SÃO JOÃO DO JACUTINGA – O segundo semestre escolar começou. Mas, para alguns alunos, ainda não foi possível assistir a nenhum dia de aula. É o caso de boa parte dos alunos que saem de comunidades do entorno do distrito de São João do Jacutinga.
Para os pais de alunos, a situação já está insustentável. Por isso, eles decidiram se reunir na tarde de ontem, em busca de mobilizar as autoridades e chamar atenção para o problema no transporte escolar.
A Escola Estadual Mary Lucca Chagas, recentemente, se destacou com a melhor nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2014) do município de Caratinga entre as escolas públicas. O resultado anima a comunidade, mas, deixa a preocupação em relação à próxima edição do Exame. Muitos alunos podem ser prejudicados e, inclusive, a meta da escola, já que boa parte dos estudantes não têm condições de ir às aulas.
Para a diretora Flávia Maria de Souza, a situação tem prejudicado a frequência de alunos de cinco córregos. São 73 alunos que dependem do transporte escolar e outros 84 que utilizam uma Kombi. “Os pais estão aqui, todos que puderam, em busca de sensibilizar os responsáveis. O transporte pela Kombi retornou na semana passada, mas, já foi avisado que há previsão de pararem no dia 20 novamente, já que estariam há dois meses sem receber”.
Segundo a comunidade, a indignação é passar todos os dias e ver o ônibus no mesmo lugar. Está parado, ao lado do posto de saúde, desde o último dia 30 de junho. O motivo: uma peça quebrada. Com o problema do transporte, a escola que tem 260 alunos, conta com somente 103. Esse número pode ser reduzido ainda mais se considerado os alunos faltosos, já que a escola vazia não tem sido um ambiente motivador.
Flávia conta que já procurou a Prefeitura de Caratinga, Secretaria de Educação e Superintendência Regional de Ensino. Não houve nenhuma resposta. “Todos nos falam que não sabem o que fazer. E continuamos sem previsão nenhuma. Com muitos alunos faltando, os outros acabam desmotivados também, mas aulas estão acontecendo. E para os outros que estão perdendo aulas, nós vamos ter de procurar um jeito de fazer uma recuperação, eles não serão prejudicados”.
A professora de Português, Janalucy Gomes Araújo Rezende, reforça as dificuldades enfrentadas em sala de aula. Ela explica que o calendário escolar está sendo prejudicado. “Estamos com uma dificuldade imensa em dar aulas, desenvolver o nosso trabalho. Os alunos do transporte não fizeram as últimas provas. Já estamos trabalhando o terceiro bimestre, temos uma carga horária a ser cumprida. Teremos de repor essas aulas, pode ser que até mesmo em dia de sábado, mas, a pergunta é, será que haverá transporte para eles?”.
Segundo a professora, as aulas estão acontecendo com pouca demanda. Para se ter uma ideia, a média de frequência é de 12 alunos em uma sala de 26. “Não há nenhuma resposta e o que a escola precisa é disso, de uma resposta. Queremos que o responsável diga algo concreto, porque do jeito que está não podemos continuar. Nossa escola teve uma média tão boa no Enem, o próximo já está chegando. Temos alunos do terceiro ano para serem preparados e isso demanda tempo. Como vamos fazer?”.
PAIS PREOCUPADOS
Ronildo Afonso da Silva reside no Córrego da Biquinha. Ele tem um filho que estuda na segunda série. Com a falta de transporte, a criança fica em casa. “Ele depende do ônibus e até hoje nada. Dizem que vão buscar a peça em Valadares porque é mais barato, seria R$ 200 lá e R$ 400 em Caratinga. Procurei e a resposta foi de que não conseguiram ainda. E assim nossos meninos estão sendo prejudicados, desde antes das férias”.
Adevenil Cristino de Oliveira, morador do Córrego São Manoel, tem dois filhos, de 13 e 14 anos. Também impossibilitados de assistirem as aulas. “Fico indignado é de ver esse ônibus parado, parece enfeite. Toda vez que procuramos resposta, sempre jogam para frente. Fico triste de ver eles sem aula, preocupado. Eles sentem falta da aula. A mulher acorda cedo, prepara o café e coloca na mesa. Os meninos saem para o ponto e nada de ônibus. A gente fica perdendo tempo, porque falam que na semana seguinte vai voltar e nunca volta. Estamos com esperança que resolva logo”.
ESCOLA FECHADA
O problema de transporte escolar atinge ainda a Escola Municipal Antônio Martins Teixeira. Segundo pais de alunos, a escola está fechada por falta de alunos, já que há 15 dias o transporte escolar não circula.
De acordo com Eunice Lucas Fernandes, mãe de uma aluna de nove anos, as aulas estão sendo prejudicadas desde antes do período de férias. A família mora no Córrego dos Dias. “A Kombi estava com falta de freio, mesmo assim continuava passando. Depois, falaram que não podia andar mais, devido ao risco. Já tem 15 dias que deveriam ter voltado às aulas e eles não foram. Isso acontece direto, sempre tem algum problema na Kombi. Falam que vão tentar resolver e nada. Minha filha está com nove anos e mal consegue escrever o próprio nome. Se eles não se desenvolvem, culpam os pais. Mas, nós tentamos, queremos o melhor para os nossos filhos, mas diante de uma situação dessas, fica difícil”.
Outra mãe de aluno, que preferiu não se identificar, também chamou atenção para as condições de estudo na instituição de ensino. “Alunos do primeiro, segundo ano e pré na mesma escola. Como se desenvolver assim? São apenas duas professoras para todas as séries. Fica impossível aprender, cada série tem as suas necessidades”.
PREFEITURA DE CARATINGA
A Prefeitura de Caratinga já havia informado em nota, que o atraso dos repasses do convênio do transporte escolar com o Governo do Estado fez com que o município atrasasse o cumprimento dos pagamentos referentes aos prestadores de serviço do transporte Escolar. A Secretaria de Educação e a Secretaria Municipal de Planejamento e Fazenda iniciaram a regularização dos pagamentos na quarta (5) e quinta-feira (6). No entanto, a comunidade de São João do Jacutinga lamenta que o transporte tenha sido normalizado somente em outras localidades.
A Prefeitura de Caratinga reforçou o pedido de desculpas aos usuários do transporte escolar e lamentou quaisquer outros transtornos que possam ter surgido da falta deste serviço em algumas localidades. O município reafirma estar empenhado para garantir o rápido restabelecimento do transporte escolar, bem como o cumprimento de seus compromissos financeiros.
Com respeito aos demais veículos contratados, que atendem o transporte escolar rural, foi realizado um pagamento em atraso, por esse motivo todos os veículos estão cumprindo suas rotas.
“A Prefeitura de Caratinga, por meio da Secretaria Municipal de Educação, informa que o atraso na compra de material de manutenção para os veículos da educação deve-se ao processo de licitação, já em andamento. Contudo, informamos que amanhã, quarta-feira, o ônibus que atende São João do Jacutinga deverá voltar a sua normalidade”, diz a nota emitida na tarde de ontem.