Caratinga registra o quarto maior número de diagnosticados da regional de Coronel Fabriciano. Médica explica sobre a doença e suas formas de transmissão
DA REDAÇÃO- O Estado está reforçando a importância da atenção com a sífilis, que pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada, conhecida como transmissão adquirida, ou ser transmitida para a criança durante a gestação ou parto, classificada como transmissão gestante e congênita.
A Regional de Saúde de Coronel Fabriciano contabilizou com referência dezembro de 2021, 734 casos de Sífilis Adquirida, 315 de Sífilis em gestante e 221 de Sífilis congênita. Conforme a regional, foi realizado um intenso trabalho deconscientização da importância das notificações de sífilis. “Ainda percebe-sesubnotificação mas as notificações estão aumentando sensivelmente.Os dados revelam uma alta ocorrência de sífilis congênita, o que já está sendotrabalhado juntamente com a Atenção Primária à Saúde e Saúde da Mulher,para prevenção, combate e diminuição de casos”.
Ainda de acordo com o boletim divulgado, um dos grandes desafios foi a mobilização dos profissionaismédicos para que conheçam e sigam oprotocolo clínico e prescrevam otratamento adequado. Além disso, outrodesafio é fazer com que todas as unidadesde saúde ofereçam a Penicilina GBenzantina. Dos municípios da região, se tratando de Sífilis Congênita, foram registrados um caso em Caratinga, cinco em Inhapim e dois em Pingo-d’água.
Já se tratando da Sífilis Adquirida, as maiores incidências foram em Ipatinga, Timóteo, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e Caratinga, respectivamente
Para tratar deste assunto, o DIÁRIO DE CARATINGA entrevistou Luciana Marçal Ferreira, que é médica do Serviço de Atenção Especializada em infecções sexualmente transmissíveis, com ênfase em hepatites virais e HIV.
O que é a Sífilis e quais são as formas de transmissão?
A Sífilis é uma doença sexualmente transmissível, a forma de transmissão mais comum é pela relação sexual desprotegida, mas, também pode ser transmitida de mãe para filho durante a gestação. Então, é uma doença que deve ser sempre investigada e tratada o mais rapidamente possível. A gestante com sífilis pode provocar no seu bebê más formações auditivas, ósseas e visuais, dificuldade de aprendizado. Ela deve ser tratada e acompanhada com mais vigor nas unidades básicas de saúde para evitar que essa criança venha a nascer com a Sífilis e ter essas sequelas.
Caratinga registrou o quarto maior número de casos de Sífilis Adquirida na regional de Saúde. O que tem provocado essa alta do número de diagnósticos?
A Sífilis Adquirida, fora da gestação, pelas outras pessoas adultas, homens ou mulheres, é uma doença que está reemergindo, veio de um período muito grande sem um grande aumento no número de casos e de alguns anos para cá, cinco a seis anos, realmente está tendo um incremento do número de diagnósticos. Chama atenção, isso se deve um pouco à questão da mudança do comportamento dos jovens e dos adultos, que estão tendo um número maior de parceiros e com isso uma exposição maior e pela questão de todas essas doenças sexualmente transmissíveis terem um certo tabu no tratamento. Às vezes a pessoa procura a farmácia, toma um remedinho qualquer e não procura um médico, uma unidade de saúde para fazer uma investigação e um tratamento adequado.
Quais são os sintomas da doença?
Quando é feita a transmissão da pessoa contaminada à pessoa suscetível, inicia como uma úlcera indolor, sem secreção, às vezes tem uma íngua, mas, normalmente não tem febre ou algum sintoma de infecção. Surge após umas duas a três semanas do contato sexual desprotegido, no local da inoculação. Então pode ter lesão na região da virilha, vulva, pênis, mas, também dentro da vagina, do ânus e da boca, dependendo da situação do sexo, se foi anal, vaginal ou oral. A Sífilis é transmitida de todas as formas de sexo, não tem uma menos infecciosa que a outra.
Apesar de não ter o sintoma característico, a Sífilis é uma infecção. É difícil de ser detectada?
