Evento conta com apoio da FUNEC
CARATINGA – Colocar em debate o sistema prisional, com a participação de acadêmicos do Centro Universitário de Caratinga – mantido pela Fundação Educacional de Caratinga -; e lançar um livro propondo uma profunda reflexão sobre a questão. Foi com tal propósito que foi realizado um Workshop na noite de terça-feira (24), no salão de palestras Celso Simões Caldeira, no UNEC, Centro Universitário de Caratinga.
Na ocasião houve o lançamento do livro ‘Mosaico de Asas’, que traz uma reflexão sobre o sistema prisional brasileiro. Em sua abordagem sobre prisão a publicação destaca a condição feminina nos presídios, adentra no ‘campo minado’ dos direitos humanos, e sugere um conjunto de medidas consideradas simples e possíveis de serem implantadas, que permitiriam a melhora sistemática dos locais.
Um dos autores da publicação é Juarez Gomes de Sá. Graduado pela Faculdade de Filosofia Ciências Letras de Caratinga- FAFIC/UNEC; bacharel em Direito com Habilitação reconhecida pela OAB- Ordem dos Advogados do Brasil, graduado pela Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce, a FADIVALE, ele também é escritor e contribuiu de forma significativa com o projeto. “Ano passado fui convidado pela Angelita, que teve uma experiência de dois meses presa, e de quatro meses em prisão domiciliar, e a gente tem uma amizade de muitos anos. Ela me convidou na qualidade de escritor, e de amigo, para a gente fazer uma discussão a partir da realidade que ela viveu, e uma reflexão sobre o sistema prisional, com questionamentos sobre uma realidade que é comum não apenas ao presídio de Caratinga, mas ao sistema prisional brasileiro. Entrei com o trabalho jornalístico.”
Fruto de pesquisas e experiências profissionais e pessoais, a publicação propõe uma reflexão sobre a falta de diálogo entre os que estão dos lados de dentro e de fora das grades. O trabalho sugere a tentativa de se ter um olhar novo. Uma direção oposta ao lugar comum do discurso de que “bandido bom é bandido morto”.
O médico Igor de Oliveira Claber Siqueira, graduado em Medicina pela UFJF- Universidade Federal de Juiz de fora, e especialista em Medicina da Família e da Comunidade, é médico do presídio de Caratinga, e também foi um dos coautores da publicação. Ela destacou a experiência. “Sempre quis escrever algo sobre saúde prisional. Já trabalho no sistema prisional há sete anos e há quatro anos como funcionário. Foram três anos como voluntário, e a gente vê que é um sistema muito diferente do que geralmente é dito. Os determinantes sociais de estarem ali é muito diferente daquela frase de que ‘bandido bom é bandido morto’”
Já Maria Inês da Rocha Pena, é pós-graduada em Gestão Escolar pela Universidade Federal de Viçosa, graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caratinga- FAFIC, e bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas de Caratinga. É especialista em Educação na secretaria municipal de Educação de Caratinga, e uma das fundadoras e atual vice-presidente da Associação de Assistência ao Condenado, a APAC de Caratinga. Maria Inês participou do projeto e deu ênfase aos seus quase 20 anos de trabalho voluntário junto aos detentos. “Fui convidada para participar desse livro por fazer há 19 anos um trabalho voluntário no presídio, e há 10 participo da diretoria da APAC. Desenvolvo esse trabalho direto com os presos. Gosto muito do que faço e me sinto orgulhosa em poder contribuir.”
Durante o evento houve apresentações musicais, de vídeos, e os autores fomentaram o debate, especialmente junto à comunidade acadêmica no entorno da comarca, onde aproximadamente 600 pessoas estão privadas de liberdade.
Angelita Carla Nacife Ferreira Lelis é idealizadora do projeto. Bacharel em Administração, MBA Executivo em Gestão Empresarial Estratégica, com ênfase em Gestão de Pessoas, a ex-detenta ficou presa por cerca de dois meses. A experiência vivida na cadeia no ano passado, quando foi detida acusada de cometer irregularidade quando fez parte da gestão pública municipal, o que ela nega, a inspirou a lançar o livro. Angelita preferiu exaltar a participação dos acadêmicos e o valor da educação. “Só acredito na transformação das pessoas através da educação. Precisamos primeiro acolher. Gostaria de agradecer os cursos convidados da instituição. Os meus laços com a UNEC são enormes e eu estou muito feliz em poder estar aqui propondo aos cursos de Medicina, Fisioterapia, Psicologia, Nutrição, Farmácia, Enfermagem, Pedagogia, que estejam conosco nesse debate saudável. Precisamos abrir os olhos para essa comunidade que está a sete quilômetros de nós e que precisa de um olhar humanitário.”
O evento contou com a participação da diretora do INCISA, Instituto de Ciências da Saúde e vice-diretora geral do CASU, Raquel de Carvalho. “Uma discussão de um livro tão rico, crítico, justamente num ambiente acadêmico, propício para essa discussão. Esperamos que desse momento possam sair ideias e concretizar sonhos. Agradeço a todos os autores. São pessoas de uma ousadia e de uma dignidade muito grande. Temos um enorme apreço a todos eles.”
Houve redação da “Carta de Caratinga”. Um documento que nasceu das discussões e que será encaminhado às autoridades do Estado, contendo propostas de criação de uma APAC, Associação de Proteção e Assistência ao Condenado “FEMININA”, e de implantação de uma UBS, Unidade Básica de Saúde, no Presídio de Caratinga; além da garantia do ensino médio para as mulheres que cumprem pena.