Saiba os reflexos do protesto dos caminhoneiros para Caratinga
CARATINGA- A greve dos caminhoneiros deflagrada na segunda-feira (21) teve impactos em diversos setores do Brasil. O impasse em torno dos preços dos combustíveis segue com tentativas de negociação. Inicialmente, a Petrobras declarou a redução de 10% no valor do diesel nas refinarias por 15 dias. Os manifestantes decidiram dar continuidade ao movimento.
Conforme a Associação Brasileira dos Caminhoneiros, as paralisações e protestos serão suspensos se o governo retirar a PIS/Cofins e a Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) incidentes sobre os combustíveis e a medida entrar oficialmente em vigor. No final da tarde de ontem, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro) informou que cerca de 40% dos postos de combustíveis de Minas Gerais já estavam com falta de insumos ou desabastecidos.
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse que o governo espera conseguir uma trégua na paralisação em reunião que estava prevista para a tarde de ontem, na Casa Civil, com representantes da categoria.
O DIÁRIO DE CARATINGA apurou os reflexos do movimento em Caratinga. Até o fechamento desta edição, não havia acordo entre as partes e os caminhoneiros mantinham a greve.
CEASA
Na Central de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas), a quinta-feira que é conhecida como um dia de intensa movimentação comercial no entreposto de Caratinga, tinha um cenário desanimador na manhã de ontem. Poucos caminhões e produtores cabisbaixos, receosos com os prejuízos.
Um deles não quis gravar entrevista, mas não escondeu a decepção. Recolheu toda sua mercadoria, disse que estava voltando para casa e comentou que se o movimento dos caminhoneiros seguir até a próxima segunda-feira (28), dia que já não é tão bom para a comercialização como a quinta-feira, ele não vai trazer os produtos.
José Paulo, vice-presidente da Associação dos Produtores Hortigranjeiros da Ceasa, esteve acompanhando a situação na manhã de ontem e explicou de que forma o movimento impactou em Caratinga. “Os companheiros compradores de outras cidades mais distantes tiveram que passar por bloqueio, não conseguiram chegar aqui e nós que somos produtores precisamos dos compradores das cidades grandes. Os produtos que estão na Ceasa hoje são da região, o que vem de fora são determinadas frutas, mas, batata e cebola esses não tiveram como chegar aqui. Era estoque que tinha para vender aqui”.
Conforme José Paulo, fica a incerteza para os próximos dias. “A Ceasa continua, agora depende do petróleo, se não tiver não tem comércio. Eu mesmo tenho combustível só para rodar hoje, tenho que economizar, imagina quem tem que andar 300 km? O produtor quase todo dia toma prejuízo, hoje o prejuízo é maior, mas, acreditamos que isso é mínimo pra nós, tem gente tomando mais prejuízo ainda”.
Apesar dos prejuízos aos produtores, ele concorda com a greve dos caminhoneiros e afirma que as reivindicações são justas. “Já deveria ter acontecido há muito tempo essa paralisação, se eu pudesse estaria lá no meio fazendo a greve também. Não está tendo condições de ninguém trabalhar, quem compra diesel ou a dona de casa que compra gás, não está sobrando nada. Isso é bom para os mandatários que estão lá em cima verem que deveriam buscar os banqueiros para transportarem as mercadorias hoje. Eles acham que banqueiro vota, quero ver na hora do voto aí, esses que prestigiaram a corrupção vão se eleger. Pode ser que vão se eleger, porque muita gente não pensa na hora de votar, se pensar como eu, faz uma lista, onde tem fumaça tem fogo”.
Mário Sérgio, que é produtor do distrito de Dom Corrêa, zona rural de Manhuaçu, também fala sobre o impacto do movimento na Ceasa. “No escoamento da minha produção para aqui não teve impacto, de onde venho até o Ceasa não teve problema. Mas, os o problema são os compradores que não conseguiram chegar. Prejudicou, mas ao mesmo tempo acho excelente porque o Brasil está precisando disso. Estamos enjoados de pagar imposto e diesel caro”.
O produtor Eduardo Alves de Oliveira, que veio de Ubaporanga. Ele também lamenta o movimento fraco de ontem, mas está de acordo com os caminhoneiros. “Os caminhões que vêm de fora, da região de Muriaé, Cataguases e Juiz de Fora não vieram, com isso as mercadorias sobraram na ‘pedra’. Para o produtor também é muito ruim não tem como vender, não tem comprador. Apesar disso apoio os caminhoneiros, acho que era necessário, estamos passando por uma situação muito difícil e se não parar, não tem como melhorar”.
Outro reflexo tem sido nos preços das mercadorias, como detalha um comerciante de Bom Jesus do Galho. “As frutas quase não tinham, porque vêm quase todas de Belo Horizonte. Os legumes são produzidos aqui na região e não teve alteração. Mas, os grandes compradores da região de Muriaé, Manhuaçu, Carangola e Vale do Aço, não vieram por causa da greve. A cenoura paguei o dobro do preço normal”.
