“O nosso direito de consumir felicidade sem produzi-la não é maior do que o de consumir riquezas sem produzi-las”, George Bernard Shaw
Nós não temos o direito de ser feliz, sabia? Temos o dever. A felicidade não é brinde que recebemos pelo simples fato de existir. A nossa existência nos proporciona a principal condição de vir a ser feliz sim, mas essa história não termina aí, apenas começa. Mas então eu não mereço ser feliz? Se você fizer por merecer, sim. A felicidade precisa ser conquistada, adquirida, atingida, encontrada e não ganhada ou recebida por direito. E se você a busca, pare e reflita no que você tem feito para merecê-la porque ultimamente temos compreendido a felicidade erroneamente.
Todos os dias, milhares de pessoas entram nos consultórios médicos e psicológicos para tratarem de sintomas e não das situações causadoras desses sintomas. E infelizmente a medicina tem atendido a essa demanda industrializando a felicidade. É a medicina e não a vida que tem garantido a felicidade. Alguns médicos têm confundido tristeza com depressão, a infelicidade com depressão crônica. Não é de se estranhar o grande aumento na prescrição de drogas psicotrópicas, ou seja, drogas que influenciam o comportamento como antidepressivos, ansiolíticos e os estimulantes. O mais alarmante é que esses medicamentos vêm sendo largamente prescritos por médicos de outras especialidades e não pelos neurologistas e/ou psiquiatras. Eles têm tratado medicamentosamente depressões leves ou mesmo a infelicidade ignorando pesquisas que indicam a recomendação da prescrição medicamentosa para casos considerados moderados a graves. Enquanto os outros casos devem ser orientados pela busca do tratamento psicológico.
Você pode não ter problemas no trabalho e ao mesmo tempo não estar realizado com ele porque de alguma maneira esse trabalho não está alinhado com seu conjunto de habilidades ou expectativas. Pessoas vivem em casamentos completamente desregulados e buscam o consultório médico para reclamar da insônia, da enxaqueca, das compulsões e resolvê-las para assim continuarem nesse casamento desajustado sem agora sofrer as consequências dessa omissão. E os médicos aceitaram o desafio de curar a infelicidade usando meios artificiais. Mas esses remédios não são projetados para tratar a infelicidade, pois não é possível viver sem sofrer a infelicidade faz parte da condição humana. Desta maneira muitos desses medicamentos acabam por não oferecer resultados satisfatórios ou duradouros, mas a falta de compreensão coletiva do conceito real da felicidade faz com que esses pacientes continuem a buscar outros médicos que insistem em prescrever outros remédios, não é incomum a prescrição de vários remédios ao mesmo paciente, no lugar de parar para ouvir atentamente e então diagnosticar corretamente o que está acontecendo na vida desta pessoa e não apenas no seu corpo.
A felicidade não é a ausência de problemas. A felicidade é a realização pessoal em uma ou mais áreas da sua vida. Se sua vida e sua cabeça não estiverem em sintonia a sensação de felicidade não estará presente. A felicidade tão pouco é uma condição definitiva, ela é na verdade um estado transitório que nos visitam nos momentos em que estamos satisfatoriamente atendidos em algumas de nossas esferas de vida. E temos muitas esferas para conquistar esse feito. Temos a área profissional, a social, a amorosa, a espiritual e principalmente a pessoal que inclui a qualidade do nosso relacionamento com nós mesmos.
É indispensável que estejamos bem com nós mesmos para estarmos bem com o meio em que estamos inseridos. E para isso é fundamental conhecer e tratar a nossa real estima; descobrir aquilo que nos tira sorrisos; encontrar as situações em que não vemos as horas passarem; faxinar nossos pensamentos acerca de nós, dos outros e do mundo; fazer as pazes com o passado, viver no presente e parar de temer o futuro; termos relações sadias com nós e os outros que nos cercam; entre tantas outras tarefas que precisamos nos dedicar para conseguir o mínimo de qualidade se queremos conquistar a real felicidade. Não devemos desprezar o esforço que nos é necessário para alcançarmos a felicidade e todo o trabalho de manutenção que é preciso para que essa felicidade não seja fugaz. Para tanto, as pessoas precisam de uma dose de infelicidade para tocar suas vidas para frente e empurrá-las para fora das más situações de vida, conferindo-lhes o senso de necessidade de corrigir o que está errado e precisa ser reparado ou compreender e aceitar ativamente aquilo que não pode ser reparado.
Nossa consciência nos diz quando estamos no caminho errado, consulte-a, e prescreva doses diárias de dedicação na busca de suas conquistas! Mas se estiver difícil, busque ajuda dos amigos. Se ainda estiver pesado, busque apoio psicológico. Se ainda estiver complicado, tente um pouco mais. Porque a felicidade não se trata de um direito dado por herança, é realmente preciso conquistá-la.
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, duvidas e sugestões: [email protected]