, bem como iniciativas de reflorestamento, o desmatamento das áreas ciliares para fins agrícolas ainda perdura e são raras as situações onde há um planejamento ambiental efetivo.
Para a recuperação e preservação das nascentes e mananciais em propriedades rurais, podem-se adotar algumas medidas de conservação e proteção do solo e da vegetação que englobam desde a eliminação das práticas de queimadas até o enriquecimento das matas nativas.
Considerando da importância da mata ciliar na conservação das nascentes, o produtor rural desempenha papel fundamental. Entretanto é um desafio conseguir conciliar a preservação das matas e o aumento da produtividade. Diante disso a Agência Nacional das Águas (ANA) criou o Programa Produtor de Água usando o conceito Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), uma forma de incentivar o produtor rural a adotar boas práticas conservacionistas que melhore o meio ambiente trazendo benefícios a todos. O PSA estimula os produtores rurais a cuidar da água, em contrapartida recebem apoio técnico e financeiro para diversas ações como construção de terraços, barraginhas, readequação de estradas rurais, recuperação e proteção de nascentes, reflorestamento e manutenção de reservas florestais.
Por fim, a conservação da mata ciliar é indispensável à manutenção da qualidade de vida. Dessa forma, fica claro que, se adotarmos uma política de preservação, manutenção e recuperação da vegetação ciliar, estaremos preservando as fontes naturais de água e a biodiversidade, contribuindo assim para a manutenção do equilíbrio ecológico.
*Adriana Barbosa Sales de Magalhães, Bióloga pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC – Bahia), Mestrado e Doutorado em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Pós-doutorado em Saneamento Ambiental (UFV). Professora do Centro Universitário de Caratinga
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