É uma infecção sistêmica, atinge a todos os órgãos e essa úlcera pode passar despercebida pela pessoa. Ela se cura sem nenhum tratamento em outras três a quatro semanas e não fica nenhuma cicatriz nem nada. Dependendo de onde é a úlcera, a pessoa não percebeu, não vai procurar o atendimento médico nesse período. Aquela pessoa que percebe e vai no consultório médico, no posto de saúde, vai ter o tratamento muito mais rápido.
Como é feito o diagnóstico e o tratamento?
A Sífilis é uma doença tratável pelo antibiótico, o tratamento de escolha é a Penicilina Benzatina. As pessoas têm medo desse tratamento, às vezes falam que querem fazer outro tipo de tratamento. Os tratamentos alternativos são só no caso de alergia à Penicilina e geralmente não têm uma cobertura, um resultado tão bom quanto a Benzetacil. Na Sífilis Primária é dose única e essa pessoa faz o acompanhamento deste quadro durante um ano. Quando tem a cicatrização dessa úlcera e a pessoa passa a ter o que chamamos de Sífilis Secundária, com reações e lesão de pele que em muito se assemelham às alergias, lesões avermelhadas ou em placas descamativas, lembram muito micose. A pessoa procura o posto de saúde, trata como outra coisa, essas lesões permanecem por um tempo, em torno de um ano depois da contaminação e desaparecem também. E pensa que se curou, mas, está no período de latência, que pode permanecer por anos ou décadas. Nesse período só diagnosticamos Sífilis pelo exame de sangue, que pode ser o teste rápido feito aqui na Unidade do SAE ou pelo exame de sangue solicitado pelo médico na unidade básica de saúde.
E como se caracteriza o estágio grave da doença?
De qualquer forma, tendo resultado da fase latente da Sífilis, o tratamento é com a Penicilina Benzatina, sendo por três semanas, doses semanais do antibiótico. Feito isso, o acompanhamento é também durante um ano até a negativação do exame. Existe um quadro que é a Sífilis Terciária, quando ela não é tratada adequadamente ou não é tratada ao longo da vida e a pessoa acaba evoluindo para um quadro neurológico. Essa bactéria invade o sistema neurológico e pode provocar acidente vascular cerebral, pode ser causa de demência, transtornos psiquiátricos já na idade mais velha, pode levar a problemas cardíacos, aumento do coração, infartos e outras coisas. A Sífilis Terciária clássica, que seriam as gomas sifilíticas nos ossos e na pele. Essa doença também pode levar à morte ou a sequelas graves, quando não tratada. E na criança exposta à sífilis na gestação, ela já nasce com diagnóstico de sífilis no estágio terciário, já tem alteração neurológica, nos ossos. Uma doença que deve ser tratada, não pode ser negligenciada.
É muito importante a prevenção…
Sim. Chamamos todas as pessoas sexualmente ativas a procurarem as unidades básicas de saúde para fazer esse rastreio das ISTs, doenças sexualmente transmissíveis, que não é só a Sífilis, incluímos o HIV, as hepatites virais e buscar o diagnóstico. Essa é uma maneira de prevenir, quando falamos em prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, pensamos na camisinha e as unidades têm disponíveis para os usuários, mas, a prevenção também parte do momento que você conhece seu diagnóstico. Se você conhece e trata, você está prevenindo de transmitir essa doença para outras pessoas. Lembrar que a Sífilis é uma doença tratável, mas, não gera imunidade. Todas as vezes que você se expor pode adquirir. Não é uma doença que vai se pegar uma vez na vida, tratar e acabou, pode se repetir ao longo da vida. Então é importante a partir do diagnóstico fazer a busca ativa dos contatos sexuais daquela pessoa, pois, tratando as parcerias sexuais, evitará que a aquela pessoa pegue novamente a Sífilis.
Em Caratinga, como está disponível a questão do diagnóstico e tratamento?
Lembrando que os testes rápidos estão disponíveis aqui no SAE, situado à Rua Princesa Isabel, 180, centro e, futuramente, está em processo de descentralização, esses testes estarão disponíveis nos postos de saúde mais próximo da população. Estamos no processo de treinamento e capacitação dos envolvidos, médicos e enfermeiro. Assim que possível também estarão disponíveis nas unidades de saúde os tratamentos, fazendo tudo num lugar só. Hoje a injeção ainda é feita no pronto atendimento.