SEM COMBUSTÍVEL
Como já era previsto desde a manhã desta quarta-feira (23), os caratinguenses enfrentaram dificuldades para abastecerem seus veículos em Caratinga ontem. Com o bloqueio das rodovias e manifesto até mesmo em frente a refinarias, rapidamente os postos já registravam baixa na disponibilidade de combustíveis.
A ‘corrida’ dos motoristas por combustível se estendeu até a noite e filas enormes foram registradas. Ontem pela manhã, o cenário era completamente diferente: vazio. Alguns postos inclusive providenciaram uma placa anunciando ‘Não temos combustíveis’. Sem alternativa, frentistas afirmam que ainda que a greve termine até o sábado, será necessário um prazo para que a situação se normalize em Caratinga, pois as estradas estarão congestionadas.
SUPERMERCADO
O sócio proprietário do Irmão Supermercados Ary Silva, disse que a situação por enquanto está tranquila, pois possui um grande depósito com estoque bem abastecido. O empresário afirmou que as vendas aumentaram, pois as pessoas estão correndo para fazer compras temendo ficarem sem mantimentos. Mas, o supermercado continua fazendo entregas normalmente, pois também tem estoque de óleo diesel.
Ary fez questão de destacar que não aumentará os preços. “Não vamos aumentar os preços para aproveitar da ocasião, trabalhamos com seriedade. Frutas, verduras e carne, o supermercado consegue comprar aqui mesmo na região. Arroz, feijão, açúcar e água mineral, o Irmão também tem grande estoque”.
SAÚDE
Devido à falta de combustível nos postos para abastecimento dos veículos, a Secretaria Municipal de Saúde informou que os serviços de atendimento com ambulância estão sendo alterados: “Estão sendo priorizados os atendimentos de urgência e emergência; as viagens programadas para este período serão remarcadas”.
TRANSPORTE ESCOLAR
O executivo comunicou em nota que em virtude da greve dos caminhoneiros, a frota do transporte escolar se encontra sem combustível, portanto, a prestação do serviço está suspensa até o retorno do abastecimento. A equipe da Secretaria Municipal de Educação está realizando o levantamento das escolas que terão o atendimento comprometido para que seja feito o reagendamento e reposição dos dias letivos. Os alunos serão informados.
COLETA DE LIXO
A Secretaria de Meio Ambiente informou que devido à falta de combustível na cidade, toda a rota de coleta de lixos vai sofrer alteração. Nesta sexta-feira (25) os lixos serão recolhidos e a partir de sábado (26) as coletas estão suspensas.
“Pedimos a colaboração da população evitando fazer descarte dos lixos nas ruas com a periodicidade costumeira; sendo possível, retenham por maior tempo os sacos em ambientes internos; e quando realizarem o descarte de seus lixos, pedimos que o façam com os sacos devidamente amarrados para evitarmos maiores transtornos nas vias públicas”, disse em nota.
A Prefeitura ainda ressalta a importância de que haja colaboração geral, “para que melhor consigamos administrar esta questão que é indesejada para todos”.
ÔNIBUS
De acordo com o diretor de Operações de Manutenção da Viação Rio Doce, José Geraldo Ferreira, a empresa tem combustível garantido até este sábado (26). “Temos um estoque aqui que nos garante pelo menos até sábado, não vamos precisar cortar horários ainda. Acredito que se chegar ao ponto crítico de ter que paralisar horários, vamos paralisar horários de vias longas, o último a ser afetado será o transporte urbano. Temos um estoque aqui em Caratinga maior, que se chegar a parar o último a ser paralisado serão os urbanos”.
José Geraldo ainda ilustra que a Viação Rio Doce consome 750 mil litros de óleo diesel por mês, praticamente uma carreta de 25 mil litros por dia. “Então, quem consome 750 mil litros por mês tem que ter no estoque dos nossos tanques pelo menos um terço dessa quantidade. Por isso que estamos falando que mesmo que a distribuidora pare de nos abastecer agora, ainda temos estoque para rodar até sábado”.
“Estamos fazendo reserva especial para atender transporte urbano, talvez sábado reduza e domingo até paralise, pretendemos atender a estudantes e trabalhadores. Mas, friso, o último a ser paralisado é o urbano”, reforça José Geraldo.
GÁS DE COZINHA
Outro setor afetado com o movimento foi a distribuição e revenda de gás de cozinha. Em Caratinga, foram muitos os relatos de consumidores que não estavam encontrando o produto. Há quem quisesse fazer uma reserva, temendo a imprevisão do encerramento da greve.
O DIÁRIO esteve em uma distribuidora da cidade e acompanhou o momento em que uma atendente explicava ao consumidor a situação: “Infelizmente, não temos”.
