E DEUS, O QUE ELE DIZ EM RELAÇÃO AOS POBRES? Nos Escritos de Sabedoria
Os Escritos [do Antigo Testamento] eram usados sabaticamente pela comunidade judaica (de Jesus, certo!) juntamente com as leituras da Torá e dos Profetas. É impressionante a quantidade de textos que se referem ao assunto em pauta [como tratar os pobres].
Assim, as Escrituras refletem o caráter de Deus. Sendo a Palavra dele, o que ele pensa estará espelhado em qualquer um dos seus livros.
A importância da generosidade: ela é central no caráter do Deus Todo-soberano.
Salmo 72.1-4, 7, 12-14 Ó Deus dá teus juízos ao rei, e ao filho do rei, tua justiça, para que ele julgue teu povo com justiça, e teus pobres com equidade. Que as montanhas, assim como os montes, tragam ao povo prosperidade com justiça. Que ele julgue os aflitos do povo salve os filhos do necessitado e esmague o opressor. […] Que a justiça floresça nos seus dias, e haja plena paz enquanto durar a lua. […] Porque ele livra o necessitado que clama, e também o aflito e o que não tem quem o ajude. Ele se compadece do pobre e do necessitado; salva a vida dos que estão em necessidade. Ele os liberta da opressão e a violência; a vida deles é preciosa aos seus olhos.
Salmo 82.3-4 Fazei justiça ao pobre e ao órfão; procedei com retidão para com o aflito e o desamparado. Livrai o pobre e o necessitado, livrai-os das mãos dos ímpios.
De acordo com o escritor bíblico, interessar-se e ajudar o necessitado é um mandamento, uma ordem do Criador. Muitas vezes, quando este assunto vem à baila, diz-se que o tempo trará a solução. Mas esta missão não se dá por si mesma.
Justiça social, maior justiça na sociedade depende de verdadeira ação, de uma ação justa. É um chamado urgente para agir libertando os cativos, pois cada instante deles é sofrimento que pode ser evitado.
Mais tarde o líder Neemias (cap. 10) assina um contrato com o povo de Israel – obviamente, com aqueles que tinham condições financeiras. O contrato consta de dez resoluções, e destacamos as que cuidam dos socialmente fracos, e que se baseiam nos textos já vistos do Pentateuco:
Neemias 10.30-39 31 […] (Terceira resolução) Cada sete anos abriremos mão de trabalhar a terra e cancelaremos todas as dívidas. […] 37 […] (Nona resolução) E traremos o dízimo das nossas colheitas para os levitas, pois são eles que recolhem os dízimos em todas as cidades onde trabalhamos. 38 Um sacerdote descendente de Arão acompanhará os levitas quando receberem os dízimos, e os levitas terão que trazer um décimo dos dízimos ao templo de nosso Deus, aos depósitos do templo.
Algo muito interessante ocorreu nesta situação pós-exílio. Ainda segundo Crüsemann, houve uma união entre os agricultores livres com os levitas (responsáveis pelo culto a Deus).
Em outras palavras, o direito social e o direito cultual foram organizados e unidos num documento só, mostrando a preocupação de Deus tanto para com os pobres como com aqueles que servem no culto a Deus, algo que há de garantir a justiça social.
Podemos, contudo, ter uma outra interpretação desta união entre agricultores e levitas. Segundo Galilea, é um sinal de que haja o perigo de se cair numa formalidade, na religiosidade, e, por conseguinte, numa paganização:
Um ministério entra em decadência quando se clericaliza, centralizando-se no culto. Geralmente, para julgar a qualidade pastoral de um ministério, esta queda está muito ligada às raízes de seu estatuto clerical e ao volume de funções rituais. […] Aplicando ao ministério cristão, tal ministério cristão se paganiza, o que quer dizer que está na descida para se transformar num sacerdócio de religião natural.
Sem pestanejar, a fé bíblica que destacamos aqui é uma fé que foge do espírito religioso, mas que não despreza a liturgia dentro dos moldes da adoração do Deus vivo.
Sem dúvida, portanto, nas reformas encabeçadas por Neemias logo após o exílio, vemos o fruto de uma fé corajosa e verdadeira em ação, e que se baseia nas Escrituras, incluindo o cuidado do pobre e necessitado.
(Extraído do nosso livro/e-book A Generosidade Começa de Cima, Parte II – O que Deus diz em relação aos pobres, págs. 52-54)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum [email protected]