O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), manifestou preocupação com a possibilidade de faltar gás. O sindicato informa que “a interdição das principais rodovias brasileiras impede a saída dos caminhões que transportam o gás, seja a granel ou em botijões, das bases de enchimento das distribuidoras até o consumidor final ou até as revendas de gás”.
O Sindigás ainda relata que há veículos de transporte de GLP parados em estradas bloqueadas, impossibilitados de transportar o derivado de petróleo para as bases que não dispõem de dutos instalados entre as refinarias e as distribuidoras. “O Sindigás chama atenção para o fato de que os riscos de desabastecimento atingem todas as regiões brasileiras e podem causar prejuízos ao funcionamento de serviços essenciais, como hospitais, escolas e creches, além de residências e o segmento empresarial”, afirmou em nota.
COMÉRCIO
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caratinga utilizou as redes sociais ontem, para desmentir um boato de que havia possibilidade de fechamento do comércio hoje. De acordo com a CDL, a notícia da organização para que os comerciantes fechem suas portas em apoio às empresas de transporte de cargas e caminhoneiros autônomos é falsa.
“Nós lojistas somos diretamente prejudicados por essas altas constantes no preço do combustível e também pagamos a conta. Devido a isso, respeitamos e compreendemos o movimento promovido pelas empresas de transporte de cargas e caminhoneiros autônomos em interromper a circulação de veículos de carga nas estradas do país. Contudo, a CDL Caratinga não está promovendo nenhum movimento para fechando do comércio”, disse em nota.
REDE ESTADUAL DE ENSINO
Em virtude das dificuldades geradas pela crise de abastecimento provocada pela greve nacional dos caminhoneiros, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais informou que está determinando a suspensão das aulas em todas as escolas da rede estadual nesta sexta-feira (25).
CEMIG
Em nota, a Cemig informou que o desabastecimento de combustíveis, provocado pela greve dos caminhoneiros que acontece em todo o país desde o início da semana, está afetando a realização de suas atividades operacionais, com impacto no cumprimento dos prazos de alguns serviços demandados pelos clientes. A Companhia afirma que que está priorizando a execução dos serviços emergenciais para os seus clientes, “visando minimizar o impacto dessa paralisação para a população”.
EVENTO CANCELADO
A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Caratinga comunicou que, por questões de logística, o festival ‘Nossa Arte’, que seria realizada hoje foi cancelado por falta de combustível para locomoção das demais Apaes que participariam do evento.
O evento contaria com a presença de representantes de 12 Apaes que pertencem ao Conselho Regional Zona da Mata II e tem por objetivo congregar as pessoas com deficiência intelectual, associada, ou não, a outras deficiências, provenientes dos diversos Conselhos do estado; promovendo intercâmbio social e a vivência dos aspectos positivos da arte, de modo a ressaltar as instituições que atendem a esse público específico, como espaço cultural, artístico e formativo da comunidade”.
Nesta etapa regional, cada unidade participante apresentaria um número artístico, em dos seguintes gêneros: artes visuais: desenho, fotografia, pintura, gravura, colagem, escultura, instalação, computação gráfica e vídeo; artes cênicas: mímica, teatro, dublagem, dramatização; dança: moderna, clássica, contemporânea, danças urbanas (hip hop, street dance), dança de salão; artes literárias: poesias e textos; artes musicais: instrumental e vocal; dança folclórica: regional, nacional e internacional; e artesanato.
PROCON ORIENTA
O Procon Municipal de Caratinga destaca que está atento às notícias veiculadas na imprensa e redes sociais informando que postos de gasolina, “aproveitando-se da greve dos caminhoneiros”, elevaram os preços de seus produtos a patamares exorbitantes. “O aumento injustificado de preços representa prática abusiva e é condenado pelo Código de Defesa do Consumidor, que proíbe aos fornecedores exigir do consumidor vantagem manifestamente indevida e elevação sem justa causa do preço de produtos ou serviço (art. 39, V e X, da lei 8.078/90)”, citou em nota.
De acordo com o Procon, tais atos abusivos caracterizam infrações ao código do consumidor, podendo o fornecedor incorrer, conforme o caso, nas mais diversas sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas, como multa; apreensão do produto; inutilização do produto; suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; suspensão temporária de atividade; revogação de concessão ou permissão de uso; cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; e intervenção administrativa.
E ressalta que a fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas é crime contra relação de consumo punido com pena de reclusão, de dois a cinco anos e multa. (Lei 8.137/1990).
Portanto, o Procon de Caratinga, orienta que em casos de abuso no preço em razão da falta de combustíveis, os consumidores exijam nota fiscal que discrimine o valor pago por litro de combustível e a quantidade abastecida; e registre reclamação junto ao Órgão de Defesa do Consumidor. As denúncias podem ser realizadas pessoalmente na Praça Cesário Alvim, n.01 – Centro – Caratinga.